Braço de ferro de dois pilotos na Fórmula 1

Tudo começou quando Lewis Hamilton, um dos maiores pilotos de sempre da Fórmula 1, chocou com o jovem prodígio Max Verstappen. A nova rivalidade é uma das mais entusiasmantes na história recente da modalidade.

Apesar dos sorrisos no pódio de Abu Dhabi, onde o holandês Max Verstappen se sagrou pela primeira vez campeão do Grande Prémio da Fórmula 1, nos Emirados Árabes Unidos, a polémica é enorme. O derrotado, o inglês Lewis Hamilton, congratulou o novo vencedor, enquanto o seu pai distribuía abraços por Verstappen e respetivo progenitor, num momento de grande fair-play e classe. Mas este «final feliz» não ilustra o percurso conturbado que ambos fizeram lado a lado na presente temporada.

Apesar da poeira ainda mal ter  assentado, a corrida que valeu o título do piloto holandês de 24 anos está a gerar uma grande controvérsia, com um safety car no meio de toda a confusão. 

Segundo a equipa da Mercedes, representada por Hamilton, Verstappen terá quebrado o Regulamento Desportivo da Federação Internacional do Automóvel (FIA), uma vez que, alegadamente, terá ultrapassado o carro do inglês quando este estava em situação de safety car, o que impede ultrapassagens, mas, também, a ordem contraditória da direção de corrida sobre o que fazer com os pilotos dobrados.

Inicialmente, a mensagem era para não se alterarem as posições em pista para, depois, dar ordem aos pilotos dobrados para recuperarem a volta de atraso face ao líder e permitir, assim, que Lewis Hamilton e Max Verstappen se reagrupassem em pista a uma volta do final da prova.

Esta situação levou a Mercedes a contestar a classificação do Grande Prémio de Abu Dhabi de Fórmula 1, cuja vitória deu o título a Verstappen e à Red Bull, apresentando queixa sobre estas duas situações.

A corrida em Abu Dhabi era determinante para o título. Depois de terminar em segundo durante a qualificação, Hamilton assumiu a liderança no circuito Yas Marina, conseguindo igualar os pontos de Verstappen, apenas a segunda vez que isto aconteceu na história da Formula 1, e esteve perto de consumar a vitória nesta última etapa. 
Contudo, depois de um acidente do canadiano Nicholas Latifi, a seis voltas do final, entrou em ação o safety car que permitiu a Verstappen uma nova oportunidade para superar Hamilton.

O holandês, que tinha trocado para uns pneus macios, em oposição aos do inglês, que usava pneus duros e desgastados, conseguiu ultrapassar o rival e sagrar-se vencedor. 

No final da corrida de domingo, o diretor da Red Bull Racing, Christian Horner, agradeceu a Latifi. «Precisávamos de algo dos deuses da corrida nas últimas 10 voltas. (…) Obrigada Nicholas Latifi pelo safety car» – e prometeu ao piloto «um stock vitalício de Red Bull». 

Ainda antes da corrida ter terminado, assim que se apercebeu que não ia vencer o Grande Prémio e conseguir o recorde de títulos mundiais, que detém em conjunto com Michael Schumacher, Hamilton desabafou ao engenheiro da Mercedes, Peter Bonnington: «Isto foi manipulado, pá». Uma mensagem rádio que acabou por ser tornada pública.
Entre a cortesia no pódio, as alegações de manipulação e as queixas, tudo isto são os mais recentes episódios desta nova rivalidade sobre quatro rodas.

A derrota no hospital e a ajuda divina
Um dos maiores destaques da presente temporada da Fórmula 1 foi a rivalidade entre os dois melhores pilotos do Grande Prémio, Max Verstappen e Lewis Hamilton. Na origem da picardia entre ambos estão os três choques que foram ocorrendo ao longo dos últimos meses. 

Um dos primeiros ocorreu no Grande Prémio da Grã-Bretanha, antes da pausa de agosto, quando Hamilton fez o holandês «voar» contra uma parede de pneus. Apesar de uma penalidade de 10 segundos, o inglês acabou por vencer essa mesma corrida. 

Após a disputa, Verstappen denunciou a forma como o rival celebrava a vitória enquanto estava a ser assistido num hospital. 

Mais tarde, numa corrida em Monza, em Itália, foi a vez de Verstappen chocar contra o carro de Hamilton, enquanto o tentava ultrapassar, e viu o seu carro da Red Bull a passar por cima do carro da Mercedes.

O inglês contou com uma ajuda «divina», com a halo, um sistema de proteção dos carros, palavra com conotações religiosas, uma vez que também é um termo utilizado para referir a auréola dos anjos, a salvar a vida do piloto. 
«Graças a Deus pela halo, acho que, no fundo, salvou a minha vida e o meu pescoço», disse na altura Hamilton, enquanto Verstappen acabou por ser punido, descendo três lugares na corrida seguinte.

A última colisão, e também a mais bizarra, entre os condutores ocorreu no Grande Prémio da Arábia Saudita, uma semana antes da corrida que decidiu o título.

Verstappen foi instruído a deixar Hamilton passar à frente e terá abrandando bruscamente, levando o britânico a bater na asa traseira do monolugar da Red Bull. O holandês acabou por ser penalizado em 10 segundos.

Estas quezílias entre os condutores foram muitas vezes reportadas pelos jornalistas, com Hamilton a acusar o seu rival de «correr sob o limite» e confessar que as regras da Fórmula 1 não se aplicam a ele.

Para além dos condutores, os seus patrões Toto Wolff (Mercedes) e Christian Horner (Red Bull) também não partilham a mais saudável das relações, com ambos a trocar recorrentemente insultos. Wolff, no ano passado, acusou Horner de ser um «fala barato», e, este ano, o chefe da equipa da Red Bull disse que o seu rival lhe fazia lembrar «um vilão».

No entanto, depois de toda a tensão, Verstappen, um dia após a sua vitória, abordou durante uma entrevista a rivalidade entre ambos ao longo do campeonato e demonstrou o seu respeito perante um dos pilotos mais bem sucedidos de sempre. 

«Poderia ter acontecido de outra forma. Nós tivemos uma temporada incrível, sempre a empurrar-nos até ao limite», comentou o novo campeão do mundo em entrevista ao site holandês RacingNews365, admitindo que sentiu tristeza por ver o adversário perder o título da forma que perdeu. 

«Claro, fiquei sentido pelo Lewis. Ele fez tudo bem durante a corrida inteira, mas a Fórmula 1 pode ser muito imprevisível. Poderia ter sido ao contrário também, comigo a controlar a corrida e depois perder na última volta», explicou, revelando ainda que espera ter deixado o rival «motivado» e com muita sede de novos títulos depois do final do campeonato de 2021.

Mas Verstappen, por enquanto, vai ter de aguardar. A Fórmula 1 vai entrar de férias e só regressa em março de 2022. 
O primeiro evento da próxima temporada vai ser Grande Prémio no Bahrein e o final vai acontecer novamente em Abu Dhabi. 

Para os fãs de Formula 1 portugueses temos más notícias, uma vez que, a contrário dos últimos dois campeonatos, a pista de Portimão vai deixar de fazer parte do itinerário da competição.