Horta Osório. A ascensão e queda do Special One da banca

O Special One da banca esteve apenas nove meses à frente do Credit Suisse: não conseguiu (ou não quis) resistir à violação das regras de prevenção contra a covid-19 na Suíça e no Reino Unido. Banqueiro português acredita que a sua demissão “tem em conta o interesse da instituição e dos seus acionistas”, numa altura…

O Special One português do mundo da banca bateu com a porta ao segundo maior banco suíço. António Horta Osório renunciou ao cargo de presidente do Credit Suisse, nove meses depois de ter assumido a liderança da instituição bancária, na sequência de uma investigação interna levada a cabo pelo banco para determinar se teria ou não quebrado as regras em vigor para fazer frente à crise pandémica. Agora explica os motivos da sua saída: “Lamento que várias das minhas ações pessoais tenham levado a dificuldades para o banco e comprometido a minha capacidade de o representar interna e externamente”, disse em comunicado, acrescentando que “desta forma, acredito que a minha demissão tem em conta o interesse da instituição e dos seus acionistas nesta altura crucial”.

No início do mês, o chairman do Credit Suisse tinha garantindo que o banqueiro português iria ser repreendido formalmente pelo conselho de administração, depois de uma investigação interna ter confirmado que Horta Osório violou as regras internas sobre a covid-19, pela segunda vez. Em causa esteve a sua entrada, no final de novembro, na Suíça, violando as regras de quarentena. Uma situação que foi confirmada pelo próprio, alegando não ter sido intencional e que a viagem tinha sido reportada às autoridades de saúde suíças e ao regulador financeiro. Mas este não foi um caso inédito. O mesmo já tinha acontecido em julho ao comparecer no torneio de ténis em Wimbledon quando deveria estar em isolamento, contrariando as normas do país.

O banqueiro português tinha sido chamado à liderança do Credit Suisse para gerir a crise criada pelos escândalos do Greensill Capital e do Archegos Capital Management, que custaram ao banco mais de cinco mil milhões de dólares (mais de 4,3 milhões de euros). Aliás, a queda do Greensill foi o primeiro dos dois grandes problemas sofridos em 2021, seguindo-se logo depois o colapso da Archegos Capital Management, que o banco suíço tinha financiado com milhares de milhões de euros.

O Credit Suisse continua assim a braços com uma das piores crises desde 2008 que Horta Osório não conseguiu resolver, saindo pela porta pequena. No dia em que anunciou a sua saída, as ações da instituição financeira recuaram 2,26% para 9,33 francos suíços (8,94 euros).

“Clube” dos grandes banqueiros Apelidado de samurai da city pelo El País ou de Special One da banca para outros, esteve 10 anos à frente do Llodys, considerado um dos maiores bancos britânicos de retalho. Abandonou a presidência em junho passado – apesar de ter anunciado a sua saída com mais de um ano antecedência – após concluir o terceiro plano estratégico desenhado para o banco que tinha como principais objetivos prepará-lo para um mundo digital. A partir daí, estava pronto para rumar à Suíça.

Em 2020 recebeu o prémio da Foreign Policy Association em Nova Iorque, pela sua carreira internacional desenvolvida em vários países e pela forma como tem contribuído para divulgar o seu conhecimento público dos assuntos económicos e financeiros internacionais. Recebeu também o Visionary Award da Associação britânica REBA, por liderar a abordagem exemplar do Lloyds ao bem-estar mental dos funcionários e da sociedade como um todo e foi nomeado cavaleiro do Reino de Isabel II pelo papel que despenhou na recuperação da instituição financeira britânica após a crise financeira. E foi ainda considerado uma das 50 personalidades mais influentes do mundo pela Fortune.

O facto de ter assumido publicamente que sofreu de esgotamento não o fragilizou, pelo contrário, já que esta discussão em torno do tema nunca tinha sido feita abertamente entre CEO’s de topo.

Casado e com três filhos, é conhecida a sua paixão pelo sushi, mergulho, ténis e esqui. O banqueiro é licenciado em Gestão e Administração de Empresas, na Católica, tendo começado a sua carreira no Citibank. Já a trabalhar concluiu MBA no Insead, acabando por ser recrutado pela Goldman Sachs. Desenvolve a sua atividade em Nova Iorque e Londres, ligado ao corporate finance para Portugal. Daí até entrar no Santander foi um salto. Aos 39 anos, transformou-se no mais jovem presidente de um banco em Portugal e conseguiu transformá-lo num dos maiores bancos nacionais depois de ter conseguido comprar o Totta e o Crédito Predial, carimbando assim o passaporte para o clube dos grandes banqueiros portugueses. Mais tarde acabou por largar a bomba ao afirmar que ia sair do país.

Ainda assim, esteve sempre atento aos problemas da economia portuguesa. Horta Osório falou várias vezes no problema de falta de ambição do país e chegou a alterar para os níveis “preocupantes” do crédito mal parado da banca portuguesa.

Recentemente afirmou que “é dramático que em Portugal se ganhe mil euros em média por mês”, enquanto “na Irlanda se ganha o dobro” e “em Espanha se ganha 50% mais”. E foi mais longe ao questionar: “Estamos satisfeitos com o nível de riqueza que temos? Estamos satisfeitos com o país que não cresce? Não deveríamos ter uma ambição maior?”.

Outras polémicas Esta não é a primeira vez que Horta Osório está envolvido em polémicas. Para trás, ficou o escândalo de ter pago despesas pessoais com dinheiro do banco quando esteve em Singapura para participar na Conferência Monetária Internacional. A informação foi avançada pelo jornal The Sun e apontava para faturas na ordem dos quatro mil euros. A juntar “à festa”, os gastos teriam sido feitos com uma amiga consultora de Tony Blair com quem o banqueiro foi fotografado a passear em Singapura. Na altura, houve rumores de que se trataria de um caso extraconjugal. A história ganhou maiores contornos, já que foi o próprio banqueiro que, três anos antes, introduziu na instituição financeira um código de conduta para todos os empregados. Um dos pontos prendia-se com a imagem que deveria ser passada pelos trabalhadores do banco: deveriam adotar um comportamento moderado e ter em conta a forma como este seria visto pela família e amigos.

O senhor que se segue Axel Lehamn foi a escolha do Credit Suisse para substituir o banqueiro português, onde já estava a trabalhar desde outubro passado. “Lehmann é o ideal para conduzir a transformação estratégica do banco”, disse o vice-presidente do Credit Suisse, Severin Schwan, no mesmo dia em foi conhecido o pedido de renúncia por parte do gestor português.