Como proteger o seu dinheiro? Siga estes 10 passos

O arranque do ano é sempre uma boa altura para pensar em fazer um “mealheiro”. A par da verba disponível, outra dificuldade diz respeito à escolha dos produtos de investimento disponíveis no mercado. E se uns podem ser vistos como boas oportunidades de negócio, outros podem vir a revelar-se verdadeiros pesadelos.

1. Poupanças para crianças

Evite apostar em poupanças que são dirigidas exclusivamente a crianças – é o caso de depósitos ou seguros de capitalização – já que, na maior parte dos casos, elas oferecem rentabilidades em ponto pequeno. Certas características úteis, como contas à ordem sem custos, depósitos que permitem reforços a partir de valores muito baixos e a possibilidade de ganhar brindes, como bilhetes para o Jardim Zoológico, não chegam para compensar as taxas de juro pouco atrativas e, nalguns casos, as comissões elevadas. As contas são simples: como atualmente as taxas de juro não são muito atrativas acaba por não compensar, na maior parte dos casos, apostar em depósitos a prazo para constituir uma poupança para os seus filhos.

Como alternativa para rentabilizar o seu investimento opte, por exemplo, por fundos de ações e obrigações. Apresentam um grau de risco considerável, mas como a poupança é aplicada a longo prazo, os eventuais altos e baixos dos mercados são diluídos. No entanto, pode investir apenas uma parte da poupança, minimizando a perda, se acontecer. Se não houver contrariedades, o rendimento poderá ser bastante superior ao das aplicações com capital garantido mais juros e, no final do prazo, terá de amortizar a parcela em falta de uma só vez.

2. Crédito com fidelização 

Muitos cartões de crédito têm associados programas de fidelização. O objetivo é incentivar a sua utilização. Por isso mesmo, é natural que encontre, entre outros benefícios: a atribuição de milhas convertíveis em viagens de avião, descontos em combustíveis, acumulação de pontos para serem trocados por diversos artigos e descontos em empresas parceiras. Mas não se esqueça que estes cartões têm, geralmente, uma anuidade que tem de ser paga quer o consumidor os use ou não.

Ainda assim, dependendo da utilização que fizer, o benefício pode não compensar o custo. Por exemplo, se acumular pontos que lhe permitam obter um desconto de 20 euros numa compra, mas tiver pago uma anuidade de 50 euros, fica com um défice de 30 euros.

Mas os alertas não ficam por aqui: caso não pague a totalidade do extrato do cartão no final do mês, contrariamente àquilo que aconselhamos, ainda tem de somar os juros pela utilização do crédito, mais elevados do que noutras formas de financiamento.

No entanto, se encontrar um cartão de crédito com um programa de fidelização que lhe interesse e que não implique o pagamento de anuidade, poderá aproveitar os benefícios.

3. Depósitos com juros baixos

Está a pensar em investir em depósitos a prazo? Conte com juros quase nulos em troca de um investimento em aplicações simples e seguras, fruto da redução das taxas de juro de referência. Encontrar um depósito que renumere nos dias de hoje considerado um bom negócio. Mas vamos a números. Se investir cinco mil euros num depósito com uma remuneração de 0,3% dá três euros por cada mil depositados, ou seja, apenas 15 euros ao fim de um ano. 

Já se optar por um depósito com taxas de 0%, sobretudo nos depósitos de prazo inferior a um ano então significa que o dinheiro fica praticamente parado. 

No entanto, se quer realmente retirar algum rendimento das suas poupanças, compare a oferta dos bancos. Por vezes, é possível encontrar alguns depósitos promocionais que pagam 1,44% líquidos (até 72 euros por ano num depósito de 5 mil euros). Em alternativa, há os novos certificados dos Correios, mais atrativos a partir dos dois anos, mas que podem ser resgatados ao fim de 12 meses.

Estes rendem mais do que a média dos depósitos, não têm custos, não tem de abrir conta bancária e, depois da primeira subscrição, não precisa de se deslocar mais aos correios, pois pode fazer o pedido pela internet e investir através de homebanking ou da caixa multibanco.

