As legislativas e o novo ciclo

Por outro lado, agravaram-se as desigualdades com a pandemia, assistindo-se, por efeito desta, à subida não prevista dos preços, aumentando a inflação e enfraquecendo o valor do dinheiro. 

As próximas eleições legislativas abrirão um novo ciclo político-económico em Portugal por causas internas e externas que se interligam.

As consequências da pandemia da covid-19 vieram tornar mais evidente o impacto que esse novo ciclo terá. 

Dada a importância do voto para o futuro dos portugueses, a Associação Cívica Participar+ apela aos responsáveis dos órgãos de soberania, aos partidos políticos, à comunicação social e às instituições da sociedade civil para tudo fazerem, no sentido de ser garantida a maior participação dos eleitores.

A mobilização não pode deixar de ser precedida, no tempo que falta, da informação e do debate das causas subjacentes ao surgimento de um novo ciclo e às suas implicações.

É que só a interiorização da consciencialização dessas causas conduzirá ao reconhecimento da importância do reforço dos desígnios nacionais que se vão colocar e que estão para além de questões conjunturais, porque têm a ver com a estratégia do país, que tão arredada anda da vida política. 

O mundo atual, que é global, interdependente e, agora, multipolar, apresenta uma realidade geoestratégica sensível e prioritária para as duas principais potências, os EUA e a China. 

A tensão existente ultrapassa a região do Índico-Pacífico, não sendo a UE e os países que a integram alheios às suas consequências.

Noutro plano, o que ocorre entre a Rússia e a Ucrânia, numa altura em que tomou posse um novo executivo na Alemanha, que nomeadamente terá de lidar com a dependência energética europeia da Rússia, está longe de ser uma questão secundária ou negligenciável para a própria UE.

Acresce que o endividamento público superior a 100% do PIB de três dos países mais relevantes da UE, a Espanha, a França e a Itália, percentagem esta que é, também, a da média de todos os países que integram a UE, tem impacto significativo nos equilíbrios económicos e financeiros

É previsível, por isso, que o BCE – Banco Central Europeu – não continue a adquirir parte da dívida externa dos países da UE nos moldes e limites que vem fazendo, ao que acrescerá uma provável pressão sobre os juros.

Por outro lado, agravaram-se as desigualdades com a pandemia, assistindo-se, por efeito desta, à subida não prevista dos preços, aumentando a inflação e enfraquecendo o valor do dinheiro. 

Sendo a realidade o que é e tendo presente o crescimento muito anémico do PIB nos últimos 20 anos em Portugal, há que priorizar o reforço da afirmação de Portugal no mundo, não só no quadro da UE mas também da lusofonia e das relações ibero-americanas, objetivo a prosseguir em articulação com as imprescindíveis respostas que devem ser dadas visando um maior desenvolvimento económico. 

Para qualquer destes objetivos, a invocação no espaço democrático, de linhas vermelhas, que dificultem ou impeçam o diálogo entre os vários agentes, é impeditiva de uma correta análise da realidade. 

Estão, de facto, em causa, respostas que são inadiáveis no setor da economia que, em concreto, atendam à necessidade de um crescimento muito significativo do PIB, acima da média europeia, garantindo-se, ao mesmo tempo, a defesa da qualidade de vida dos portugueses, desde logo, com o reforço do SNS e com salários e reformas dignas, assentes num sistema de segurança social sustentável. 

Evocar o setor da economia não exclui a necessidade de atender a políticas que respondam ao declínio demográfico do país, à superação das assimetrias regionais, ao ambiente e aos oceanos, bem como a reformas que se impõem na defesa, na justiça, na educação e na administração central, regional e local. 
Que não haja ilusões! 

Há mesmo prioridades inadiáveis, que são múltiplas, sentidas pelos cidadãos e por eles desejadas, que exigem o concurso e a contribuição de todos. 

É para essas respostas que os cidadãos vão ser convocados. 

Está em causa a natureza do caminho que se quer para o país, num novo e decisivo ciclo, que justifica e legitima o apelo que, por esta via, se formula, para a participação no próximo ato eleitoral e, sobretudo, para a consciencialização do sensível quadro, externo e interno, em que o novo ciclo se vai desenvolver.