Gouveia e Melo. PCP critica processo, PSD diz que nomeação é “justificável”

Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, considera que existiu falta de clareza no processo de seleção.

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, antigo coordenador da task-force para a vacinação contra a covid-19, vai ser o novo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA). Conforme noticiado pelo i, o seu antecessor, António Mendes Calado, foi informado esta terça-feira à tarde da sua exoneração, uma informação confirmada ao i por fontes militares.

Contudo, a decisão parece não ser consensual. Esta quarta-feira, o secretário-geral do PCP declinou tecer comentários acerca da nomeação do vice-almirante Gouveia e Melo para novo CEMA, porém expressou que existiu falta de clareza no processo de seleção. Assim, apesar de considerar que não há nenhum registo a fazer sobre a escolha, Jerónimo de Sousa frisou que “o processo que conduziu a isso pode ser menos claro, mas em relação à solução não temos registo”.

Por outro lado, em declarações à TSF, Ângelo Correia, que coordena a área de Defesa no Conselho Estratégico Nacional do PSD, declarou que “o ministro da Defesa nacional percebeu algo que já se verificava há algum tempo – e não é apenas o ministro da Defesa nacional, é o país: a Armada portuguesa não estava a ser de uma eficácia que correspondesse aos padrões e às normas que se pretendia”.

“A nomeação de um novo chefe de Estado-Maior da Armada foi requerida, foi considerada, e é justificável”, apontou, questionando: “Vale a pena esperar pelo próximo Governo?”. Mas a nomeação de Gouveia e Melo não é uma surpresa, pois já no final de setembro tinham surgido as primeiras notícias sobre esta hipótese.

“Se for necessário defender o meu país, não posso falhar” Como o i veiculou, a mexida no topo da hierarquia militar motivou então “um choque frontal entre o Governo e Belém, com Marcelo Rebelo de Sousa a censurar os ‘equívocos’ que davam conta de que Mendes Calado estaria para ser substituído por Gouveia e Melo”.

A eventual mudança também não foi bem recebida por outros possíveis candidatos ao cargo, nomeadamente o chefe da Casa Militar. “O senhor almirante chefe do Estado-Maior da Armada viu o seu mandato renovado a partir do dia 1 de março deste ano. Normalmente essa renovação dura dois anos, mas mostrou uma disponibilidade, com elegância pessoal e institucional, para prescindir de parte do tempo para permitir que pudessem aceder à sua sucessão camaradas seus antes de deixarem a atividade, de deixarem o ativo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa a 29 de setembro. “E, portanto, nessa altura foi acertado um determinado momento para isso ocorrer, que não é este momento”, declarou o Presidente da República, constatando que este era um dos equívocos. Seguiam-se outros dois: que Mendes Calado saía por não ver com bons olhos a reforma orgânica das Forças Armadas e que somente poderia haver uma substituição terminado o exercício de funções.

Em junho, em entrevista ao Nascer do SOL, Gouveia e Melo esclareceu que não encarou o convite para coordenador da task-force como um desafio, mas sim como “uma coisa natural”. “Aceitei porque o país precisava e eu tenho ‘skills’ que podiam ser úteis. Quando entrei para os submarinos, nos lemes, havia um letreiro que dizia: ‘A Pátria honrai que a Pátria vos contempla’. Achava aquilo mesmo serôdio! Mas evoluí. Sou militar e, se for necessário defender o meu país, não posso falhar”, asseverou, elucidando que a pandemia “é como uma guerra. E numa guerra a sociedade reestrutura-se para combater o inimigo, não pode ser como anteriormente, em que era cada um por si”.