Almirante Reis. A ciclovia da discórdia não vai acabar

“Uma via rápida”, “um projeto mal planeado”, ou, por outro lado, uma obra “essencial”. Muitas são as opiniões sobre a atual ciclovia da Avenida Almirante Reis. Carlos Moedas prometeu eliminá-la durante a campanha eleitoral das eleições autárquicas deste ano. Contudo, parece que isso não acontecerá. O responsável pelo pelouro da mobilidade fala em “adaptação” e…

São nove da manhã. As lojas e os cafés que preenchem a Avenida Almirante Reis, em Lisboa, já se encontram todos abertos. Ao passar pelas portas dos estabelecimentos, ouve-se os “bons dias”, já algumas gargalhadas e, o cheiro a pão, vai invadindo as ruas, atenuando o frio de dezembro. Veem-se pais de mãos dadas com os filhos de mochila às costas, prontos para um novo dia. Dos prédios, saem pessoas com sacos vazios para as compras matinais ou vestidas apropriadamente para se exercitarem antes de começar o trabalho. O senhor das castanhas acrescenta carvão ao assador, chegam as entregas às papelarias e também se ouvem músicas de Natal que “saem” das lojas e invadem as ruas.

Se nos ficássemos por aqui, até poderíamos dizer que este é o ambiente ideal que se vive numa cidade, logo pela manhã. Contudo, este é também um dos horários mais críticos para o tráfego em toda a cidade de Lisboa e, a Avenida Almirante Reis, não é exceção. E, desde que foi criada a ciclovia, a situação piorou “gravemente”, segundo os moradores e comerciantes da zona.

Começam as buzinadelas, as sirenes das ambulâncias acabam por fazer desvanecer o ambiente quase cinematográfico da avenida e, a cara daqueles que se encontram dentro do carros, parados no trânsito, não condiz com a daqueles que deambulam pelas ruas, tomam o pequeno-almoço nas esplanadas dos estabelecimentos, ou se deslocam de bicicleta ou trotinete na ciclovia, construída no ano passado, durante o mandato de Fernando Medina.

Uma ciclovia “do dia para a noite” A verdade é que esta ciclovia nem sempre esteve prevista, tendo chegado a estar pensada apenas entre o quarteirão do Banco de Portugal e o Martim Moniz, passando pela contígua Rua da Palma. Contudo, em janeiro de 2020, a Câmara de Lisboa anunciou a sua construção resultante do projeto ZER ABC – que envolvia a eliminação parcial dos automóveis do centro histórico da cidade – e cinco meses depois, concretizou-a através de uma solução pop-up e com uma tipologia bidirecional no lado ascendente da avenida, “do dia para a noite”, sem aviso prévio aos moradores e comerciantes da zona que, ao contrário dos ciclistas, não ficaram nada contentes com a obra. Seguiu-se então uma grande onda de contestação que apontava problemas como atropelamentos, tráfego, falta de estacionamentos, difícil acesso a lugares para efetuar cargas e descargas o que “acabava por prejudicar os negócios ali fixados”. Atendendo às duras críticas, em novembro, a Câmara de Lisboa anunciou “rever a ciclovia da Almirante Reis e implementar uma nova configuração no início de 2021”: em vez de um troço bidirecional num dos sentidos, propunha-se uma tipologia unidirecional em cada sentido. Não foi preciso muito até que, mais uma vez, as obras arrancassem à velocidade da luz.

Sendo o centro de uma polémica que se estende já há dois anos, durante a campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2021, Carlos Moedas prometia “acabar com a ciclovia da Almirante Reis”, chegando até a afirmar que essa seria uma das primeiras coisas que faria se saísse vencedor da corrida autárquica. “Todos queremos ter uma cidade descarbonizada. A minha maneira de chegar a esse objetivo é muito diferente da de Fernando Medina. Por exemplo, um caso muito concreto: se eu for presidente, não há ciclovia na Almirante Reis. Ela está a criar mais poluição, temos as ambulâncias e autocarros que não conseguem parar (…) Aquilo de que se queixam, e com razão, os vizinhos da Almirante Reis é que nunca foram ouvidos para nada. Um dia levantam-se, têm uma ciclovia e o trânsito está todo parado”, afirmou o atual presidente da câmara ao Público, em abril, sublinhando que a ciclovia da Almirante Reis seria “para acabar”. “Mas isto não quer dizer que eu não queira mais ciclovias em Lisboa, quero é pensá-las de outra maneira. Temos de ter um silo automóvel em cada freguesia, isto parece-me óbvio. Não é de um dia para o outro que as pessoas deixam de ter carro”, acrescentou. Agora, há quem aguarde “o cumprir da promessa” e, por outro lado, quem não queira que esta se concretize.

