Uma guerra milionária entre pai e filho

Porque haveriam de ficar pai e filho de costas voltadas? Arrependimento, falta de comunicação, ou dinheiro? Ernesto de Hannover e o seu primogénito, Ernesto Augusto Junior, encontram-se numa ação judicial que envolve uma fortuna de 350 milhões de euros. O pai acusa o filho de ‘ingratidão’, o filho desmente todas as alegações do pai. Estaremos…

O conflito entre Ernesto de Hannover, de 67 anos, e o seu primogénito, Ernesto Augusto Jr., de 38, já vai longo e, ao que parece, ainda há de percorrer um grande caminho – nele está envolvida uma fortuna de 350 milhões de euros e várias propriedades emblemáticas, como o famoso Castelo de Marienburg.

A audiência marcada para a passada quinta-feira, no Tribunal Regional de Hannover, que deveria ter recebido dois famosos membros da aristocracia alemã, não correu como se esperava – o Tribunal decidiu adiá-la para março do próximo ano, de acordo com as informações judiciais, pelo facto do advogado do Príncipe Ernesto Augusto de Hannover se ter demitido do mandato «sem pré-aviso», tendo o seu sucessor pedido adiamento da audiência.

Agora, o príncipe e o seu filho voltarão a encontrar-se a 22 de março de 2022, em Hannover, e um juiz terá de decidir quem dos dois possui a herança imobiliária ancestral da família aristocrática. 

Os motivos do processo judicial 

Mas porque é que um pai e um filho haveriam de ficar de costas voltadas? O ainda marido de Carolina de Mónaco enfrenta o filho mais velho na Justiça com o intuito de recuperar os bens dinásticos que ele lhe deu, acusando-o de «ingratidão» e de o ter «enganado» para obter a sua grande fortuna.

A feroz luta familiar começou em julho de 2017, quando Ernesto Augusto Jr. decidiu casar-se com Ekaterina Malysheva, uma estilista russa de 30 anos. Quando o casamento foi anunciado, o pai do atual chefe da Casa Güelfa anunciou que se opunha ao matrimónio e que iniciaria uma ação judicial para recuperar todos os presentes que havia dado ao seu filho primogénito em 2005, incluindo o castelo de Marienburg e dezenas de propriedades e terras espalhadas pela Alemanha e Áustria, como o Castelo de Calenberg e Palácio do Príncipe (Herrenhausen), onde Ernesto Jr. reside atualmente com a sua esposa e os três filhos.  

Nessa altura, chegou a afirmar que temia que, em caso de hipotético divórcio do filho, parte dos bens da Casa Güelfa permanecesse nas mãos de Ekaterina Malysheva e, ainda hoje, se recusa a reconhecer o seu neto mais velho como legítimo na linha de sucessão.

A quase venda de Marienburg por um euro 

Um ano depois, a guerra escalou quando o príncipe acusou o seu filho e herdeiro de ter cometido um ato de «grande ingratidão», ao ceder o Palácio de Marienburg pelo preço simbólico de um euro ao Federal Estado da Baixa Saxónia, Alemanha. O jovem admitiu que «já não tinha dinheiro para pagar as despesas de manutenção e renovação do castelo»:

«Foi uma decisão de grande importância para a minha família. Encontrámos uma boa solução que vai permitir que o palácio e o seu inventário sejam preservados para o público», admitiu ao anunciar a venda do palácio em meados de dezembro de 2018. Por sua vez, em carta enviada ao governo regional, Ernesto de Hannover, descreveu a venda como «ilegal e indigna», pedindo devolução imediata do palácio «para evitar que a mansão passasse às mãos de plebeus que, após longas negociações, prometeram investir na sua restauração em valores entre os 30 e 50 milhões e abrir as suas portas a eventos culturais para torná-la uma grande atração turística».

Isso acabou por paralisar as negociações que o seu filho já havia realizado com as autoridades nos últimos sete anos e culminou na decisão do governo de suspender a transferência da residência ancestral da família. 

Além disso, o pai acusa ainda o filho de se apropriar de obras de arte do património familiar da Biblioteca do Duque Augusto em Wolfenbüttel e do Museu de História de Hannover, incluindo pinturas, carruagens históricas e esculturas, exigindo também o pagamento de cinco milhões de euros.

Por sua vez, Ernesto Augusto Jr. qualifica as alegações contidas na ação como falsas. «Todos os argumentos já foram refutados fora dos tribunais no passado. Neste contexto, estou tranquilo em relação ao litígio judicial», frisou o filho.