Heróis improváveis

Henrique Gouveia e Melo assumiu a task force da coordenação da vacinação a 3 de fevereiro de 2021, após irregularidades no processo de vacinação até aí orientado pelos boys socialistas. Com uma carreira nos submarinos, mas um ilustre desconhecido dos portugueses, foi num riscar de fósforo que se alcandorou à posição de herói nacional. Desde…

2021 foi o segundo ano da pandemia, com direito a segundo confinamento. Não foi um bom ano, portanto. Contudo, ou talvez por causa disso, teve os seus heróis. Escolhi eleger os heróis improváveis, aqueles que ninguém esperava.

Vacina – Os cientistas. Apesar dos negacionistas e das teorias conspirativas se espalharem à velocidade da internet, ou seja, à velocidade da luz, a ciência ofereceu ao mundo a solução. Um escasso ano depois do aparecimento da doença, foi começada a ser dada a vacina. Perante um vírus altamente contagioso e mortal que atingiu o mundo inteiro ao mesmo tempo, a ciência e os cientistas conseguiram arranjar uma cura. Nunca um tão grande mal da humanidade teve uma solução tão rápida e eficaz. Nunca uma doença desta magnitude tinha tido uma resposta tão célere poupando milhões de vidas. A ciência e a razão triunfaram sobre o obscurantismo. Os portugueses, habituados a décadas do plano de vacinação, nisto, vá lá, foram dos melhores do mundo e correram para as vacinas como corremos para o areal num dia quente de agosto. Furiosa e apaixonadamente. 

Vice-almirante – Henrique Gouveia e Melo assumiu a task force da coordenação da vacinação a 3 de fevereiro de 2021, após irregularidades no processo de vacinação até aí orientado pelos boys socialistas. Com uma carreira nos submarinos, mas um ilustre desconhecido dos portugueses, foi num riscar de fósforo que se alcandorou à posição de herói nacional. Desde o Presidente Ramalho Eanes ninguém tinha usado o uniforme de forma tão merecedora de admiração e respeito popular. Declarou que não lhe passava pela ideia uma carreira política, leia-se uma candidatura à Presidência da República em 2026, mas já estamos habituados a ver Cristo descer à terra quando se trata do mais alto cargo da nação…

Rui Rio – A lebre e a tartaruga, fábula de Esopo, recontada por La Fontaine, parece escrita de propósito para Rui Rio. Rui Rio é a tartaruga lenta, pesada, mas aplicada e determinada que acaba em primeiro perante a basófia e favoritismo da lebre. A história é sempre a mesma e em 2021 voltou a acontecer: havia uma corrida, havia uma lebre favorita e no fim ganhou Rui Rio. Pela terceira vez consecutiva. Desta vez, as elites, os media esmeraram-se e moveram-lhe uma guerra sem quartel. Foi uma vitória das bases e dos populares contra os bem pensantes e os bem falantes. Ganhando o PSD e glosando um treinador de futebol célebre e um ainda mais célebre clube de futebol, arrisca-se a ser primeiro-ministro nas eleições de janeiro.

Carlos Moedas – É a história de um desconhecido que veio para Lisboa para tirar um curso superior difícil e se mostra o melhor aluno, tem uma carreira de sucesso no setor privado e resolve dedicar-se à atividade pública. Concorre num distrito de quase impossível eleição (Beja, sua terra natal), é eleito, daí vai para secretário de estado adjunto do primeiro-ministro e daí para comissário europeu. Regressa para um dos melhores lugares que a capital tem para oferecer: administrador da rica e influente Gulbenkian. Eis senão quando resolve largar tudo para se lançar na corrida à câmara de Lisboa. Ainda a notícia era fresca e o jornal Novo dava à estampa a capa com uma sondagem mortífera: com o título Moedas no bolso dava a este uns míseros 25.7% e uns tremendos 46, 6% a Fernando Medina. Moedas Ganhou Lisboa e suspeito que tem o jornal emoldurado no gabinete nos Paços do concelho. 

Patrícia Mamona – Esta portuguesa tem tudo. Tem raça, talento, coragem, beleza, tem a perseverança de uma leoa e pernas para saltar como uma gazela. Este ano ganhou o ouro no campeonato europeu em pista coberta, desfilando aquela competência e beleza toda envolta na bandeira portuguesa e enchendo-nos de orgulho e deixando-nos de lágrima no canto do olho.