O Congresso de Rio sem muitas ondas

Rui Rio vai ao Congresso ‘repetir o onze’ que lhe deu a vitórias na diretas. Da direção sai Morais Sarmento, que concorre ao CNJ. Há 8 listas ao CN, três das quais afetas ao líder.

Rui Rio vai a jogo na Feira com os mesmos homens de sempre. Em fim de semana de Congresso – que começou ontem à noite e termina amanhã -, o PSD reelegerá praticamente a mesma Comissão Política Nacional (CPN): além de Nuno Morais Sarmento, que concorrerá ao Conselho Nacional de Jurisdição, não se esperam grandes mudanças na direção do partido. O líder reeleito quis manter as águas calmas e fomentar a unidade, estabilizando a equipa que conduziu à vitória nas diretas internas de novembro.

Tendo vencido em ‘casa’, Rio quer, agora, a vitória na rua: nas legislativas – e eis outro motivo que o terá levado a não mexer muito na sua Comissão Política. Além do líder do PSD querer recompensar quem o acompanhou – reconduzindo-os -, acredita que, dada a proximidade das eleições, não deverá perder mais tempo com a gestão de sensibilidades internas. Sendo atípico um Congresso em véspera de eleições, espera-se que um líder esteja mais preocupado com estas do que com a recomposição dos órgãos do partido. Até porque o tempo escasseia e não dá para tudo. E Rio, sabendo que se aproxima uma maratona de debates, programas e campanha eleitoral, optou por se concentrar nestes últimos.

Quanto à CPN, nomes como Salvador Malheiro, André Coelho Lima, Isabel Meireles, Isaura Morais ou David Justino vão manter-se como vice-presidentes. Nuno Morais Sarmento – que nas diretas optou pela neutralidade – sairá da direção e representará, contra Paulo Colaço, a ala rioista na corrida ao Conselho Nacional de Jurisdição (CNJ). Uma disputa que deverá ditar uma derrota para Sarmento, já que o atual presidente do CNJ, apesar de ter entrado em rota de colisão com Rio, é claramente favorito. Ou seja, no final das contas, Rio deixa cair Morais Sarmento, o vice-presidente que o abandonou num momento crítico da peleja interna.

Relativamente ao Conselho Nacional, espécie de Parlamento interno e órgão máximo entre Congressos, são oito as listas concorrentes. A lista de Rio será encabeçada pelo histórico Pedro Roseta, sendo que haverá ainda listas de Pedro Calado (que representa a ala montenegrista), Miguel Pinto Luz, Carlos Eduardo Reis, Lina Lopes, Catarina Rocha Ferreira, Duarte Marques e Joaquim Biancard da Cruz, além da dos Trabalhadores Sociais Democratas. Para a mesa do Congresso Rio volta a apostar em Paulo Mota Pinto. Apesar do falatório quanto à possibilidade de Matos Rosa e outros nomes avançarem a este órgão, Mota Pinto deverá vencer sem contestação. Ao que o Nascer do SOL apurou, Matos Rosa, antigo secretário-geral do partido, desistiu quando percebeu que não tinha quaisquer hipóteses de vitória.

José Silvano manter-se-á como secretário-geral do partido e Rui Morais, economista, vice-presidente do PSD de Braga e presidente da empresa intermunicipal Braval, será o candidato de Rio à presidência da Comissão Nacional de Auditoria Financeira.

A máquina rangelista ‘pifou’

Se houve momento em que ficou provada a importância do Conselho Nacional foi na recente disputa entre Rangel e Rio. Rangel, embora não fosse líder, conseguiu reunir maioria no Conselho Nacional e fazer valer as suas vontades. A história acabou por não jogar a seu favor. Todavia, um ponto ficou provado: ter o controlo do Conselho Nacional – poder puxar datas para cima ou para baixo, entre outras coisas – pode influenciar as contas finais.

