Frente-a-frentes com round único de 25 minutos

O modelo de debates – frente-a-frentes de 25 minutos – é criticado por muitos, sobretudo por não possibilitar qualquer discussão de fundo ou confronto de programas para o país. Ainda por cima, quando as televisões gastam a seguir muito mais tempo com comentários.

António Costa / Rui Tavares: ‘Depois de uma crise artificial, precisamos de estabilidade’

O primeiro dos cerca de 30 debates televisivos entre os partidos com assento parlamentar – e o Livre (pelo qual foi eleita Joacine Katar Moreira em 2019) – foi uma conversa de amigos. Afinal de contas, ainda na recente corrida eleitoral autárquica PS e Livre andaram de mãos dadas.

Falou-se sobre acordos à esquerda, Rui Tavares lançou o desafio, mas António Costa manteve-se firme no apelo à maioria absoluta – ainda que fuja sempre que possível à utilização do termo, optando por falar antes numa «maioria de progresso» ou numa «maioria reforçada que garanta a estabilidade». Caso contrário, avizinha-se «uma pagina de retrocesso, com o regresso da austeridade». E virou a face ao desafio de Rui Tavares: «Um voto no Livre não nos livra da Direita».

Rui Tavares insistiu que Costa precisará de ‘companheiros’ para poder avançar com as medidas progressistas que quer aplicar. E garantiu que o Livre não apoiará um Governo de Rui Rio. As propostas saltaram, e, entre concórdias e discórdias, as diferenças revelaram que não são bastantes para, se for caso disso, não haver acordo entre PS e Livre.

Frases

António Costa

– Um voto no Livre não nos livra da Direita

– O país precisa de estabilidade. […] A forma mais segura de ter estabilidade é os portugueses darem-nos uma maioria

– O que não podemos ter é um Governo do dr. Rui Rio

Rui Tavares

– Um partido a governar sozinho não conseguirá dar as respostas de que o país precisa

– Aquele que é muito claro que nunca apoiará um Governo de Rui Rio, e estará na oposição, é o Livre, não é o Partido Socialista

Catarina Martins / André Ventura: ‘Eu estou a favor da Polícia. A senhora é a favor dos bandidos’

O debate entre os líderes do Bloco de Esquerda e do Chega foi o frente-a-frente entre os dois extremos que assumidamente lutam  por se afirmarem como terceira força política nacional no dia 30.

Não estranhou, por isso, a troca de acusações ao longo do confronto televisivo e o tom agressivo do mesmo –  apesar da candura de Catarina Martins ao, surpreendentemente, invocar o Papa Francisco como respaldo retórico – de forma mais educada.

Catarina procurou provocar André Ventura, incluindo no tema que o líder do Chega tem assumido como bandeira: a corrupção. Mas este retorquiu sempre.

A líder do BE esforçou-se para encostar Ventura às redes, tanto com provocações – «Está nervoso?» – como com dialética, sempre  referindo-se-lhe como o «candidato da extrema-direita».

Ventura admitiu que o BE o «irritava», mas não deixou de contra-atacar: «Eu estou a favor da polícia, a senhora é a favor dos bandidos». Debateu-se ainda o RSI  – que André Ventura quer mitigar e Catarina Martins aumentar.

Frases 

Catarina Martins

– Só estou à espera que o candidato da extrema-direita me acuse de ter raptado o pai natal

– É preciso que as pessoas saibam que 2% de Portugal são pessoas tão pobres que precisam de prestações sociais

André Ventura

– Enquanto Catarina Martins era atriz, eu era inspetor tributário – e, portanto, combati o crime económico

– Não sei se já foi aos Açores: anda metade a viver à conta dos outros que estão a trabalhar. Catarina sabe disso muito bem

Rui Rio / André Ventura: ‘Isto não é o Quem Quer Namorar com o Agricultor?’

O debate entre Rui Rio e André Ventura (por vezes, também com a intervenção ativa da moderadora, Clara de Sousa) foi dominado pelos temas introduzidos pelo líder do Chega. 

Rui Rio deixou-se conduzir pela agenda de André Ventura e não deixou claro se fará ou não acordos com o Chega caso o PS e partidos à sua esquerda não tenham maioria no Parlamento – só foi claro a afastar uma coligação de Governo com ministros do Chega.

André Ventura, por sua vez, entrou em modo de ataque, e repetiu insistentemente um ponto central da sua argumentação: votar no PSD é votar para manter o PS no poder. Isto, apoiado em recortes de várias páginas de jornal que o líder do Chega foi apresentando nas câmaras enquanto Rui Rio falava, ganhando protagonismo (e tempo) no debate. 

