Vacas de cartão invadem o Marquês

Associação pretende alertar para a crise no setor do leite.

Uma manada de vacas de cartão invadiu este domingo o Marquês de Pombal, em Lisboa, com o objetivo de alertar para a crise do leite. Os cartazes foram lá colocados pela Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) que se sente abandonada pelos dirigentes políticos na "maior crise de que tem memória".

"Os principais dirigentes políticos abandonaram os produtores de leite", lê-se num comunicado divulgado pela associação, que acrescenta que se sentem abandonados todos os dias numa altura em que atravessam a "maior crise de que têm memória".

A Aprolep deixa uma crítica ao primeiro-ministro, à ministra da agricultura e à generalidade dos políticos por ficarem em silêncio quanto à produção de leite, enquanto a agricultura e o mundo rural desaparecem.

"O Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PAC), apresentado a 30 de dezembro de 2021, ignora as dificuldades deste setor, optando por medidas públicas que claramente prejudicam os produtores de leite, como é o caso da convergência a 100% que reduz as ajudas ao rendimento deste setor em mais de 50%, de um pagamento ligado ao milho silagem que é metade da ajuda ao milho grão, e eco-regimes com orçamento insuficiente para o desafio que nos é pedido por Bruxelas", refere a nota.

A Aprolep alerta que, sem esses apoios, "o preço do leite tem que aumentar. Em cada ano abandonam o setor leiteiro cerca de 200 produtores. A este ritmo a produção de leite em Portugal vai desaparecer em poucos anos".

A associação considera que "a agricultura é esquecida por estar longe de Lisboa e ter pouco votos, mas é a agricultura que alimenta todos os que votam e são eleitos", afirmando ainda que o setor sofreu "enormes prejuízos" ao longo de 2021 devido aos "brutais aumentos" dos custos de alimentação para as vacas, apenas minimizados por um aumento do preço do leite "insuficiente" para o custo de produção.

"Entramos em 2022 com novos aumentos de custos com rações, energia, adubos e outros fatores de produção, aumentos na ordem dos 30%, com alguns produtos a dobrar o preço de custo, como é o caso dos fertilizantes", acrescenta, sublinhando que tal representa "um acréscimo de 40 cêntimos no custo de produção por litro".

Para a Aprolep, é "essencial" que o novo governo "seja capaz de criar rapidamente um observatório dos custos de produção e um mecanismo capaz de atualizar os contratos e indexar o preço do leite a esses custos e ao preço comunitário, sem que seja preciso os agricultores estarem constantemente a manifestar-se deixando o seu trabalho para colocar vacas ou tratores em Lisboa".