Rio sabe da importância deste órgão e por isso decidiu convidar um ‘peso-pesado’ na história do partido: Pedro Roseta – ministro da Cultura do XV Governo Constitucional, presidente do Grupo Parlamentar do PSD durante o Governo da Aliança Democrática e deputado na Assembleia Constituinte e nas I, II, V a IX Legislaturas. 

Também Pedro Calado, presidente da Câmara do Funchal, está ciente da importância do órgão e, por isso, decidiu encabeçar uma lista. Que conta com o apadrinhamento de Luís Montenegro – primeiro subscritor – e, consequentemente, com todos aqueles sociais-democratas que lhe são afetos: Pedro Alves (líder da distrital de Viseu), João Granja (Braga), Rui Rocha (distrital de Leiria), Sérgio Humberto (presidente da Câmara da Trofa), Rui Ventura (vice-presidente da distrital da Guarda), Rodrigo Gonçalves (vice-presidente da distrital de Lisboa) e Paulo Cavaleiro (Aveiro). Uma lista que integra vários apoiantes de Paulo Rangel. Isto porque o antigo candidato a líder, apesar de presente em Santa Maria da Feira, rejeitou colaborar ou «contribuir para a criação de listas alternativas». 

Nem todos os rangelistas se abrigarão sob o guarda-chuva montenegrista.

Miguel Pinto Luz, que se candidatou ao partido contra Rio e Montenegro em janeiro de 2020 e só não se candidatou em 2021 porque fundiu a sua candidatura com a de Paulo Rangel – tornando-se seu número dois -, também irá apresentar uma lista ao Conselho Nacional, de forma a fazer honra à «diversidade que é o PSD». Em entrevista à TSF, Pinto Luz defendeu ser «saudável» que o Conselho Nacional seja disputado por «várias listas e vários protagonistas que possam, de alguma forma, espelhar essa diversidade que é o PSD». 

Carlos Reis volta a concorrer e reforça correntes de Rio

Carlos Eduardo Reis, figura em grande ascensão no rioismo, irá, também, apresentar uma lista ao Conselho Nacional.

Reis já tem por hábito fazê-lo, tendo, inclusive, em 2019, tido um papel crucial ao juntar os votos dos seus conselheiros aos dos apoiantes de Rui Rio, contra o que na altura se chamou de tentativa de golpe palaciano de Luís Montenegro.

Agora, e dada esta sua ascensão no partido, chegou a ser aventada a hipótese de o barcelense ser ‘promovido’ à direção de Rui Rio. O Nascer do SOL apurou que tal não acontecerá. Estrategicamente, acertando com o líder a ida para o Conselho Nacional, Reis continuará a ter uma posição determinante e influente no aparelho partidário de suporte a Rui Rio.

A mesma leitura poderá ser igualmente feita para as listas encabeçadas por Lina Lopes ou por Catarina Rocha Ferreira – a primeira sexta nas listas por Lisboa e a segunda quarta nas listas pelo Porto.

Nota ainda para a lista apresentada por Duarte Marques e Joaquim Biancard da Cruz e para a dos Trabalhadores Sociais Democratas. No Congresso passado apresentaram-se dez listas concorrentes ao Conselho Nacional. Neste serão oito. 

Ex-líderes primam pela ausência 

Um dos factos mais relevantes em vésperas de eleições legislativas é que os ex-líderes do partido primam pela ausência deste Congresso. Com efeito, Pedro Passos Coelho, Manuela Ferreira Leite, Luís Filipe Menezes ou Luís Marques Mendes não irão estar na reunião dos sociais-democratas que entronizará Rui Rio como candidato a primeiro-ministro.

E no lote de ‘notáveis’ ausentes neste Congresso chegou a integrar o nome do novo presidente da Câmara de Lisboa. Mas, afinal, Carlos Moedas, que almoçou com Rangel nas vésperas das diretas, vai mesmo estar com Rio na Feira.