IEFP. Desemprego registado cai pelo 8.º mês consecutivo

Número de desempregados inscritos nos centros de emprego recuou 13,2% em novembro. Menos desempregados e aumento da procura por parte das empresas está a criar uma verdadeira problema de falta de mão-de-obra.

O número de desempregados inscritos nos centros de emprego continua a cair, registando a oitava descida mensal consecutiva, o que não acontecia desde 2003. A taxa recuou 13,2% em novembro, em termos homólogos, e 1,6% face a outubro, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

O número de desempregados inscritos em novembro representa 65,6% de um total de 527 423 pedidos de emprego. Já o total de desempregados registados no país ficou abaixo do verificado no mesmo mês de 2020 (-44 443 pessoas, o que representa uma quebra de 7,8%) e foi também inferior ao mês anterior (-4630 desempregados, uma redução de -0,9%).

De acordo com os mesmos dados, para esta redução na variação absoluta, “contribuíram, com destaque, os grupos dos indivíduos que estão inscritos há menos de um ano (-75648), os que procuram novo emprego (-50785) e aqueles com idade igual ou superior a 25 anos (-40833).

A nível regional verificou-se uma queda em todas as regiões, com destaque para o Algarve (-23,4%) e para a Madeira (-23,9%). Em relação ao mês anterior, à exceção dos Açores e do Algarve (+0,7% e +28,5%, respetivamente), todas as restantes regiões apresentam decréscimos no desemprego.

Quanto à atividade económica, dos 293346 desempregados que estavam inscritos como candidatos a novo emprego cerca de 73,2% tinham trabalhado em atividades do setor dos serviços, com destaque para as atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (que representam 30,2% do total). Daquele grupo, 19,6% eram provenientes do setor secundário, com relevo para a construção (6,1%), e 4,2% pertenciam ao setor agrícola.

O IEFP observou ainda que o desemprego diminuiu, face ao mesmo mês de 2020, em todos os grandes setores: no agrícola (-11,6%), no secundário (-17%) e no terciário (-12,7%).

Ainda assim, a desagregação por atividade económica permitiu observar que todas registaram descidas homólogas, sendo as variações mais significativas registadas, por ordem decrescente, na indústria do couro e dos produtos do couro (-28,8%), alojamento, restauração e similares (-24,8%), fabrico do equipamento informático, elétrico, máquinas e equipamentos (-21,7%), fabricação de têxteis” (-21%) e indústria do vestuário (-20,8%).

Problema de mão-de-obra

O aumento da procura e a taxa de desemprego baixa estão a criar uma verdadeira dor de cabeça aos empresários portugueses, que enfrentam sérios problemas de falta de mão-de-obra. nos mais variados setores. Esse cenário foi reconhecido pelos economistas ao Nascer do SOL.

Para João César das Neves, “o problema tem solução fácil, se ele realmente ocupar as autoridades”, no entanto, lembra que “esse é mais um dos problemas esquecidos numa governação demasiado centrada na gestão de curto prazo e a satisfação de interesses instalados, esquecendo os grandes problemas de fundo do país”. E foi mais longe: “O crescimento da economia há muito que deixou de ocupar a agenda dos nossos dirigentes, os quais se ocupam a colocar-lhe entraves, em nome de outros excelentes objetivos. Assim não admira que ele há anos que não seja significativo”. 

Já Luís Mira Amaral garantiu ao nosso jornal que esse entrave já existia antes da covid. “Sou consultor e as empresas já me falavam desse problema: ‘Temos produto, preço, mercado, tecnologia, só não temos é mão-de-obra’”, acrescentando que o problema que se está a verificar diz respeito não só à falta de mão-de-obra qualificada, mas também à  não qualificada. “É um problema dramático que condiciona o nosso crescimento económico e que tem de ser resolvido com alguma imigração qualificada e seletiva”, lembrando que, muitos portugueses têm pouca vontade de trabalhar porque contam com os apoios governamentais. 

Opinião contrária tem Nuno Teles ao garantir que o problema da falta de mão-de-obra está longe de se manifestar de forma transversal na economia. “Estamos ainda muito longe do pleno emprego. O que existe, devido aos ritmos de recuperação assimétricos e mudanças de hábitos de consumo nacionais e internacionais, são certas empresas e em certos setores, normalmente aqueles com salários mais baixos e piores condições de trabalho, a sentir eventuais dificuldades, mas isso será certamente passageiro”. Ainda assim, refere se trata de um fenómeno conjuntural e limitado a alguns setores, mas garante “que não será certamente um estrangulamento relevante ao crescimento”, disse ao Nascer do SOL.