Sete militares filmam-se a torturar imigrantes em Odemira. Três são reincidentes

GNR revela que as agressões foram reportadas ao Ministério Público. Três dos agentes do Destacamento Territorial de Odemira são reincidentes.

Sete militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) filmaram-se a agredir e a humilhar imigrantes em Odemira. Estão acusados de 33 crimes de maus-tratos, revela uma investigação da TVI/CNN Portugal.

As vítimas – imigrantes provenientes do sul da Ásia, principalmente do Bangladesh, Nepal e Paquistão – eram escolhidas na rua para diversão dos militares, através de falsas operações STOP e de fiscalização de trânsito.

Numa das filmagens é possível ver um dos imigrantes a ser torturado com gás pimenta. Após uma emboscada, durante a noite, os militares da GNR de Vila Nova de Mil Fontes levaram a vítima para um descampado e obrigaram-na a inalar gás pimenta pela boca e pelo nariz através do tubo do aparelho de medição de taxa de alcoolemia. Perante os pedidos de ajuda da vítima, que pedia água em inglês, os militares riam-se e proferiam insultos.

Na ótica do Ministério Público, os militares “faziam-no em manifesto uso excessivo de poder de autoridade que o cargo de militar lhes confere”. “Ódio claramente dirigido às nacionalidades que [as vítimas] tinham e apenas por tal facto e por saberem que, por tal circunstância, eram alvos fáceis”, lê-se no despacho de acusação, citado pela TVI/CNN Portugal.

O Ministério da Administração Interna (MAI) afirmou, na quinta-feira, que um dos militares envolvidos já foi demitido que os restantes seis estão suspensos de funções.

Já a GNR esclarece que existe “um processo inicial que data de 2018 e que é denunciado pela própria Guarda”, no qual “os factos dizem respeito a cinco militares do Destacamento Territorial de Odemira, envolvidos em agressões a indivíduos indostânicos”.

“No âmbito das suas competências, a Guarda quando tomou conhecimento dos factos, prontamente reportou-os ao Ministério Público, através de auto de notícia”, lê-se.

Mais se indica que “foi ainda instaurado processo de inquérito, por parte da Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI), no sentido de apurar as circunstâncias e a conduta dos militares da Guarda e aplicação de medidas sancionatórias”.

Durante as diligências da investigação, foram apurados “factos que consubstanciam a existência de outros crimes, pelo que foi extraída certidão pelo Ministério Público, que deu origem a um novo processo-crime e a um outro Processo de inquérito por parte da IGAI”.

No segundo processo, estão envolvidos sete militares do Destacamento Territorial de Odemira, três dos quais são reincidentes. “Este é o processo que relata a investigação CNN e remonta a 2019”, explica a força de segurança.

Dos militares reincidentes, dois estão a cumprir pena de suspensão decretada pelo MAI, enquanto os restantes cinco “aguardam medidas sancionatórias, que são da responsabilidade de atribuição pela IGAI, entidade que tutela o processo de inquérito que ainda decorre".

"Nos últimos três anos, 28 militares foram objeto de medidas expulsivas da Guarda, o que revela o rigor e a transparência aplicados, perante os comportamentos desviantes que possam colocar em causa os valores e os princípios da Instituição", acrescenta, sublinhando que “os militares que servem e que já serviram a Instituição não se reveem na conduta e nos comportamentos desviantes evidenciados, razão pela qual denunciou prontamente a situação, criminalmente e disciplinarmente, sendo que caberá ao Ministério Público e à IGAI as decisões sancionatórias dos comportamentos descritos”.

"A Guarda reafirma o seu compromisso de tolerância zero às diferentes formas de discriminação e desigualdades, sejam elas através do género, idade, orientação sexual, deficiência, raça, etnia, saúde, religião, nacionalidade, situação económica ou estrato social, pautando a sua atuação diária pela primazia da segurança e da salvaguarda de todo e qualquer cidadão", frisa a autoridade.