Um pesadelo continuo para os comerciantes José Carlos Antunes, é o proprietário da pastelaria Lenita e faz parte do grupo que aguarda a retirada da ciclovia. “Não estou contente agora, nem nunca estive. A ciclovia trouxe muito trânsito para a Avenida. Queremos parar para descarregar qualquer coisa, ou estacionar e é impossível. Com a alteração que foi feita, ficou um bocadinho melhor, mas mesmo assim, isto não são condições”, afirma ao i, enquanto limpa os copos de vidro, para não atrasar o trabalho. “Além da falta de lugares que acaba por prejudicar também os negócios, o que é que o trânsito faz? Barulho!”, exalta, contando que este “não pára” e é “incomodativo” tanto para os trabalhadores, como para os clientes. Eu concordo com a intenção de Carlos Moedas. Aliás, quando ele cá esteve na altura da campanha, eu falei-lhe disso”, revelou.

Já Rui Martins, proprietário da florista Isisflor e Dirigente da Associação de Comerciantes de Lisboa, chama-lhe “uma necessidade mal concluída, mal realizada e mal planeada”. “Acompanhei as alterações que foram feitas ao longo do tempo, com imenso prejuízo, causado pela primeira alteração que foi muito grave. É uma grande perda de capacidade comercial desta zona, porque afastaram a ciclovia dos comércios”, defendeu, enquanto entrelaçava um cordão num ramo de flores. “Fizeram uma via rápida para ciclovias, sem saída da via rápida. Portanto, quem quiser vir a um estabelecimento da Almirante Reis, tem de circular em cima dos passeios com bicicletas e trotinetes, porque tem de chegar às passadeiras, fazer o circuito do peão no meio da passadeira com a bicicleta e vir pelo passeio até ao local. Porque se sair da ciclovia a meio para vir para o passeio, comete uma manobra perigosa e poderá colocar em risco a vida de alguém, uma vez que não fica sem carta, porque não tem”, explicou. Segundo o dirigente da Associação de Comerciantes de Lisboa, as situações mais preocupantes estão relacionadas com os peões que “não cumprem as regras, tal como os ciclistas”. “Como é lógico, quando as duas partes não cumprem regras, há acidentes”. Os peões não atravessam na passadeira e os ciclistas não param nos semáforos”, frisou.

Ao contrário de João Carlos Antunes, Rui Martins, não considera que se deva “anular a ciclovia”: “Primeiro devia-se acabar com as esplanadas nos passeios, recolher o metro, favorecer a ciclovia junto aos edifícios, protegendo claro as paragens dos autocarros. Outra coisa que deveria ser feita era instruir a partir do primeiro nível de escolaridade o saber andar de bicicleta, que é uma coisa que não se aprende na escola e, ainda, descobrir como é que as pessoas adultas conseguem interpretar sinais se não têm carta de condução. Eu gostava de saber quem é que os ensinou… Será que é por isso que não cumprem?”, interrogou o também florista, sublinhando que, neste caso, as palavras chave são “ educação, sensibilização e adaptação”. “Só há um local em Lisboa feito a régua e esquadro que é a baixa… Tudo o resto tem de ser feito, cada coisa para cada sítio”, defendeu.