4. Transferências ao balcão

Os bancos têm vindo aumentar os custos dos mais variados serviços e há casos em que esses gastos duplicaram e até mesmo triplicaram nos últimos meses. As transferências interbancárias (entre bancos diferentes) não ficam de fora deste realidade se forem efetuadas ao balcão. Evite optar por esta modalidade a não ser que necessite de acompanhamento personalizado.

Para contornar estes custos, em vez de entrar no banco, opte por fazer essa transferência na caixa multibanco, já que aqui a operação é sempre gratuita. Este é o método mais económico para quem deseja fazer transferências de caráter pontual, pese embora restrito a determinados montante.

No entanto, há bancos que não cobram nada por este serviço quando é realizado através da internet e há quem exija certos requisitos que determinam também a isenção aos clientes que os cumprem. Para os consumidores abrangidos, esta é também uma opção mais favorável, além de poderem realizar a operação sem sair de casa. 

Outra alternativa é realizar as transferências efetuadas por via telefónica. Estas têm a opção de poderem ser efetuadas com ou sem operador, ficando mais económico se as mesmas forem efetuadas sem operador.

5. Créditos com amortização "atrasada"

Há duas modalidades de créditos em que uma parte ou a totalidade do pagamento é adiada: com carência de capital ou de capital e de juros e com diferimento de capital.

Mas nem tudo são vantagens. Apesar de permitirem alguma folga, estes produtos tornam o empréstimo mais caro. Como funciona? No crédito com carência, o consumidor adia, durante um período – geralmente no início do contrato –, o pagamento de capital ou de capital e juros. Terminado o prazo, a prestação passa a incluir as duas variáveis. No caso da carência de capital, a mais comum, durante aquele tempo são pagos apenas juros, após o que o montante em dívida permanece o mesmo.

A verdade é que a carência de capital e de juros isenta o consumidor de qualquer pagamento naquele período, no entanto, terão de ser pagos mais tarde. E como há acumulação de juros sobre juros, o valor da dívida aumenta em relação ao existente.

Já no crédito com diferimento, uma parte do capital contratado é paga apenas no final do prazo. Por exemplo: pede um crédito de 100 mil euros, mas durante 20 anos amortiza o correspondente a 70 mil (30%). Entretanto, os juros são calculados sobre todo o capital em dívida em cada momento. No total, pagará muito mais juros e, no final do prazo, terá de amortizar a parcela em falta de uma só vez (30 mil euros) ou, em alternativa, contratar um novo crédito.

6. Seguros de proteção ao crédito

A ideia de ter um seguro de proteção ao crédito que garante o pagamento das prestações em caso de desemprego involuntário (despedimento ou encerramento da empresa), salários em atraso e redução de rendimentos devido a doença pode parecer tentadora.

Mas, regra geral, as seguradoras impõem uma série de restrições e de exigências que tornam difícil beneficiar do prémio pago: períodos de franquia para a ativação do seguro, exclusões para todos os gostos, coberturas com limites reduzidos. 

Na prática, este produto acaba por representar apenas um custo acrescido e, por isso mesmo, é de evitar. Além disso, apresenta várias exclusões, nomeadamente as doenças mentais, por exemplo, cujo tratamento implica períodos de ausência do trabalho prolongados. Isto significa que o seguro de nada serve para quem venha a ser afetado por estes problemas.

Por isso mesmo, se tiver um seguro deste tipo, leia com atenção as respetivas condições, para saber em que circunstâncias pode utilizá-lo. Caso pense em desistir, confirme junto da entidade que tal não irá ter implicações no financiamento – pode aumentar a taxa de juro, por exemplo. Isto, claro, se souber que o contratou, o que nem sempre acontece, por deficiente informação do banco.

