Benfica-Kiev. Quem estava no estádio não deu pelos confrontos

Francisco Mendes, de 23 anos, estava a trabalhar nos bares do estádio e só teve conhecimento do sucedido quando acabou o turno. “Reparei que havia muito mais segurança”.

Os 54 “alegados adeptos” do Dínamo Kiev detidos antes do jogo da Liga dos Campeões entre o clube ucraniano e o Benfica foram libertados esta quinta-feira estando sujeitos a Termo de Identidade e Residência (TIR). Por causa dos confrontos, 28 adeptos ucranianos e dois portugueses, assim como um elemento da PSP, tiveram de ser assistidos no Hospital Santa Maria, em Lisboa.

No entanto, a situação não foi facilmente percecionada por quem estava no estádio e, muito menos, notada durante a partida. Quem esteve atento às redes sociais, mesmo que longe do Estádio da Luz, teve um conhecimento mais rápido dos desacatos. “Entrei às 16h no estádio, saí às 23h e não soube de nada durante esse tempo”, começa por explicar Francisco Mendes, de 23 anos, que estava a trabalhar nos bares que integram o espaço de apoio aos eventos que decorrem no estádio, lembrando que tanto ele como os colegas não ouviram comentários por parte dos adeptos que adquiriram alimentos e bebidas.

“Quando estava a entrar, reparei que havia muito mais segurança. Mais do que no dérbi Benfica-Sporting. mas associei isso ao facto de ser um jogo da Champions e, consequentemente, haver multas mais pesadas”, indica o estudante universitário. “Portanto, na minha zona esteve sempre tudo tranquilo”, recorda, frisando que “os adeptos estavam muito animados e não revelaram saber nada sobre esta confusão”.

“Fiquei surpreendido com o número de detidos” “Houve uma situação antes do jogo, pelas 19h30, no exterior do estádio, uma situação de desordem entre adeptos do Benfica e do Dínamo Kiev onde houve necessidade de a polícia se deslocar ao local e fazer cessar esses mesmos confrontos”, explicou no final do encontro Laura Bicheiro, subcomissária da PSP. “Temos a registar 54 detenções, sendo que 12 dos detidos foram assistidos pelo INEM e transportados a unidades hospitalares. Ainda não conseguimos precisar as nacionalidades dos adeptos”, afirmou. É relevante mencionar que no primeiro vídeo que começou a circular, nas redes sociais, via-se um número elevado de tochas acesas na zona por debaixo do viaduto da Avenida Lusíada e, mais tarde, na zona do Alto dos Moinhos, ouvindo-se gritos.

Francisco não fica surpreendido. “Quem vai ao estádio várias vezes já está habituado a que haja estes problemas. Normalmente, em jogos de alto risco ou contra equipas de fora com adeptos mais conflituosos… Agora, tenho de admitir que fiquei surpreendido com o número de detidos”, assume, adiantando que, na área onde estava a trabalhar, exclusiva para adeptos do Benfica, os elementos da PSP não pareciam estar especialmente atarefados.

Ainda antes destes confrontos, também no Alto dos Moinhos foram registados três feridos. Esta situação foi igualmente confirmada por Laura Bicheiro. “Não conseguimos apurar ainda a causa dos ferimentos mas acreditamos que tenham sido dos confrontos. São situações de dificuldades respiratórias e pequenos traumas. (…) As duas situações foram separadas, registámos antes do jogo uma situação com três adeptos feridos, mas esta foi diferente e não conseguimos apurar o que se passou. Foram efetuados 17 disparos para o ar mas cumprimos e conseguimos cessar todos os confrontos”, declarou.

Já ontem, em comunicado enviado aos órgãos de informação, a PSP divulgou que “do que foi verificado, houve comportamentos que indiciam que o encontro entre os diferentes grupos tenha sido previamente combinado”.