Continuamos a viagem de subida da avenida, já são 10h e o trânsito parece não terminar. Veem-se poucos ciclistas, ambulâncias passam de poucos em poucos minutos ocupando a zona destinada às bicicletas e a confusão parece instalar-se. Entramos agora na pastelaria Portugal. Interrogado sobre o seu ponto de vista sobre a ciclovia, Miguel Nunes, proprietário do café, ri-se: “Tenho mesmo de falar em bom português… Uma valente porcaria! Eu compreendo que ambas as coisas tenham de coexistir (os automóveis e as bicicletas), mas não numa avenida destas que atravessa Lisboa de uma ponta à outra… Esta é a única estrada que liga o aeroporto à baixa. Não faz sentido. Eu antigamente demorava 5 minutos a ir do Martim Moniz ao Areeiro, agora demoro meia hora”, contou, acreditando que não será desta maneira que se acabará com a poluição.

Ao sair da pastelaria, avista-se um táxi. Sílvio Guerra já perdeu a conta às vezes que percorreu a Almirante Reis. Mas agora, tal como afirmou Miguel Nunes, as viagens não são tão rápidas como antes. “Imagine que a apanho lá em baixo e que você quer ir para o Areeiro. Para além do trânsito infernal que já parece perenal, se eu tiver um autocarro à minha frente e este parar na paragem para pegar as pessoas, eu tenho de esperar. Eu estou parado, mas o tempo não. O que é que acontece? Mais tempo, mais dinheiro… As pessoas não ficam satisfeitas, mas eu não tenho como me desviar”, lamentou.

Carla Salsinha, comerciante na zona, sublinha por outro lado, a importância da avenida que dá acesso a 4 hospitais de referência da cidade, em particular São José e Estefânia. Para si, poderia ter-se optado “por outras formas de desenvolver uma ciclovia nas ruas circundantes com menos tráfego”. Solução que revela já ter sido apresentada à câmara municipal pelo grupo Os Vizinhos de Arroios, associação de moradores que se têm oposto à ciclovia, defendendo esta solução que diz ser “a mais coerente”. “Não falamos só de atropelamentos de ciclistas, como também da insegurança para as pessoas mais idosas ao atravessar as faixas com as ciclovias. Tem sido dito que a própria ciclovia não cumpre as exigências de segurança para os ciclistas”, afirmou.

“Numa tarde ia atravessar a passadeira e ia sendo atropelada por um ciclista”, contou Ana Maria Gonçalves, moradora da zona, que tomava o seu pequeno almoço num dos cafés de esquina. “Como vê, também existem semáforos para as bicicletas, mas não vale de nada. Os ciclistas não param nos semáforos, não olham, não querem saber de nós” . No mesmo momento, passa um ciclista que não pára no semáforo vermelho. “Viu? Passou agora e não olhou para nada. É um perigo para ele e para os outros. Um atropelamento com bicicleta pode ser tanto ou mais grave do que um atropelamento resultante do choque entre uma pessoa e um carro”, exaltou.

Ao chegar à Praça do Chile, Amandio Ferreira, sócio gerente da Pastelaria Luso Americana da Avenida Almirante Reis que já havia conversado com o i em abril, a propósito do mesmo tema, encontrava-se no café. “Eu quero falar”, disponibilizou-se imediatamente. “Eu não tenho medo de dar a cara e a minha opinião não se alterou”, admitiu. O gerente que ao i havia descrito a obra como “um gozo”, apontando inúmeras consequências negativas resultantes, interrogou-se sobre a promessa de Moedas. “Até agora, nem tirou, nem alterou. Simplesmente nada. Não prometeu? Já lá está há 3 meses”, apontou, revelando que há dias uma criança havia sido atropelada por uma ambulância que ocupou a área destinada às bicicletas, tendo ido para o hospital e quase ter morrido. Segundo Armandio, outro dos maiores perigos está relacionado com os “septuagenários e octogenários” que, passando a estrada, tropeçam, caem partindo quase sempre alguma coisa. “Inclusive o nosso fornecedor já caiu aqui e teve de ir para o hospital”, lembrou.

