Terror numa sinagoga texana pela libertação da “lady Al Qaeda”

O FBI libertou três reféns na sinagoga de Colleyville, após um cerco de 10 horas que culminou na morte do sequestrador. 

Uma equipa de resgate do FBI tomou de assalto uma sinagoga em Colleyville, no Texas. Ouviram-se tiros e explosões no interior do edifício, avançou a Reuters, provavelmente de granadas atordoantes, antes da crise culminar na libertação dos três restantes reféns, tendo o seu sequestrador morrido.

“Preces respondidas. Todos os reféns saíram vivos e seguros”, tweetou o governador texano, Greg Abbott, depois de dez horas de terror, após um homem armado interromper o serviço religioso de sábado, às 10h41 (16h41 em Portugal continental) enquanto este era transmitido em direto no Facebook, durante mais de três horas, até à transmissão ser interrompida. 

O atirador foi identificado como sendo Malik Faisal Akram, um cidadão britânico de 44 anos, que terá comprado a arma que usou nas ruas, descreveu o Presidente Joe Biden, passando a noite num abrigo para sem-abrigos quando aterrou no país. 

Imagens da WFAA, um canal local de Dallas, mostram fiéis a fugir da sinagoga, seguidos de Akram, de arma na mão, que espreita e volta a entrar, fechando a porta atrás de si, escutando-se disparos em seguida. 

Durante as horas seguintes, a calma demonstrada pelo rabi Charlie Cytron-Walker, um dos reféns, foi crucial para manter a situação sob controlo, acalmando os fiéis da sua congregação, saudaram as autoridades americanas. Enquanto isso, o sequestrador, cercado por um forte aparato policial, incluindo uma equipa de SWAR, gritava que sabia que ia morrer e não queria magoar ninguém, avançou o Fort Worth Star-Telegram. Ia falando ao telemóvel com familiares, que o tentava dissuadir a libertar os reféns, tendo o irmão de Akram contado à Sky News que este sofria de problemas de saúde mental. 

Pelo meio, o atirador exigia a libertação de Aafia Siddiqui, uma neurocientista paquistanesa de 49 anos, condenada a 86 anos de prisão em 2010, acusada de tirar a arma de um guarda e disparar contra os oficiais americanos que a interrogavam em Ghazni, no Afeganistão. 

Há muito que Siddiqui – uma antiga aluna da reputada Universidade de Brandeis e do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, em inglês), inicialmente detida por suspeita de apoiar a Al Qaeda, e que cumpre pena em Fort Worth, a uns vinte minutos Colleyville – virou ícone de grupos jiadistas pelo mundo fora, símbolo da brutalidade da guerra ao terror, sendo alcunhada como “lady Al Qaeda” pela imprensa americana.

Aliás, a libertação de Siddiqui foi uma das exigências dos terroristas do Estado Islâmico que raptaram o fotojornalista americano James Foley, em 2012, que fora raptado na Síria e acabaria por ser decapitado, perante as câmaras, dois anos depois.

Siddiqui pode pode ser pouco conhecida entre americanos, mas virou uma causa célebre no seu país natal, tendo o primeiro-ministro à data da sua detenção, Yousuf Raza Gilani, apelidando-a como “filha da nação”. Dois anos depois, quando dirigentes paquistaneses se ofereceram a mediar o resgate do sargento Bowe Bergdahl, capturado pelos talibãs, a sua exigência era que Siddiqui fosse posta em liberdade, avançou na altura a Foreign Policy.

Entretanto, a prisão de Siddiqui inspirou ataques de “lobos solitários” nos EUA, mas também críticas de organizações de defesa de direitos civis ou grupos islâmicos moderados, que consideram que esta foi condenada com provas insuficientes. “As tropas americanas podem ter todas saído do Afeganistão em agosto”, disse Peter Bergen, analista de segurança da CNN. “Mas a mais longa guerra da América continua a ressoar ainda hoje”.