A campanha que não vai haver

Depois da covid já nada é o que era porque a vida em sociedade mudou dramaticamente. A nossa mentalidade mudou e adaptou-se, as antigas campanhas parecem agora excessivas, dramáticas, inadequadas. Não há bombos nem fanfarras, há noticias e campanha na net e debates na TV.

Correndo o risco de ter razão antes do tempo que é uma forma de não ter razão, eu diria que não vai haver campanha eleitoral para as eleições legislativas. Ou melhor, vai ser uma campanha pós-covid, bastante semelhante à campanha presidencial de janeiro do ano passado.

Se com a Assembleia da República a funcionar normalmente, já havia a ‘moratória’ de natal, uma espécie de férias da política, que ia de 20 de dezembro ao dia de reis, agora, por maioria de razão, com a Assembleia dissolvida, e com a ameaça da pandemia e de um confinamento ainda que soft, esse período tende até a ser maior.

Em janeiro, em teletrabalho e com as crianças em casa, os portugueses ligaram as tvs para ver os debates entre António Costa, Rui Rio e os restantes líderes partidários. Foi assim no ano passado aquando das eleições presidenciais e se, ainda inexperientes nestas lides, pensámos que a abstenção seria ainda maior, tal não se verificou. Os portugueses viram os debates, compareceram à chamada e votaram. É certo que não houve a tradicional campanha, mas a tradição já não é o que era.

Depois da covid já nada é o que era porque a vida em sociedade mudou dramaticamente. A nossa mentalidade mudou e adaptou-se, as antigas campanhas parecem agora excessivas, dramáticas, inadequadas. Não há bombos nem fanfarras, há noticias e campanha na net e debates na TV.

O nosso país tem problemas dramáticos que ninguém ignora: o empobrecimento, a dívida, os deficientes serviços públicos sub-financiados, o envelhecimento da população, a corrupção, no entanto ninguém está a pensar que eles se vão resolver com promessas mágicas feitas em período eleitoral.

As soluções simplistas de Chega («é tudo corrupção»), do Bloco de Esquerda («tudo tem de ser do Estado») ou do PCP («a culpa é dos patrões») não colhem e os portugueses (envelhecidos, reformados, pensionistas e/ou a viver das transferências do Estado) não vão na cantiga.

Sem surpresa, Primeiro-ministro será António Costa ou Rui Rio a quem os portugueses pedem, sem ilusões, que não estraguem nem deixem isto pior do que já está. Dito assim, parece que nada mudou, sobretudo no caso de ser Costa a vencer. Assim não é contudo: estas eleições vão ser a certidão de óbito da ‘geringonça,‘ de alguns partidos políticos e de algumas lideranças. Vão marcar igualmente o regresso da governação de um só partido sem maioria absoluta e aos governos de curta duração. 

Quando a pandemia passar de vez, mais o seu cortejo de medo e privações, o povo português vai querer outra coisas, outro entusiasmo, outro sonho, outra esperança, mas até lá, não quer invenções.