7. Cheques

No caso de o beneficiário precisar de ter o dinheiro disponível imediatamente ou se for outra pessoa a levantar, terá obrigatoriamente de usar cheques não cruzados e/ou à ordem. No entanto, se for possível escolher, opte por cheques cruzados e/ou não à ordem. Estes são mais seguros e mais baratos. Se for obrigado a depositar numa conta é sempre possível saber quem movimentou o dinheiro de um cheque cruzado e ele garante que mais ninguém, a não ser o beneficiário, deitará a mão aos valores. Estes tipos de cheque são também mais baratos do que os não cruzados e/ou à ordem.

Pode ainda poupar dinheiro requisitando, quando possível, os cheques pela internet ou, nalguns casos, através da caixa automática do banco. Informe-se sobre a opção mais económica: levantar ao balcão ou receber pelo correio. Por vezes, ter a data de validade pode igualmente aumentar ou reduzir o custo.

O certo é que apesar do custo e de já não serem aceites em alguns estabelecimentos comerciais, os cheques começam a ser uma alternativa mais em conta face a outras operações, tendo em conta o aumento dos custos das transferências bancárias.

8. Mercado de divisas

O mercado de divisas, ou Foreign Exchange (Forex), permite apostar, por exemplo, na valorização do dólar norte-americano face ao iene ou do euro face à libra esterlina. No entanto, apesar de a negociação neste mercado ser simples, os fatores que influenciam a variação das moedas são complexos e difíceis de prever. Mas os cuidados não ficam por aqui. 

Trata-se de um terreno fértil para práticas desonestas que deixam o investidor vulnerável. Ou seja, o Forex pressupõe que o investimento seja multiplicado. Por exemplo, o investidor põe 500 euros na conta, mas o corretor permite-lhe investir como se tivesse disponibilizado 5 mil. Vamos a números.

Supondo que investe no par euro/dólar norte-americano e que a moeda europeia valoriza 10% face à americana. Neste caso ganha 500 euros (5000 × 10%), o que, juntando aos seus 500 euros iniciais, o faz ficar com o dobro do que tinha. Imagine agora que é a divisa europeia a desvalorizar 10 por cento. Neste caso, perde tudo o que tinha: 500 euros.

9. Produtos estruturados

Investir em produtos financeiros complexos sem garantia de capital e cujo rendimento depende da evolução de um ativo financeiro poderá não ser a melhor solução. Regra geral, isso consiste num conjunto de ações, embora possam ser, por exemplo, matérias-primas (petróleo, café) ou metais preciosos (ouro). A rentabilidade é determinada por fórmulas de cálculo que, nalguns casos, são bastante complexas e têm muita influência no resultado final. Daí que a maioria dos investidores não consegue avaliar o interesse desses produtos. Os entraves não ficam por aqui.

Regra geral, estas aplicações não podem ser resgatadas. Vender é a única forma de tentar recuperar o capital investido, mas pode não encontrar comprador. Sem conhecimentos na área financeira ou apoio especializado, é melhor manter-se longe.

Os depósitos indexados são semelhantes quanto ao rendimento, mas o capital é garantido pelo banco e estão ao abrigo do Fundo de Garantia de Depósitos.  Isto significa que, são menos arriscados, mas nem por isso são recomendados.

10. Propostas de dinheiro fácil na internet

Desconfie quando encontrar um anúncio na internet a “oferecer” a possibilidade de ganhar muito dinheiro facilmente e em pouco tempo. O que é certo é que se costuma navegar na rede, provavelmente já se deparou com o testemunho de alguém que descobriu a “árvore das patacas’”e está disposto a partilhar o segredo da fortuna consigo. Generosidade a mais, certo? Se concorda, ignore totalmente esses apelos. 

Telexfree, GetEasy e LibertàGià são alguns dos esquemas em pirâmide que ganharam a confiança dos investidores com sites de aspeto profissional, eventos em espaços arrendados e vídeos no YouTube. Conclusão: as vítimas perderam tudo o que investiram. Desta forma, caso fique com dúvidas em relação a possíveis investimentos, consulte os portais do Banco de Portugal ou da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários para verificar se há alertas em relação a uma determinada situação.