Gripe em Portugal com tendência crescente

Vírus AH3N2 já foi detetado mas variante que circula no Brasil ainda não foi sinalizada na Europa.

O vírus da gripe A H3N2 é um dos que estão a circular em Portugal mas a estirpe sinalizada no Brasil até novembro ainda não tinha sido sinalizada na Europa, de acordo com o último relatório disponível no Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. A nível europeu o H3N2 tem sido o vírus da gripe predominante mas ainda não houve alertas para a desadequação da proteção vacinal, embora na Croácia o tipo de AH3N2 detetado seja mais próximo da estirpe Darwin do que aquele que está incluído nas vacinas dadas este inverno por cá, mostra este último relatório do ECDC. Em Portugal, na última semana avaliada pelo INSA, não foi detetada esta estirpe do vírus em nenhuma amostra de doentes que passaram por hospitais ou locais de atendimento a doentes respiratórios nos cuidados primários, mas nas anteriores foi.

A última época gripal com maior circulação do vírus da gripe A H3N2 foi a de 2016/2017, ano em que se verificou uma maior mortalidade nos doentes internados com gripe, disse numa entrevista ao Nascer do SOL em novembro Carlos Robalo Cordeiro, pneumologista do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra. Estima-se que a gripe cause anualmente 2 mil a 3 mil mortes, afetando 10% da população, mas as comparações com os dados da pandemia tornam-se difíceis dado que não existem testagem generalizada para a gripe nem monitorização em tempo real dos internamentos. Ainda assim, alguns indicadores permitem a perceber, por aproximação, o diferente impacto das duas doenças: nos piores anos, pode ver-se no histórico de vigilância do INSA, eram sinalizadas ao longo de cinco meses de época gripal 150 a 200 pessoas com gripe nas unidades de cuidados intensivos do Serviço Nacional da Saúde, algo que com a covid-19 foi bastante ultrapassado no último inverno e mesmo neste, em que desde a segunda quinzena de dezembro têm estado internados em cuidados intensivos sistematicamente perto de 150 pessoas com covid-19, não havendo dados sobre quantas tiveram alta e morreram neste período, o que fará do número de doentes a passar por UCI um número maior, um balanço de internamentos no total que o i já solicitou à DGS e ACSS, não tendo tido resposta, não tendo sido igualmente facultados dados sobre doentes internados com problemas respiratórios no geral. A afluência às urgências por problemas respiratórios mantém-se no entanto abaixo dos invernos pré-pandemia, indica a plataforma de monitorização do Ministério da Saúde.

Em termos de mortalidade, o último inverno foi o mais negro de que há registo no último século: na pior época gripal das últimas décadas, 1998/1999, o INSA estimou um excesso de 8 mil mortes associados à gripe durante o outono/inverno. Só em janeiro e fevereiro do ano passado foram associados à covid-19 quase 10 mil mortes, havendo um excesso de mortalidade superior e cujas causas não estão ainda discriminadas, com dias com mais de 700 óbitos em janeiro quando nos dias com maior mortalidade no inverno antes da pandemia se ultrapassavam as 400 mortes mas era raro haver mais de 500 óbitos num dia. Nos últimos dias tem sido registada no país uma média diária de cerca de 360 óbitos, tendo havido alguns dias com a mortalidade acima do expectável em dezembro, mesmo havendo menos óbitos atribuídos à covid-19 do que há um ano. 

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