Inquéritos epidemiológicos. Governo pede ajuda a militares para reforçarem equipas

Não existem pessoas suficientes para fazer os inquéritos epidemiológicos e o número de infetados pode não corresponder à realidade.

No pico da pandemia, o Governo mobilizou, para além da PSP, GNR, SEF e Proteção Civil centenas de pessoas – como alunos de enfermagem – para reforçarem a realização de inquéritos epidemiológicos a doentes com covid-19 e pessoas em vigilância ativa. Contudo, durante o verão, estes contratos não foram renovados e agora não existem recursos humanos suficientes para dar resposta às necessidades.

Deste modo, o Executivo pede, mais uma vez, ajuda às Forças Armadas que já tinham 90 militares no terreno. O i sabe que, na passada sexta-feira, chegaram pedidos de reforço para mais equipas militares tanto para Lisboa como para o Porto – um dos pedidos de ajuda foi feito pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo ao Exército para reforçar os rastreios de contactos e inquéritos epidemiológicos na região de Lisboa, já no limite da capacidade. Tendo em conta que sem a concretização de testes não há forma de controlar o estado de saúdas pessoas que contactaram quem está infetado, os números veiculados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) não correspondem à realidade a cem por cento.

Por outro lado, importa referir que este pedido de reforço exige que quem fará os inquéritos tenha formação durante dois dias e o i teve conhecimento de que não há formadores disponíveis. Como consequência desta escassez de recursos, há quem tenha passado o Natal em isolamento.

Erros por excesso “Há sempre erros por excesso ou defeito” Portugal registou, nas últimas 24 horas, 3.732 novos casos de covid-19 e 13 mortes associadas à doença, de acordo com dados divulgados pela DGS este domingo. O país soma agora um total acumulado de 1.279.785 casos de infeção e 18.874 vítimas mortais desde o início da pandemia. Porém, no dia anterior, haviam sido contabilizados 10.016 novos casos de covid-19 e 10 mortes associadas a esta patologia, verificando-se um total acumulado de 1.276.053 casos de infeção e 18.861 óbitos.

Naquilo que diz respeito à eventual falha nos números diariamente revelados à população, António Sarmento, diretor do serviço de doenças infecciosas do Hospital de São João, no Porto, esclarece ao i que não sabe se tal está a acontecer, mas adianta que “é evidente que os números de vacinados, infetados, óbitos etc. não são exatamente iguais à realidade: há sempre erros por excesso ou defeito seja em que doença for”, sublinha o primeiro profissional de saúde a ser inoculado em território nacional.

“No meu serviço, na Unidade de Cuidados Intensivos, se tivéssemos o número de doentes de há um ano, a mesma estaria completamente cheia. Teríamos de ter posto doentes noutras áreas, aberto camas em obstetrícia, cirurgia vascular, etc. e estamos a aguentá-los nas doenças infecciosas. E isto deve-se à vacina”, conclui o profissional de saúde.

60 mil casos diários Por outro lado, as projeções do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington IHME apontam para um cenário de infeções que em nada se compara com o que se viveu até aqui, podendo chegar-se perto dos 60 mil novos casos diários reportados no pico de infeções, isto se se mantivesse a capacidade de testagem e deteção, podendo na realidade haver um pico de infeções perto dos 140 mil novos contágios por dia entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, tal como avançou o Nascer do SOL.

Nas recomendações publicadas na quinta-feira a nível global, o IHME salienta que há outros aspetos que se poderão tornar problemáticos. “Muitas das políticas em torno de testes em escolas e locais de trabalho que evoluíram para variantes anteriores, com taxas de infecção-hospitalização e taxas de mortalidade por infeção muito altas, e o período necessário de isolamento após um teste positivo, serão muito problemáticos durante o pico de Omicron”, escreve Christopher Murray na página do IHME.