Ventura colocou a prisão perpétua, o combate à corrupção e os apoios sociais – com o RSI à cabeça e os «Mercedes à porta daqueles que não querem trabalhar» – no centro do debate e Rio deixou-se levar, acabando a falar sobre os diferentes modelos de prisão perpétua existentes em vários países da Europa.

Frases

Rui Rio

– Reconheço que, se o Chega tiver uma votação muito elevada, vai dificultar o PSD de ser Governo

– Neste momento, face ao historial [de André Ventura], não é possível ter confiança

André Ventura

– No dia 31, o Chega estará onde sempre esteve. Disponível para falar com o homem que tenho aqui à minha frente [Rui Rio]

– O Chega só aceita um Governo de direita em que possa fazer transformações, e isso implica presença nesse Governo

Catarina Martins / Rui Tavares: ‘O boletim de voto não tem nem asteriscos nem letra miudinha’

Em sintonia ideológica quase perfeita, Catarina Martins e Rui Tavares sentaram-se para discutir as legislativas. Não tinham vontade disso: não tivesse a moderadora feito o seu papel, a coordenadora do BE e o líder do Livre talvez ficassem o debate todo a servir ‘simpatia’ ao outro, apenas faltando as xícaras para completar a moldura.

É precisamente este tom de ‘simpatia’ que importa reter do debate: quando, por exemplo, Catarina Martins foi encostada à parede pela moderadora para apontar uma linha de divergência com o Livre, a líder do Bloco fê-lo salvaguardando que o fazia «com toda a simpatia». Antes, a líder do Bloco já havia servido outra: «enorme» e pelo «programa do Livre».

O mesmo tom de simpatia esteve presente no lado de Tavares. Politicamente, uma mensagem ficou clara para o eleitor: tirando algumas considerações sobre o SNS e sobre a Europa, votar Livre ou BE parece ser praticamente a mesma coisa. Sobre o SNS, Tavares mostrou-se favorável aos contratos de exclusividas e Catarina contra. Quanto à Europa, Tavares é mais seu fã do que Catarina.

Frases

Catarina Martins

– Apesar de ter enorme simpatia pelo programa do Livre, julgo que é preciso ter mais concretização nas medidas

– O Bloco quis, propôs e fará um acordo, à esquerda, para um Governo de Portugal

Rui Tavares

– A União Europeia é essencial para definir o modelo de desenvolvimento que precisamos em Portugal

– O Livre propõe um salário mínimo que possa chegar aos mil euros no fim da legislatura

António Costa / Jerónimo de Sousa: ‘Não sinto confiança para dizer que a geringonça é uma solução’

O debate entre António Costa e Jerónimo de Sousa fez lembrar um encontro ‘morno’ entre um casal que se separou recentemente. Por um lado, os comunistas mantêm a porta aberta a reatar as relações, falando numa «precipitação de fazer contas antecipadas». Adversários políticos, mas não inimigos, garantiu o líder comunista, que muitos acusam de ter sido o culpado final do chumbo do OE2022 e, consequentemente, da dissolução do Parlamento e da convocação de eleições antecipadas.

Por outro lado, um António Costa seguro de si mesmo e dos seus objetivos: maioria absoluta, sem novos acordos. «Neste momento não sinto confiança que essa [a geringonça] é uma solução estável», declarou Costa categoricamente.

Mais, o primeiro-ministro colocou no ar uma questão retórica, afastando a crítica de que teria sido ele próprio a causar a crise política que agora culminou nas eleições legislativas de 30 de janeiro.

Comunistas e socialistas são como água e azeite. Num raro acordo, governaram lado a lado ao longo de seis anos, mas António Costa parece determinado a seguir em frente sozinho.

Frases

Jerónimo de Sousa

– O Partido Socialista queria eleições e não soluções

– Não há aqui inimigos, não tenho discurso belicista. A nossa crítica [ao PS] é clara mas numa perspetiva de encontrar soluções

António Costa

– Mas há algum primeiro-ministro em algum país do mundo que provoque eleições antecipadas numa crise destas?

– Não estou aqui para reerguer os muros que derrubei no passado 

F.R. dos Santos / I. Sousa Real: ‘Nem sequer considero o cenário de perder deputados’

Era esperado que o debate entre Francisco Rodrigues dos Santos e Sousa Real fosse parar à terra batida. E assim foi: em pouco mais de cinco minutos, o confronto centrou-se, sobretudo, em questões relacionadas com a agricultura, mundo rural ou tauromaquia.