A “importância” da ciclovia Mas nem toda a gente concorda com esta visão mais “negra”. E há mesmo quem considere a ciclovia “uma maravilha”. É o caso de Silvio Bagete, morador da Avenida Almirante Reis e utilizador assíduo da mesma. “Eu sou ciclista, por isso, onde existe uma ciclovia eu vou e fico contente. Não sinto quaisquer problemas. O problema é que a capital tem muitos carros, não vamos agora culpar a ciclovia”, defendeu enquanto pediu o seu café. “O pessoal tem de deixar o carro em casa e andar de bicicleta, metro e trotinete. Já está na altura das pessoas perceberem isso”, acrescentou. Na sua opinião o que deveria ser feito para contornar todas as críticas feitas à ciclovia, seria tirar o estacionamento de um lado. “Se isso acontecer, dá para fazer ultrapassagens. Os acidentes e atropelamentos acontecem com ou sem ciclovia. Existe uma lei de trânsito que diz que o veículo tem de andar a 1 metro e 50 da bicicleta. Se as pessoas respeitassem isso, nem seria necessário construir uma ciclovia. A ciclovia é um avanço para a cidade. Não há como defender o contrário”, defendeu.

No passado dia 19 outubro um grupo informal e apartidário de cidadãos e cidadãs organizou uma ação que mobilizou cerca de mil pessoas que se juntaram por uma cidade mais “humana, inclusiva e sustentável para todas as pessoas e pela defesa da ciclovia da Almirante Reis”. Nessa mesma semana foi entregue uma Carta Aberta, subscrita por várias associações, onde se pediu e relembrou a Carlos Moedas que voltar ao modelo anterior da avenida seria uma regressão.

“A ciclovia entrou subitamente no eixo da Almirante Reis no Verão de 2020 sem ter existido uma discussão técnica fundamentada nem nunca se ter envolvido a população nas tomadas de decisão. Retirar a ciclovia do mesmo modo, sem fundamentação técnica nem envolvimento cidadão, seria repetir o erro”, lê-se no documento que argumenta que “não faz sentido tomar essa medida antes da avaliação da rede de ciclovias pelo LNEC, como se comprometeu, ou por uma outra entidade independente”. Segundo os assinantes da carta aberta isso seria “amputar a própria avaliação”. “(…) Compete à câmara municipal desenhar a cidade e criar infraestruturas também pensadas para mulheres e crianças e de modo a proteger utilizadores mais vulneráveis, que para além das pessoas que se deslocam a pé são quem circula em bicicleta, trotinete, patins, skate ou até em cadeiras de rodas. Porque voltar ao modelo anterior é regressar a uma imagem que seguramente não partilha, a de uma cidade que privilegia o automóvel e não as pessoas. Muitos de nós também utilizamos carros. Mas a Almirante Reis não poderá voltar a ser uma via rápida de atravessamento de bairros residenciais. Isso não é o futuro”, lê-se no documento.

No início deste mês foi também entregue uma petição com quase 3000 assinaturas recolhidas na rua, em Lisboa, para “travar o fim abrupto da ciclovia da Almirante Reis”. A recolha de assinaturas começou a ser feita no dia da manifestação de 19 de outubro por um grupo de voluntários pertencentes a movimentos cívicos ou associações, como é o caso da Caracol Pop ou do recém-formado coletivo Lisboa Possível. Os peticionários foram sobretudo pessoas que vivem, trabalham ou estudam em Lisboa, tendo sido excluídos, por exemplo, turistas ou pessoas sem ligação à cidade. As assinaturas foram obtidas na rua, durante vários dias, e também junto de lojas e associações nas imediações da Almirante Reis.

“Creio que isto é sinal de que as pessoas estão a falar, estão a manifestar-se, querem ser ouvidas e querem uma cidade mais humana, para as pessoas, onde a mobilidade pedonal e ciclável tem de ganhar naturalmente mais espaço na cidade para que esta se torne mais equilibrada”, acredita Catarina Lopes, assinante da petição e defensora da manutenção da ciclovia. “Se continuarmos a desenhar a cidade para a circulação automóvel, com mais vias e estacionamento, continuaremos a ter cada vez mais carros a circular. Se por outro lado desenharmos a cidade com mais espaço para as pessoas andarem, pedalarem, com mais corredores bus, mais as pessoas recorrerão à mobilidade ativa e aos transportes públicos”, acrescentou.

