Retro expectativa para 2022

Por Carla Magalhães Diretora da Licenciatura em Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Universidade Lusófona do Porto e Diretora da Unidade de Formação Avançada ao Longo da Vida – LUFAV.ULP  Mais um ano está a chegar ao fim e mais uma vez a pandemia foi o tema dominante, tendo deixado um rasto de consequências, nomeadamente laborais. Em 2021,…

Por Carla Magalhães

Diretora da Licenciatura em Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Universidade Lusófona do Porto e Diretora da Unidade de Formação Avançada ao Longo da Vida – LUFAV.ULP 

Mais um ano está a chegar ao fim e mais uma vez a pandemia foi o tema dominante, tendo deixado um rasto de consequências, nomeadamente laborais. Em 2021, o mundo começou a assistir a novos movimentos sociais, herdados pela covid-19: The Great Resignation, nos Estados Unidos, e Lying Flat, na China (o país da cultura ‘9.9-6’: trabalhar das 9 da manhã às 9 da noite, 6 dias por semana). A mensagem tem sido clara: as pessoas estão a demitir-se dos seus empregos, porque não estão satisfeitas com os mesmos, o que faz com que seja urgente repensar o atual modelo de trabalho. A título de exemplo, os Emirados Árabes Unidos tornaram-se, recentemente, o primeiro país do mundo a estabelecer uma semana de trabalho de quatro dias e meio. Pelo mundo fora multiplicam-se as empresas que já anunciaram regimes permanentes de trabalho híbrido. As gerações mais jovens – onde circulam os chamados nómadas digitais – já não aceitam trabalhar horas a fio entre quatro paredes. E o mais atrativo nestes novos paradigmas é a possibilidade de as empresas conciliarem a poupança de recursos com elevadas taxas de produtividade dos seus colaboradores, os quais beneficiam de práticas mais family friendly. 

Entretanto, em Portugal, continuamos a ter um longo caminho para percorrer. Para além e sermos o 9º país onde se trabalha mais e apenas ocuparmos o 23.º lugar no ranking dos países mais produtivos a nível europeu, o ranking de Talento Mundial do IMD World Competitiveness Center 2021 evidencia que o baixo investimento das empresas na formação continua a ser o fator onde Portugal regista a pior posição. 

Ora, se pegarmos nestes tópicos – formação, produtividade e jornada de trabalho – verificamos que existe uma relação entre eles. A Alemanha pode ajudar-nos a compreender essa relação. Em 2020, na Alemanha, foi aprovado o ‘Work of Tomorrow Act’ (Arbeit-von-morgen-Gesetz), que visa melhorar o financiamento da formação, com o objetivo de melhor responder às mudanças no mundo do trabalho. Em 2021, a Alemanha foi considerado o 5.º país mais produtivo do mundo. E, entretanto, se olharmos para o ranking dos países que menos horas trabalham por semana, verificamos que a Alemanha está treze posições à frente de Portugal. Assim, para além destas evidências, há estudos que indicam que há uma relação direta entre o investimento em formação e a produtividade, ao ponto de um país que trabalha ‘menos’ do que outro poder ser mais produtivo. É, pois, urgente, que as empresas recuem no tempo e resgatem um tema que já foi ‘moda’, mas que deu lugar a uma banalização não necessariamente materializada – Formação. Talvez assim possamos aumentar a nossa produtividade e até diminuir a nossa jornada de trabalho, sem prejuízo para as organizações e com todos os benefícios que isso pode trazer para os trabalhadores. Trata-se, pois, de uma expectativa algo retro, baseada em pressupostos antigos, mas que talvez nunca tenha feito tanto sentido resgatar.