PJ e GNR de costas voltadas dão trunfos aos outros

A pergunta que faço é tão simples como isto: vivemos nalguma República das Bananas em que uma força investiga a entrada da refeição e a outra o prato principal?

A história do assalto à casa de Otamendi revela bem a colaboração entre as forças policiais portuguesas. O jogador do Benfica foi sequestrado perto da uma da manhã, na noite de domingo para segunda-feira. O jogador, em pânico, fez as primeiras declarações a um segurança do condomínio antes da chegada da GNR. Os militares ouviram oficialmente o jogador, consultaram as imagens caseiras do craque e foram à sua vida. Pela manhã, chegou a Polícia Judiciária, que terá ouvido o jogador e visto as mesmas imagens, tendo os inspetores seguido a sua vida. Horas depois, por volta das 20 horas, a GNR, convencida de que os assaltantes estão na zona de Porto Brandão, sem tempo a perder, avança para o local. Como os presumíveis assaltantes conseguiram fugir, a GNR andou algum tempo à procura de algum rasto. Como não conseguiu, os militares voltaram aos seus destacamentos: Charneca da Caparica, Almada e Trafaria.

Na terça-feira, o jornal i deu conta desta perseguição e às 16 horas desse dia, finalmente, chegou à PJ a comunicação de que a GNR teria encontrado um Mercedes branco que estaria na Herdade da Aroeira no dia do assalto a Otamendi. Mais uma vez, as duas forças não se encontraram cara-a-cara e cada uma seguiu para seu lado. Acontece que a GNR sabia que havia mais imagens da zona e procurou obtê-las, até porque muitos moradores têm sistemas de vidiovigilância. Já a PJ continuava a navegar à vista, confiando que a GNR estava a investigar o roubo e que a eles lhes competia apurarem as razões do sequestro. 

A pergunta que faço é tão simples como isto: vivemos nalguma República das Bananas em que uma força investiga a entrada da refeição e a outra o prato principal?

Se o ridículo matasse, alguém já tinha sido enterrado. 

Concluindo: só na quinta-feira é que a PJ tomou conta de todo o processo, apesar de a GNR ainda não ter desistido de contribuir para o desfecho final da história. 

Parece uma conversa de malucos, mas é assim mesmo.

Mas há um outro aspeto que também me faz confusão a mim, que ando há muitos anos a seguir histórias policiais. Por que razão os assaltantes, muito fortes fisicamente e que falavam espanhol e russo, escolheram a casa de Otamendi, quando na zona vivem muitos mais jogadores, além de empresários de sucesso que ganham muito mais do que o argentino? Qual a razão para não ter havido um trabalho de equipa a verificarem todas as ligações do jogador e respetiva família com potenciais informadores dos assaltantes? Ou será que os mesmos são parentes de algum bruxo ou bruxa e descobriram que o jogador teria 300 mil euros em dinheiro em casa?

E por que razão se fala que um dos assaltantes  terá mostrado a cara, e a PJ continua a afirmar que é mentira?

Será que a PJ ainda não teve acesso a todas as filmagens das redondezas?

Será que já foram ouvidos todas as pessoas que conhecem a casa de Otamentdi, no que diz respeito a funcionários? E quais são as rotinas da família que possam dar indicações às forças de segurança?

Certo é que este caso veio demonstrar, mais uma vez, como falta colaboração entre as polícias. A GNR, que está no terreno, devia ter sido a primeira a querer colaborar com a PJ que, supostamente, está muito mais preparada para o efeito. Mas também a PJ devia ter feito muito mais diligências sem ter que esperar pela notícia do i.

vitor.rainho@sol.pt