Segundo um estudo do Instituto Superior Técnico, desde que a ciclovia foi implantada na avenida, o número de ciclistas triplicou. Também o site Ciclovias.pt, mostra o aumento da utilização deste meio de transporte na avenida. Se a 24 de junho pela ciclovia passaram 380 bicicletas, mais recentemente, a 4 de novembro o número aumentou para 1439. Mesmo que, na última data do “contador” – 14 de dezembro – se observe uma pequena descida, com 1074 bicicletas que circularam nesse dia, ao que parece a tendência da utilização dos velocípedes tende a aumentar.

Além disso, segundo Catarina, neste momento veem-se crianças a pedalar na avenida, “algo que era inconcebível antes”. “O número de mulheres em bicicleta aumentou também. É uma mostra de que, quando a infraestrutura existe, os utilizadores aparecem”, explica.

Apesar de tanto Ana Maria Gonçalves e Amandio Ferreira, admitirem nunca terem visto alguém em cadeira de rodas a utilizar a ciclovia, a também ciclista, alega que que esta veio precisamente “facilitar a deslocação de pessoas com mobilidade reduzida”. “Não é a solução ideal para estas pessoas, que deveriam poder conseguir circular por toda a cidade, mas retirar o canal ciclável que agora existe será voltar a dificultar a circulação de quem se desloca em cadeira de rodas nesta avenida”.

Quase todo o concelho de Lisboa está, neste momento, a menos de meia hora de distância de bicicleta da Ciclovia da Almirante Reis. Por isso, segundo Catarina, “uma ligação segregada e segura nesta artéria para ligar de forma confortável a parte baixa à alta da cidade é essencial para concretizar em Lisboa o conceito de “Cidade dos 15 Minutos” de que Carlos Moedas tanto falou em campanha”. Interrogada sobre as críticas que têm sido feitas, acredita que “as pessoas são naturalmente avessas à mudança”: “Quando nos habituamos a ter uma cidade que privilegia de forma desequilibrada a circulação automóvel é normal que haja sempre uma parte da população que se sinta de alguma forma lesada quando se começa a distribuir o espaço”, acredita, acrescentando que, neste momento, “não podemos dar-nos ao luxo de continuar a ter a poluição que temos na cidade nem a sinistralidade rodoviária que temos, nem uma distribuição tão desigual do espaço. Trata-se de uma questão de saúde pública, de segurança e de justiça social”.

Além disso, a subscritora da Carta Aberta, aponta o facto da bicicleta gerar receitas aos Estados, mesmo não havendo impostos associados à bicicleta. “O que quer dizer que o dinheiro investido em ciclovias gera retorno – essencialmente porque as pessoas andam mais de bicicleta e a cidade é mais saudável e segura. Assim, haverá sempre uma enorme poupança em gastos de saúde”. Pelo contrário, explica, “os automóveis geram despesa, apesar dos impostos pagos, pois as externalidades negativas são muito pesadas: poluição, sinistralidade rodoviária, desgaste da infraestrutura, sedentarismo”, rematou.

O verdadeiro destino da área para velocípedes Ao i, Ângelo Pereira, atual vereador da Mobilidade, contou que o compromisso feito durante a campanha de Carlos Moedas com os lisboetas, é “para cumprir”. “O objetivo é adaptar a ciclovia e requalificar a Avenida Almirante Reis, dando a este eixo fundamental da nossa cidade a qualidade e a dignidade urbana que merece”, revelou. Segundo o mesmo, as alterações que ali se sucederam ao longo do tempo, deveram-se “exclusivamente a decisões políticas do anterior executivo que revelou uma total falta de planeamento técnico e integrado”. “Basicamente o anterior executivo quis e insistiu fazer a ciclovia da Almirante Reis contra todos os estudos e contra todos os pareceres pedidos. Desde logo, isso fez com que se gastasse dinheiro em vão”, alegou, argumentando que a indignação que esta causou nos lisboetas “revela bem o desastre de planeamento do anterior executivo”. “Uma ciclovia insegura para a circulação dos ciclistas, e que congestiona por completo o trânsito automóvel”.

