Vacina portuguesa à espera de apoio estatal há seis meses

Immunethep terminou testes não clínicos da sua vacina a meio de 2021, mas diz necessitar de financiamento estatal para poder avançar com o projeto.

A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela portuguesa Immunethep está há seis meses à espera de financiamento estatal, para dar início a ensaios clínicos e poder ser distribuída no mercado.

“Os projetos que têm avançado e estão no mercado neste momento, tiveram todos um apoio estatal que lhes permitiu avançar mais rápido do que aquilo que é o normal”, afirmou Bruno Santos, cofundador e administrador da empresa de biotecnologia, em declarações à Lusa.

"No nosso caso, ainda não tivemos uma injeção de capital que permitisse ter essa velocidade. Até meio do ano [de 2021] terminámos todos os ensaios não clínicos, em animais, que mostram quer a eficácia, quer a segurança da nossa vacina [administrada por inalação]. E, desde essa altura, que estamos a aguardar que haja um investimento que nos permita fazer o resto do projeto", ou seja, fazer os ensaios clínicos e chegar com a vacina ao mercado, apontou.

Para que o projeto possa avançar, Bruno Santos estima que seja necessário um financiamento “entre os 20 a 30 milhões de euros".

O administrador lembrou que, na Alemanha, “o Estado colocou 300 milhões em três empresas diferentes de biotecnologia, com tecnologias diferentes: uma delas foi a BioNTech [que desenvolveu a vacina contra a covid-19 em parceria com a Pfizer]”, acrescentando que a Immunethep necessita apenas de um apoio que equivale a “10% daquilo que o governo alemão investiu".

"E este é um financiamento com retorno, financiaram uma compra antecipada e receberam o pagamento que tinham adiantado quando receberam as vacinas de volta”, frisou, reconhecendo que “se calhar Portugal não está preparado para este tipo de intervenção” de emergência.

Segundo Bruno Santos, o Governo mostrou-se interessado em apoiar o projeto, mas remeteu a empresa "para as formas tradicionais de apoio, como o Portugal 2020 e agora o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]", que a seu ver "são bastante burocráticas, com um processo de aprovação bastante demorado e que acaba por não ser compatível com uma resposta necessária a uma pandemia".

“É aqui que pode haver um choque maior com a realidade. No nosso caso, deixa-nos em desvantagem comparativamente a outras empresas, concorrentes diretos, que tiveram esse apoio de diferentes Estados”, enfatizou o responsável da Immunethep.

Apesar das dificuldades em obter o apoio financeiro, mantém-se confiante que a biotecnológica portuguesa vai conseguir ir em frente com o desenvolvimento da vacina. “Mas claro que não à velocidade que poderíamos fazer. Outras empresas, noutros países, que tiveram esse financiamento, já podem estar a vender os seus produtos e nós, se tivéssemos tido um apoio desse género, também poderíamos estar a fazer o mesmo a partir de Portugal”, reforçou.

Quanto a uma eventual disponibilização no mercado, o administrador da Immunethep referiu que a aprovação da nova vacina “depende muito das entidades regulamentares”, mas não antecipa um prazo para essa autorização poder ocorrer.