Maiorias absolutas, o castiço Boris e os extremos

Estou em crer que os resultados da noite de 30 de janeiro andarão muito longe do propagado pelos palpiteiros de serviço que se comportaram, muitas das vezes, como os cartilheiros dos clubes de futebol

1.Ao fim de tantos anos ainda não percebi a discussão sobre o pedido de maioria absoluta do PS ou do PSD. Se concorrem às eleições, é para não ganharem por muitos? Por acaso, se o PCP e o BE, e os restantes partidos, conseguissem ganhar as eleições elegendo 116 deputados iriam rejeitar essa maioria? Ou iriam dizer aos outros partidos  para entrarem no Governo, já que são contra as maiorias absolutas? A história é, obviamente, absurda. Como o nosso sistema político não permite ao partido vencedor, que não tenha maioria absoluta, aprovar os seus orçamentos é natural que os maiores partidos não queiram depender dos outros.

A este propósito diga-se que a novela criada por António Costa foi digna de um filme de António Silva, pois a forma como pediu 115 deputados mais um, recusando a palavra maioria absoluta, vai ficar na história da política portuguesa.

2.Acabaram os debates, muitos deles a roçar a indigência, e começa agora a campanha propriamente dita. Estou em crer que os resultados da noite de 30 de janeiro andarão muito longe do propagado pelos palpiteiros de serviço que se comportaram, muitas das vezes, como os cartilheiros dos clubes de futebol. Uma vez mais a abstenção será a grande incógnita e já ouvi muita gente na rua a dizer que não quer ir votar para não se misturar com os ‘covidados’. Muitos, acredito, nunca votaram e arranjaram mais um argumento para continuarem a não conhecer as mesas de voto. Outros, revoltados com os confinamentos que deram cabo dos seus negócios, protestam contra a reunião de confinados. Na verdade, ninguém que vá votar saberá se está ao lado, à frente ou atrás, de alguém que está positivo à covid. Segundo os últimos dados, deverá haver um milhão de infetados nessa altura, embora a larga maioria – mais uma vantagem das maiorias – deverá estar sem sintomas.

Para retirar argumentos àqueles que dizem ter medo de apanhar covid no ato eleitoral, talvez não fosse mal pensado o Governo transformar, nesse dia, os centros de vacinação em locais de voto. Todos aqueles que estão confinados poderiam assim exercer o seu direito de voto.

Veremos como o sistema político se irá limpar de toda esta trapalhada, embora quem sempre votou não deixará de o fazer por receios de saúde.

3.Já o disse, mas volto a dizê-lo. Acho imensa piada a Boris Johnson, desde os tempos de mayor de Londres, pois o homem  não liga muito a convenções, embora no caso das festas se tenha esticado. O que gostaria de saber é se os ingleses estão a viver melhor ou pior desde o seu consulado. Mas hoje não se discute a essência, apenas o acessório interessa.

4.Por fim uma palavra para Carlos Guimarães Pinto que dá uma entrevista ao Nascer do SOL onde assume o que muitos escondem. Diz de sua justiça e sobre as críticas de que estaria drogado na noite eleitoral de 2019, Guimarães Pinto é muito claro: «Não estava, mas até podia estar se fosse noutra noite, que não a eleitoral». Liberal convicto, percebe-se que, além das questões dos costumes, pensa pela sua cabeça e não é uma Maria vai com as outras. O exemplo que dá do apoio de partes da população da Europa central à extrema-direita se dever ao facto de terem sido estes a lutarem contra as ditaduras comunistas é excelente. O mesmo se passa em Portugal, onde o PCP tem um certo carinho de boa parte da população por ter lutado contra a ditadura. Nunca tinha associado uma coisa à outra, mas é muito bem visto.

vitor.rainho@sol.pt