Reino Unido foi pressionado a banir a Huawei pelos EUA

Um antigo secretário de Estado denunciou que as secretas britânicas garantiram que era seguro usar a tecnologia deste gigante chinês. 

A decisão de banir a Huawei dos projetos para construção da rede 5G no Reino Unido, em julho de 2020, “não teve nada a ver com a segurança nacional”, denunciou Vince Cable, antigo secretário de Estado britânico para os Negócios e Indústria. Se esse foi o pretexto usado pelo Governo de Boris Johnson, que assegurou estar a responder às reticências dos peritos do Centro Nacional de Cibersegurança (NCSC, em inglês), Cable assegurou que enquanto esteve no Governo, nos tempos de David Cameron, tanto os serviços secretos como as forças de segurança asseguraram-lhe repetidamente que não havia qualquer risco no uso dos serviços da Huawei. Só há uma explicação para a súbita viragem. “Foi porque os americanos nos disseram que o devíamos fazer”, rematou Cable, antigo líder dos Liberal Democratas, falando numa conferência, citado pelo Euractiv.

Recorde-se que, por essa altura, o mundo assistia ao desenrolar da guerra comercial entre os EUA e a China. A administração de Donald Trump estava em pânico com a perspetiva de perder a corrida ao 5G, dado o avanço que a Huawei já tinha, e reagiu acusando este gigante tecnológico chinês de ser controlado por Pequim, como uma forma de ganhar acesso às comunicações destes países.

O resultado foi uma enorme pressão da Casa Branca sobre os seus aliados, exigindo que abandonassem todo o uso de equipamentos ou serviços da Huawei na construção da rede 5G. A maior parte dos países europeus, incluindo Portugal, recusaram, tentando não alienar investimento chinês, ao manter alguma distância do conflito económico. Os EUA só conseguiram recrutar países particularmente próximos, como a Austrália, Japão, República Checa e Suécia. No que toca ao Reino Unido, nessa altura estava particularmente suscetível à pressão, devido ao Brexit – os conservadores de Johnson tinham passado anos a prometer que compensariam a quebra das suas ligações ao bloco europeu com acordos comercias com os restantes países anglófonos, em particular os EUA. 

“Se o Reino Unido tivesse mantido o 5G, estaríamos na liderança dos países usando as tecnologias mais avançadas. Mas não estamos”, lamentou Cable. Entretanto, ainda esta segunda-feira um centro de investigação chinês, o Laboratório das Montanhas Púrpura, anunciou que fez avanços cruciais, conseguindo pela primeira vez pôr a funcionar em laboratório uma rede 6G, capaz de transmitir até 206,25 gigabits por segundo, avançou o South China Morning Post.