Tendo em conta que a Avenida Almirante Reis atravessa três freguesias, desde a Rua da Palma até à Praça Francisco Sá Carneiro – e é o principal eixo de penetração na Baixa, para quem circula em direção ao centro histórico da cidade vindo do Areeiro ou de Arroios, ligando assim estas duas zonas – o responsável pelouro da mobilidade promete que o município terá em consideração no novo plano de circulação da Avenida “a sua importância enquanto eixo fundamental para toda a cidade, no seu conjunto”. “Qualquer solução terá de ter em consideração que um eixo como a Avenida Almirante Reis, com a elevada procura e carga que tem, não pode suportar apenas uma via de circulação”, elucida. “O nosso compromisso mantém-se porque foi isso que os lisboetas quiseram quando nos deram a vitória nas recentes eleições. Reconhecemos que há forças de bloqueio e algum radicalismo em torno desta questão, como foi visível logo no nosso primeiro dia de funções quando fomos confrontados com uma manifestação na Praça do Município, com a presença de vereadores da oposição e dirigentes partidários. E tudo isto sem que antes se soubesse quais as medidas que o novo executivo camarário pretende tomar”, admite, refletindo que este tipo de comportamentos “extremados” cria uma “polarização que não beneficia a cidade e os lisboetas”.

Segundo Ângelo Pereira, Carlos Moedas oferecerá “uma alternativa qualificada”, tendo em conta “a importância da circulação ativa e suave na cidade”: “Concordamos plenamente com os benefícios individuais e coletivos da mesma, mas estamos muito cientes que essa circulação tem que ser feita em segurança e não prejudicando os outros meios de transporte, coletivos e individuais. Estamos a trabalhar paralelamente num projeto para requalificar toda a Avenida Almirante Reis, de cima a baixo, porta a porta, não só ao nível da circulação, dando efetiva prioridade ao peão e às pessoas com mobilidade reduzida, mas apostando igualmente em soluções novas de estacionamento, e sobretudo, na qualificação do espaço público, dando à Avenida Almirante Reis uma cara lavada”, revelou.

Interrogado sobre os vídeos que circulam na Internet, sobre a reunião pública da Câmara de Lisboa que decorreu na passada quarta-feira e, onde se esclareceu o futuro das ciclovias na capital – o vereador Pedro Anastácio, do Partido Socialista, partilhou na sua conta de Twitter um trecho do discurso de Ângelo Pereira, onde este dizia que “não se irá acabar com nenhuma ciclovia em nenhuma localidade da cidade”, abrindo um debate sobre a possível contrariedade anunciada – Ângelo Pereira esclarece que o vídeo foi “cortado”, não mostrando uma parte essencial para se compreender as intenções. “Eu no próprio tweet, respondi, dizendo que realmente não se vai acabar nenhuma ciclovia em nenhuma localidade da cidade, vão sim ser corrigidas as que atentam à segurança das pessoas e o seu socorro”, revelou o vereador da mobilidade. “Está-se a politizar uma questão que não deve ser politizada! Nós queremos descarbonizar a cidade, queremos que ela tenho mobilidade suave. Nós temos os mesmos objetivos, mas como eles não têm mais nada por onde pegar, estão a pegar nisto. Na reunião estiveram constantemente a tocar na mesma tecla. Nós somos a favor das ciclovias! Queremos é ciclovias planeadas, seguras e principalmente participadas pela população. É a diferença. Nós não queremos nem vamos impor ciclovias”, frisou, acreditando que “o Partido Socialista se encontra a fazer guerrilha com as ciclovias”. “Há e sempre houve outras possibilidades técnicas. Os serviços, na altura, apresentaram soluções técnicas para uma ciclovia na Almirante Reis que não tivesse o impacto negativo que está a ter… Não foi opção”, lamentou, revelando que, brevemente o município irá anunciar “ciclovias bem projetadas que irão facilitar a circulação na cidade de Lisboa”.