Primeiro Portugal

Os partidos têm vivido obcecados pelo voto, não conseguindo ter a serenidade de cooperar entre si, não tendo nada para apresentar como moeda de troca, limitando-se, até agora, a um jogo de forças que se tem revelado estéril. 

Por José Miguel Bettencourt, Jurista

O PSD, enquanto partido cimeiro da política portuguesa, tem a obrigação de se apresentar às próximas eleições legislativas com propostas capazes de darem esperança e um novo rumo para Portugal. Tem de saber despertar dentro de si um ímpeto agregador, capaz de trazer uma nova luz a todos aqueles que não se reveem no partido que nos tem governado. 

Deve apresentar-se com um discurso mobilizador, que galvanize os portugueses, em particular os jovens e os menos jovens que estão indecisos, aqueles que deixaram de acreditar no poder do voto, enquanto agente de mudança. É sobre este pensamento que devem centrar-se todas as energias neste exato momento. Tem de revelar-se uma visão estrutural para Portugal, que tenha metas e horizontes amplos, bem delineados, com uma agenda credível, que se oponha a uma estratégia de curto alcance ou que implique a oferta de uma governação para o imediato.  

A classe política não pode permanecer indiferente à necessidade de convergência em áreas que carecem de mudança, reorganização ou reestruturação, matérias em que devem prevalecer os superiores interesses de Portugal. 

Em política, ceder não significa sempre perder, mas adaptarmo-nos inteligentemente às circunstâncias, fazendo as mudanças necessárias, para se alcançarem vitórias pela resolução dos problemas e pela melhoria substancial do bem-estar da comunidade. 

Os partidos têm vivido obcecados pelo voto, não conseguindo ter a serenidade de cooperar entre si, não tendo nada para apresentar como moeda de troca, limitando-se, até agora, a um jogo de forças que se tem revelado estéril. 

Quando existe um impasse político, este deve ser rapidamente resolvido. O país não pode permanecer muito tempo na indefinição, porque isso tem um preço elevado e é prejudicial ao desenvolvimento da sociedade.

Quando se começam a esgotar as energias de um governo, a máquina que gira à sua volta tenta sempre contrariar essa exaustão, prolongando o ciclo, levando a que o país fique sujeito a um impasse que pode prolongar-se na viragem do tempo. É com esse impasse que já estamos confrontados, perante o dissolvido Governo de António Costa. Vislumbram-se aqui semelhanças com o que aconteceu com o governo de José Sócrates, em 2011. É aqui que a ideia de estabilidade política precisa de se articular com a de mudança, para se poderem enfrentar, com determinação, as diversas adversidades que se avizinham.

Daqui até às eleições legislativas existem seis curtas semanas. Por isso, a mensagem partidária tem de ser clara e inequívoca, apelativa, sem ziguezagues para poder ser compreendida pelos cidadãos, numa luta contra o tempo.

Se o PSD não souber corresponder aos anseios dos eleitores em janeiro próximo, o custo poderá ser danoso para a reafirmação desse partido. Por um lado, terá de dar resposta aos mais moderados, ao centro do espectro político, mas também deverá ir ao encontro daqueles que não se reveem no sistema político atual e que querem as desejadas mudanças, tem de saber cativar ainda os que se sentem dececionados, que procuram abrigo nas franjas do sistema e caiem no extremismo político, por desilusão. Para vencer, urge, pois, criar-se uma dinâmica ganhadora, sendo essencial que a ideia de alternativa democrática se imponha e seja evidente aos olhos dos eleitores.

O PSD e o seu Presidente sabem que primeiro está Portugal e que, desta vez, terá de ser para ganhar.