O debate abriu de forma insólita, com Inês Sousa Real a ser apressada pelo jornalista João Adelino Faria quando se demonstrava solidária com a questão do hack ao Expresso /SIC (tanto tempo pareceu sinalização de virtude).

Logo depois é dada a palavra a Rodrigues dos Santos, que abriu as hostilidades com o mesmo soundbite que viria a utilizar no resto do debate: «O PAN é um partido animalista radical». E daqui surgiu a tourada – entre os líderes e como tópico.

Os 25 minutos serviram ainda para o líder do CDS acusar o PAN de «colocar os direitos dos animais à frente das pessoas» e para Sousa Real notar existirem estudos «que dizem que a caça traz prejuízo ao Estado». Perto do fim, Rodrigues dos Santos rejeitou envolver-se em qualquer governo com o PAN, a passo que este só admitiu essa possibilidade se o «CDS se conseguisse aproximar do século XXI».

Frases

F. Rodrigues dos Santos

– Seria absolutamente impossível o CDS fazer parte de um Governo com o PAN

– O PAN é um partido animalista radical (…) que procura asfixiar os agricultores com taxas e taxinhas

Inês Sousa Real

– Só faríamos um governo com o PSD e com o CDS se o CDS se conseguisse aproximar do século XXI 

– Não houve perdas de postos de trabalho na tauromaquia por causa da pandemia

J.C. Figueiredo / F.R. dos Santos: ‘Mas que raio de direita é esta?’

No frente-a-frente entre Francisco Rodrigues dos Santos e João Cotrim Figueiredo houve de tudo: referências a Ruth Marlene e Iran Costa, discursos sobrepostos, berros e muito mais acusações mútuas do que propostas.

Os líderes do CDS-PP e do IL passaram mais tempo – já de si escasso – a debater quem era mais à direita, quem ajudava mais os pobres e quem queria menos Estado nas empresas do que propriamente a explicar as suas propostas para o país e para conquistar eleitores nas eleições legislativas de 30 de janeiro.

O CDS-PP está a perder eleitores para o IL e Francisco Rodrigues dos Santos sabe-o. Por isso, não perdeu a oportunidade para tentar realçar que, na sua opinião, o IL «em tudo é igual à esquerda, menos na economia». Das drogas leves ao aborto e à legalização da prostituição, Rodrigues dos Santos fez questão de comparar o Iniciativa Liberal ao Bloco de Esquerda.

Durante o debate, Cotrim Figueiredo não deixou passar em branco a acusação: «Se o CDS tivesse crescido e modernizado, não teríamos crescido como crescemos».

Das privatizações ao salário mínimo nos 900 euros, apenas num ponto houve concórdia entre Cotrim Figueiredo e Rodrigues dos Santos: nem o IL nem o CDS-PP estão disponíveis para integrar um governo que tenha também membros do Chega.

Frases

João Cotrim Figueiredo

– Quando nós somos atacados pela esquerda e pela direita exatamente da mesma maneira, alguma coisa devemos estar a fazer bem

– O CDS cancelou um grupo parlamentar inteiro

– Com o Chega não contribuiremos para uma solução de Governo

F. Rodrigues dos Santos

– Um voto no IL não é necessariamente um voto contra a esquerda, pelo contrário, porque em grande parte do programa votam ao lado do Bloco de Esquerda

– [O Iniciativa Liberal] É uma Ruth Marlene da política, que ora pisca à esquerda, ora pisca à direita

Catarina Martins / Rui Rio: ‘Não acreditamos que país deva ser uma gigantesca Odemira’

Rui Rio e Catarina Martins protagonizaram um verdadeiro ‘desfile’ de desencontros ideológicos na noite de quarta-feira.

Por um lado, o líder do PSD insistiu em propostas para as empresas, «que isso é que vai originar mais consumo»; por outro, Catarina Martins apontou para o crescimento do salário mínimo como a melhor solução para melhorar a economia do país. A líder bloquista usou-se dos resultados da governação entre 2015 e 2019, defendendo que «foi o período em que Portugal mais cresceu desde a entrada no euro e aquele em que mais dívida abateu», e acusa PS e PSD de serem os causadores das dificuldades económicas do país, após terem privatizado «setores estratégicos e retiraram à economia portuguesa a possibilidade de crescer».

Mas, mesmo antes de entrar no plano económico, o debate foi assombrado pelo fantasma da prisão perpétua e de André Ventura. Rui Rio aproveitou o início do debate para esclarecer que é contra a prisão perpétua e Catarina Martins não deixou fugir a oportunidade de criticar o líder do PSD, acusando-o de estar «a tentar normalizar as coisas que diz a extrema-direita».

