A “guerra” entre o ambiente e a economia

“Não há possibilidade de reduzir emissões, sem reduzir atividade económica”, disse Cotrim Figueiredo. Mas se Luís Aguiar-Conraria e João Duque não sabem até que ponto é urgente apostar em medidas com vista a reduzir as alterações climáticas, Luís Mira Amaral diz que a nossa emergência é económico-financeira. Mas qualquer que seja a decisão vai ter…

A frase do líder da Iniciativa Liberal caiu que nem uma “bomba” nas redes sociais. “Não há possibilidade de reduzir emissões sem reduzir atividade económico e, portanto, empobrecer. E nós queremos enriquecer Portugal”. O i quis saber junto dos economistas que prioridade é que deve ser dada, mas as opiniões dividem-se. Ainda assim, há quem admita que não sabe exatamente que tipo de riscos é que estamos prestes a enfrentar.

Luís Mira Amaral afirma que “sempre houve alterações climáticas, desde que o mundo existe”, no entanto, admite que “se antes eram induzidas por fenómenos naturais com as revoluções industriais passou obviamente a existir uma maior interceção entre o homem/agente económico e a natureza”. E face a esse cenário assistimos atualmente a um misto de causas naturais com alguma componente da natureza humana. “Agora qualquer fenómeno atmosférico é uma alteração climática? Isso é um disparate completo, as alterações climáticas sempre existiram”, diz ao i.

Por isso, o economista acredita que a prioridade do nosso país deve ser dada ao crescimento económico. “Não aceito essa tese de que estamos numa urgência climática em Portugal, estamos é numa emergência económico-financeira. Somos dos países mais endividados do mundo e com tremendas dificuldades económicas. Obviamente que as questões de produtividade, de competitividade para pôr uma economia mais dinâmica em Portugal são mais importantes do que essa conversa de alterações climáticas”.

E vais longe. De acordo com Mira Amaral, Portugal emite 0,5% do CO2 mundial e, como tal, acredita que mesmo que deixássemos de emitir não iria fazer qualquer alteração no mundo. “Isso não depende de nós, depende dos grandes blocos, com a China, os Estados Unidos e a Índia. São esses países que têm de fazer esse combate às alterações climáticas”.

Custos podem ditar decisão Para o economista Luís Aguiar-Conraria as dúvidas são muitas em relação à prioridade que deve ser dada. E ao i lembra que essa decisão não compete aos economistas. “O economista pode dizer quais são os custos económicos de reduzir as emissões, por exemplo, em 10 anos. Depois os especialistas de alterações climáticas terão de dizer se vale ou não a pena em assumir esses custos”, acrescentando que, “isso implica ter uma opinião sobre o quão urgente são as mudanças climáticas, saber se conseguimos reverter ou não”

E vai mais longe: “Se me dizem que se não conseguirmos reduzir as emissões daqui a 30 anos estamos todos mortos então é evidente que aí a prioridade não é a economia. Mas isso são os especialistas que têm de dizer. E o que vejo é os cientistas a dizer que isso é urgentíssimo e que daqui a 20 anos vamos ter inundações, cheias, secas e que as doenças de África passam para a Europa por causa destas alterações. Então se é assim um cenário de catástrofe vale a pena tomar todas as medidas a correr”.

O responsável lembra, no entanto, que se todas essas decisões têm um custo então será de prever uma subida de preços e de impostos, nomeadamente sobre os combustíveis, como uma forma de mostrar às populações que custos económicos são esses.

Esta não é a primeira vez que o economista deixa este altera. Na altura em os preços dos combustíveis não paravam de aumentar, levando o Governo a criar o AUTOvoucher, Conraria dizia que “temos de decidir se queremos levar as alterações climáticas a sério, se queremos reduzir a poluição a sério ou não. Quem pensa que vamos reduzir brutalmente as emissões de CO2, fazer uma transformação completa em meia dúzia de anos sem isto ter impactos negativos no crescimento económico está enganado. As pessoas estão todas enganadas se pensam que isto tudo pode ser feito sem que tenha impactos fortemente negativos na economia. O que estamos a ver aqui é uma pequenina ilustração desses custos e ou estamos dispostos a tê-los ou não estamos”.

Uma posição que contrariava Mira Amaral que, nessa altura, criticava a política de desarborização. “É tudo muito bonito, mas este ritmo a que querem fazer é totalmente irrealista. Não há carros elétricos, nem alternativas de um dia para o outro. Estas transições são lentas não são como estes pirómanos ambientais de Bruxelas querem fazer”.

Moderação Mais cauteloso é João Duque ao defender que provavelmente é possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. “Por um lado, poderemos manter desenvolvimento económico e, por outro lado, ter algum cuidado e avançar com algumas ações de mitigação”. Mas nesse caso acredita que será necessário penalizar as atividades poluidoras. “Mas neste caso temos de estar preparados para o facto de que tudo vai encarecer e, ou as pessoas vão consumir menos ou vão ter de consumir outras coisas e fazer outras atividades”, afirma ao i.

No entanto, reconhece que não tem a verdadeira noção “de qual é o estrago que temos”. E acrescenta: “Posso acreditar piamente que os ambientalistas têm toda a razão e se olharmos para Greta Thunberg vimos que já é tarde, no entanto, a questão é saber até que ponto é que estes impactos são totalmente verdadeiros porque mesmo junto dos cientistas as opiniões não unânimes: uns dizem que não é bem assim, enquanto outros dizem que já é tarde para mudar”.