Inverno demográfico

Não estou a dizer que a eutanásia será um meio para reduzir a despesa pública, mas se não houver outra solução os pobres começarem a não ter acesso à saúde, aos bens essenciais, e o Estado entrar em falência, vamos ter de desaparecer todos deste retângulo à beira mal plantado.

Esta semana ouvi Ana Drago a comentar um estudo recente sobre o Inverno Demográfico em Portugal. O que é que isto significa? Como a natureza morre no inverno e ressuscita na primavera, assim Portugal está a morrer e sem esperança de haver uma primavera de nascimentos de crianças à vista.

É verdade! Só agora é que estamos a perceber que estamos a morrer. Só agora é que estamos a perceber que não há nascimentos suficientes para repor a nossa população e, para quem se preocupa com a sua velhice, para pagar as reformas dos que estão a envelhecer. 

Este é um facto importante, principalmente num tempo de pré-campanha eleitoral, porque se não temos nascimentos suficientes para repor a população e os poucos jovens estão a emigrar para outros países, onde têm os seus filhos, isto significa a falência do Estado social.

Se não há nascimentos, não vai haver população ativa, em Portugal. Se não houver população ativa, não haverá descontos. Se não houver descontos, o Estado, por muito que queira, não terá oportunidade para pagar abonos, reformas, saúde, etc.. Porque o dinheiro que o Estado investe nas escolas, nos hospitais, nos espaços públicos, nas reformas, etc., não é propriamente dinheiro do Estado, mas nosso. 

Isto significa que, no futuro, se o Estado não tiver maneira de encaixar dinheiro para prosseguir os seus fins, terá duas hipóteses: ou vai buscar imigrantes que queiram descontar em Portugal, ou vai aprovar a eutanásia para baixar as suas despesas.

Não estou a dizer que a eutanásia será um meio para reduzir a despesa pública, mas se não houver outra solução os pobres começarem a não ter acesso à saúde, aos bens essenciais, e o Estado entrar em falência, vamos ter de desaparecer todos deste retângulo à beira mal plantado.

Para onde temos de caminhar, então?

Eu penso que, tal como temos todos de respeitar e apoiar os jovens que não querem ter filhos, temos, também, de respeitar e aqueles jovens que querem ter filhos. Aliás, eu diria, temos de apoiar ainda mais estes.

Alguns pensam, e mal, que a Igreja defende que as famílias devem ter muitos filhos. Não é verdade! A encíclica tão atacada de Paulo VI, sobre a vida humana, era clara ao referir que a abertura era legítimo regular os nascimentos por diversas razões.

O problema que hoje nos deparamos é muitíssimo grave para os casais que querem ter filhos e, eu diria, são muitos. São muitos os casais que querem constituir uma família, ter descendência, ter alegria da maternidade e da paternidade.
Mas, com estas rendas de casa? Com estes ordenados miseráveis? Como se pode ter uma vida digna, até mesmo sem filhos?

Se pensarmos numa renda de quinhentos euros – na periferia de Lisboa, claro – com um ordenado de seiscentos e cinquenta euros, como pode um jovem, mesmo sem mulher e sem filhos, sair da casa dos pais? 

Eu gosto muito daquela música dos Deolinda  Parva que sou,  porque resume, de forma incrível, a situação em que a nossa geração se encontra hoje. 

Temos de o dizer claramente… é impossível viver-se com seiscentos e cinquenta euros em Portugal e ter uma vida digna. As pessoas passam a vida a trabalhar para pagar contas e nada mais. 

Talvez seja hoje de pararmos agora um pouco e pensarmos o que podemos fazer, como sociedade, para ajudar os jovens a entrar na aventura do casamento, da paternidade e da maternidade. É altura de revermos não tanto os apoios sociais, mas de regularmos os mercados de arrendamento e os ordenados. 

Está na hora de equilibrarmos o poder de compra dos portugueses, para que não tenhamos um dissabor ainda maior quando chegar o momento das nossas reformas.