Natal com mais de 200 mil isolados e infeções em níveis recorde em Portugal

Carlos Antunes estima que até ao final do ano ocorram 130 mil infeções no país. Inquéritos epidemiológicos já estão com atrasos significativos, diz ao i Ricardo Mexia.

Mais de 200 mil portugueses vão passar o Natal em isolamento, numa altura em que a expectativa dos investigadores que fazem a monitorização da epidemia é que seja ultrapassado ao longo dos próximos dias o máximo de novos casos de covid-19 diagnosticados no país. Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, estima que com a progressão da variante Omicron, cujos contágios começaram pela população mais jovem e parecem agora associar-se a um maior aumento de diagnósticos na população entre 40 e 59 anos, até ao final do ano deverão ser diagnosticados mais 130 mil novos casos de infeção por Sars-Cov-2 no país, devendo superar-se o máximo de casos diagnosticados desde o início da epidemia, mais de 16 mil. Com o aumento das infeções, as equipas de saúde pública e o SNS 24 estão já a ter mais dificuldade em responder a todas as solicitações, em particular na grande Lisboa, onde se verificou até aqui o aumento mais abrupto nos novos diagnósticos.

Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, diz ao i que nesta altura já há um atraso significativo nos rastreios epidemiológicos, que nalgumas zonas só são feitos ao fim de alguns dias, lamentando que não se tenha antecipado o reforço das equipas de rastreio. “Infelizmente aconteceu noutras alturas e agora volta a acontecer”, sublinha. A falta de capacidade para acompanhar a subida de infeções que se antecipa com a variante mais transmissível desde o início da pandemia é uma das preocupações neste momento dos peritos que dão aconselhamento ao Governo, a par de qual será o resultado do convívio na quadra natalícia. “A semana de contenção, mesmo tendo sido antecipada, só poderá começar a ter um efeito da desaceleração da epidemia no final do ano”, diz Carlos Antunes, explicando que nesta altura os dados disponíveis sobre mobilidade dos portugueses, que são usados pelo Instituto Ricardo Jorge para modelar os contactos na população, mostram uma mobilidade pouco abaixo do que era normal antes da pandemia. “O reforço da testagem terá sido essencial para se conseguir manter um maior controlo da situação epidemiológica nas últimas semanas”, diz Carlos Antunes.

Recomendações para as festas Em termos de recomendações para o período festivo, Ricardo Mexia reforça o apelo para que seja limitado o número de pessoas à mesa e que se procure que as refeições, momentos mais propícios ao contágio porque as pessoas estão, sem máscara, a comer e conversar com maior proximidade, sejam reduzidos. Antes, procurar fazer um teste, que deve ser feito com a menor antecedência possível, havendo indícios de que a variante Omicron terá um menor período de incubação, ou seja maior probabilidade de uma pessoa que testou negativo num dia testar positivo 24 horas depois. Ricardo Mexia sublinha que deve ser um cuidado a ter, dando como exemplo a preocupação de fazer um teste por exemplo antes do jantar de 24 e antes do almoço de 25. Além disso, procurar arejar as salas e aderir ao reforço da vacinação, diz Ricardo Mexia. Uma análise a cerca de 200 mil casos de Omicron no Reino Unido, prováveis e confirmados, indicou na semana passada que, com duas doses da vacina, a proteção contra a Omicron reduz substancialmente, subindo para 50% a 80% nas primeiras semanas após o reforço. Aqui, importa ter presente nesta época de maior socialização que quem fez a vacina há mais tempo, só tem uma dose, esteve infetado no passado e não se vacinou, tem maior risco de contair infeção do que no passado. Um estudo do Imperial College London, com base em cerca de 200 mil casos prováveis e suspeitos de Omicron, apurou um risco de reinfeção 5,7 vezes superior com a nova variante.

Menor risco de hospitalização Já esta quinta-feira, o Imperial College London publicou uma nova análise que quantifica pela primeira vez na Europa o risco de hospitalização perante uma infeção com a nova variante em relação ao que se apura com a variante Delta, que até aqui dominava a situação epidemiológica. Segundo os investigadores, parece haver uma redução do risco de precisar de assistência hospitalar entre 20 a 25% e uma redução do risco de precisar de um internamento com duração superior a um dia entre 40 e 45%, resultados ainda assim inferiores aos publicados na África do Sul, onde os investigadores estimaram um risco de hospitalização cinco vezes inferior ao de uma infeção com a delta. “Estas reduções devem ser pesadas contra o maior risco de infeção com Omicron, devido à redução na proteção fornecida por vacinação e infecção natural”, escrevem, assumindo ainda a incerteza. No Reino Unido, uma novidade esta quinta-feira foi a redução do período de isolamento para infetados de 10 para sete dias, desde que tenham um teste negativo ao sexto dia após o diagnóstico. Uma decisão que salvou o Natal de milhares e ajuda a prevenir a falta de pessoal em serviços essenciais. Questionada ontem pelo i, a Direção Geral da Saúde não esclareceu se uma medida semelhante está a ser equacionada em Portugal.