A gestão do SNS e da Segurança Social foram mais dois temas quentes, de discórdia, num debate em que duas pontas do espetro não foram capazes de encontrar terreno neutro.

Frases 

Catarina Martins

– Bem sei que, no seu programa, em 2019, queria acabar com esta taxa e proteger os milionários, mas aqui fazemos escolhas e o que o BE quer é proteger as pensões e que as pensões possam crescer

– Quer entregar o Hospital de São João ao grupo Mello e o São José aos chineses da Fosun?

Rui Rio

– A nossa aposta tem de ser nas empresas, que isso é que vai originar mais consumo

– Temos de ter economia robusta, investimento, exportação e aí criamos bons salários

– Se os privados ganharem mas o Estado também é um bom negócio. Não quero entregar a carne e ficar com ossos e a pele

Rui Tavares / André Ventura: ‘Um candidato do sistema e de clubes de futebol’

Rui Tavares, líder do Livre, fez o seu trabalho de casa antes do debate com André Ventura, líder do Chega, e o esforço compensou. Ventura, conhecido pela sua tendência em dominar os debates, sobrepondo-se aos seus interlocutores, não teve outra opção se não arregaçar as mangas e tentar acompanhar o ritmo do líder do Livre, que marcou desde o início a pauta do debate e atacou Ventura onde mais lhe dói: no seu programa eleitoral.

Com «as nove páginas» do programa do Chega em mãos, Tavares começou a enumerar: «Cidades, zero; interior, zero; universidade, zero; mar, zero; ambiente, zero; constituição, zero; presidencial, zero; Parlamento, zero; Assembleia, zero; deputado, zero; poluição, zero; língua portuguesa, zero; violência doméstica, zero».

O líder do Livre acusou Ventura de não ter realmente propostas de interesse no seu programa, e de ser «um candidato do sistema apadrinhado por ministros e primeiros-ministros do Governo anterior, de clubes de futebol e de alguma comunicação social mais sensacionalista».

O líder do Chega contra-atacou, usando a cartada da polémica em torno da saída de Joacine Katar Moreira e disparando que Rui Tavares nem devia estar nesse debate, porque «nunca foi eleito» e «o Livre não tem representação parlamentar».

Frases

Rui Tavares

– Cidades, zero; interior, zero; universidade, zero; mar, zero; ambiente, zero; constituição, zero; presidencial, zero; Parlamento, zero; Assembleia, zero; deputado, zero; poluição, zero; língua portuguesa, zero; violência doméstica, zero

– Este é um programa que não tem nada para oferecer de futuro

André Ventura

– O Livre, para estar aqui, teve de vencer as resistências dos canais de televisão e dos partidos

– [O Chega] Não vai ser uma muleta [do PSD] como o IL e o CDS

– Não há 10% de fascistas nem de racistas em Portugal. Temos de ultrapassar isso, Salazar não vai ser ressuscitado

António Costa / André Ventura: ‘Tudo nos separa. Comigo, o senhor não passa’

O debate entre o líder do PS e o líder do Chega até começou civilizado, com uma troca de ‘preocupações’ pelo estado de saúde um do outro, mas, chegando ao fim do mesmo, o verniz estalou. Os tempos foram ultrapassados, os discursos sobrepostos, e as acusações subindo de tom – Ventura acabou o debate a acusar António Costa de, enquanto ministro da Justiça, ter tentado interferir no caso Casa Pia.

«Tudo nos separa. Comigo, o senhor não passa», disparava António Costa, ainda o confronto mal começara – voltaria a repeti-lo quase no final.

A vacinação foi o tema inicial, mas Ventura rapidamente impôs a corrupção.

O líder do PS centrou o  argumentário numa crítica direta a Ventura «bem falante»: «Vai passando pelos debates, debitando, mas não fala do seu programa». E repetidamente apontou o dedo à proposta do Chega de taxa única nos impostos, acusando Ventura de ter passado de «inspetor tributário» a «consultor de quem quer fugir ao fisco».

Mas Ventura não o poupou. Afirmou que Costa, ministro da Justiça de Guterres, «deveria pedir desculpa pelos casos de corrupção que o seu partido criou», falando dos «Rendeiros e dos Sócrates desta vida» e de ter «oito membros do seu Governo a contas com a Justiça». Costa respondeu: «Para mim, não há filhos nem enteados e ninguém está acima da lei, socialista ou não».

