Fundo humanitário internacional montado para apoiar o Afeganistão

Perante o inverno, os talibãs realçam que um bloqueio os prejudica menos que à população afegã.

No dia seguinte a dirigentes talibãs pedirem publicamente apoio à comunidade internacional, países de maioria muçulmana juntaram-se para prometer um fundo humanitário para o Afeganistão, sob tutela do Banco Islâmico de Desenvolvimento, este domingo à noite. A ideia é que o fundo também sirva como uma maneira dos países desenvolvidos poderem apoiar a população afegã sem ter de lidar diretamente com os talibãs.

Além disso, também se multiplicaram os apelos a que cerca de dez mil milhões de dólares em reservas financeiras afegãs no estrangeiro sejam descongelados e colocados à disposição do Governo talibã. 

“A não ser que sejam tomadas ações imediatamente, o Afeganistão está a encaminhar-se para o caos”, avisou Imran Khan, primeiro-ministro do Paquistão, uma dos grandes impulsionadores deste fundo, apelando a que as grandes potências respeitem as diferentes “sensibilidades culturais”, numa aparente referência aos abusos dos talibãs contra as mulheres. 

Perante um inverno duro e uma economia em colapso, milhões de afegãos enfrentam fome e um futuro incerto. Como tal, é natural que o seu vizinho Paquistão esteja preocupado. Outros lembram que o Governo paquistanês sempre foi dos mais cruciais – provavelmente o mais crucial – aliados dos talibãs. Ao ponto que muitos afegãos vêm este grupo extremista quase como um braço armado de Islamabad. 

Já os talibãs, que tomaram o poder em agosto, dando por si a governar um país que estava de rastos, frisaram os custos humanitários do bloqueio.

“O impacto dos fundos congelados recai sobre as pessoas comuns e não sobre as autoridades talibãs”, notou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sher Mohammad Abbas Stanikzai, citado pela Reuters.

O dirigente talibã sabia bem que um dos principais receios dos países ocidentais era ver mais uma vaga de refugiados a bater à sua porta. Daí que discursasse numa conferência para representantes da Organização Internacional para as Migrações (IOM, na sigla inglesa) e do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR).

“A pobreza pode atingir 97% da população do Afeganistão. Isso seria um marco sombrio”, alertou Martin Griffiths, responsável da ONU para emergências humanitárias, citado pelo Diplomat durante esta conferência. “Dentro de um ano, 30% do PIB afegão pode desaparecer totalmente, enquanto o desemprego entre os homens pode duplicar para 29%”, reforçou.