Placas de líderes da descolonização africana ‘rebatizadas’ pela Nova Portugalidade

Ruas em honra a Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Samora Machel e Vasco Gonçalves foram ‘rebatizadas’.

Na noite de ontem para hoje, em Lisboa, o movimento Nova Portugalidade procedeu ao ‘rebatismo’ de algumas placas toponímicas associadas à independência das colónias portuguesas em África e ao Comunismo. Fê-lo, explicam no seu Facebook, de forma a colocar um travão no “terrorismo cultural”.

Assim, substituíram as placas identificadoras das ruas Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Samora Machel e Vasco Gonçalves – todos nomes associados à independência das antigas colónias e ao Comunismo – por outras com os nomes de Marcelino da Mata, José Pinheiro da Silva, Joana Simeão e João Bacar Jaló, respetivamente. Segundo o movimento, os nomes inscritos nas ‘novas placas’ representam "Portugueses, nascidos em África, que, nos seus respectivos domínios, se bateram por Portugal e pela sua expressão no mundo".

O objetivo deste protesto – autointitulado “pacífico” – é o de “chamar a atenção dos Portugueses para a necessidade de revalorizar a relação do país com uma história de mais de cinco séculos feita em conjunto com outros povos”, assim como “discutir as narrativas que sustentam a homenagem no espaço público a declarados inimigos de Portugal”.

Contactado pelo i, Rafael Pinto Borges, Presidente do movimento Nova Portugalidade (e número três pelas listas do Aliança ao Círculo de Lisboa), afirmou este ser o “tempo” de “descolonizar o espaço público do domínio totalitário de uma ideologia ultrapassada” (utilizando, assim, o discurso das correntes pós-colonialistas mas no sentido oposto).  Considera, também, ser “incrível” que “os responsáveis pela implantação de tiranias sanguinárias nos países irmãos da Portugalidade, responsáveis mesmo pela morte de milhões de homens e mulheres que nasceram portugueses, continue a ser objecto de tributo público em Portugal”. Refere-se a Agostinho Neto como sendo o assassino de “80 000 angolanos”, notando que pretende, “com este protestos”, lembrar essas “vítimas”, “a quem as autoridades revolucionárias, em Portugal, entregaram o poder contra a promessa de um referendo sobre a independência e de uma transição para a democracia”.

Rejeita a nomenclatura de “reacionário” e afirma-se apenas defensor do “direito dos portugueses a um espaço público que honre quem serviu Portugal”. “É tempo de abraçar a História com rigor, por um lado, e de voltarmos a ser uma comunidade política com dignidade, por outro”, acrescenta.

Negando a ação ter sido inspirada na do PSD Seixal – que em agosto ‘rebatizou’ algumas placas toponímicas com o objetivo de “limpar o Comunismo do Seixal” -, Pinto Borges termina “saudando todas as iniciativas patrióticas, da esquerda ou da direita, cujo propósito seja pôr cobro a essa imensa violência simbólica de que os portugueses são sistemicamente alvo”.

O movimento Nova Portugalidade integra um conjunto de membros nas listas do Aliança para as eleições de dia 30. Entre eles, a destacar Miguel Castelo Branco, sexto por Lisboa, e Hugo Dantas, sexto pelo Porto.