Frases

António Costa

– Fico muito preocupado quando vejo responsáveis políticos como o deputado André Ventura pôr em causa a eficácia da vacinação

– Para mim não há filhos nem enteados, e ninguém está em cima da lei, socialista ou não

– [André Ventura] Vai passando pelos debates, debintando, mas não fala do seu programa

André Ventura

– Há escutas suas a tentar interferir no processo Casa Pia

– Veio aqui como se tivesse feito um milagre económico. O seu legado são 500 mil pensionistas que perderam o poder de compra

– Metade da classe política e das nomeações são para acabar. Só aí pouparíamos milhões

Catarina Martins / J. C. Figueiredo: ‘BE perdeu a capacidade de ser um farol para os jovens’

No debate com Francisco Rodrigues dos Santos, o líder centrista acusou Cotrim Figueiredo – e a IL – de ser em tudo iguais à esquerda, menos na economia. O líder liberal chegou ao debate com Catarina Martins preparado para desmentir essa suposta comparação com o BE, e com sucesso.

Falou-se de saúde, de economia e da juventude, cujo futuro a líder bloquista acusou o liberal de querer ‘hipotecar’. Isto depois de Cotrim Figueiredo ter apontado o dedo a Catarina Martins – e ao Bloco – por ter perdido «a capacidade de ser um farol para aqueles que querem um Portugal mais moderno», entenda-se os jovens.

Em termos fiscais, a bloquista acusou o ‘flat tax’ proposto pelos liberais, «uma proposta extremada da direita, muito boa para os ricos». Catarina Martins criticou também o ‘Estado-papá’ que, acusa, os liberais querem, a financiar entidades privadas, tomando o exemplo específico do fim do financiamento ao ensino superior público proposto pelos liberais em 2019.

A líder bloquista fez várias críticas, mas quase todas foram tocar a um ponto central: tal como já tinha acusado o PSD e o PS de não terem apresentado o seu programa eleitoral na íntegra, dias antes, Catarina Martins fez bandeira do facto de os liberais ainda não terem apresentado o programa. Cotrim Figueiredo assegurou que o programa será apresentado em breve.

Frases

Catarina Martins

– A Iniciativa Liberal, que não gosta nada do Estado, depois quer uma espécie de ‘Estado papá’ para pagar os negócios de toda a gente

– A IL fez um arraial contra a necessidade de haver medidas sanitárias. Fez da irresponsabilidade a sua propaganda. É um caso único

João Cotrim Figueiredo

– O Bloco de Esquerda perdeu completamente essa capacidade de ser o farol para os que querem um Portugal mais moderno

– O crescimento económico devia ser a principal preocupação do país e gostava de saber qual é o país que tem o modelo económico que o Bloco defende

I. Sousa Real / J. C. Figueiredo: ‘O PAN tem propostas bizarras, como o Big Brother do carapau’

«O IL estaria disponível para integrar o Governo com o PAN sempre e quando o programa não tivesse uma proposta daquelas bizarras, como o ‘Big Brother do carapau’». Esta foi, de longe, a frase mais impactante de um debate sem história. Falou-se do ambiente, das privatizações, do liberalismo e do Estado, mas sem nada de memorável.

Por um lado, Inês Sousa Real, líder do PAN, partido que diz ser «progressista», começou por realçar acreditar que a matéria ambiental devia ser prioridade de toda e qualquer força política, e, neste debate, foi prioridade de todo e qualquer argumento. Desde a fiscalidade – defendendo que «as borlas fiscais» dadas às petrolíferas «deviam ir para as famílias» –, até ao ambiente laboral – que Sousa Real diz pretender ‘equilibrar’ com o ambientalismo.

Cotrim Figueiredo, líder do IL, rotulou o PAN de «proibicionista», associando a sua política de redução de emissões à redução de atividade económica. Ainda assim, o liberal mostrou-se aberto a integrar soluções de Governo,  sempre e quando o PAN se afaste de algumas propostas ‘bizarras’, como a videovigilância nos barcos de pesca ou o tal ‘Big Brother dos carapaus’.

Pelo meio, a líder do PAN acusou ainda o IL de querer ‘privatizar’ o SNS, algo que Cotrim Figueiredo negou logo de seguida, esclarecendo que a proposta prevê sim um «sistema misto».

Frases

Inês Sousa Real

– A matéria ambiental devia ser prioridade de toda e qualquer força política

– O PAN não é um partido proibicionista, é responsável, é uma premissa fundamental

– A Iniciativa Liberal quer conduzir à privatização do SNS no nosso país, o PAN defende SNS universal

João Cotrim Figueiredo

– O SNS transformou-se num serviço de acesso universal a listas de espera e a dificuldades de atendimento

– O Iniciativa Liberal não é negacionista, mas as resoluções mais radicais [para combater a mudança climática] têm um custo económico brutal