Mundial de Ralis. Monte Carlo em alta voltagem

O mítico Rali de Monte Carlo marca o início da era híbrida nas provas de estrada. Toyota, Hyundai e Ford apostam forte nos novos Rally 1 e querem brilhar no rali mais mediático do mundo.

O Mundial 2022 começa este fim de semana nas estradas tortuosas e geladas à volta do Mónaco, com o aliciante da estreia dos carros híbridos, uma tecnologia cada vez mais usada no desporto automóvel. É um desafio de alta voltagem para homens e máquinas.

Os construtores responderam à nova regulamentação técnica que impõe a tecnologia híbrida com impressionantes máquinas de competição; a Toyota vai alinhar com o Yaris, a Hyundai desenvolveu o i20 N e a Ford apresenta o bonito Puma. Os novos Rally 1 têm motor térmico 1.6 turbo e motor elétrico de 100 kW (134 cv) associado a uma bateria de 3,9 kWh, capazes de desenvolver uma potência conjunta superior a 500 cv.

Os pilotos vão usar cartografias de motor pré-programadas e podem utilizar os dois tipos de motor nas classificativas, mas nas estradas e parques de assistência são obrigados a circular no modo elétrico, ou seja, sem emissão de gases poluentes. A bateria que alimenta o motor elétrico é recarregada em apenas 25 minutos em zonas específicas para o efeito. A adoção da tecnologia híbrida e a utilização de combustíveis 100 por cento ecológicos (mistura de componentes sintéticos e biocarburantes) constituem um passo em frente com vista à sustentabilidade.

Os novos carros têm chassis tubular em aço de alta resistência, uma célula de sobrevivência capaz de resistir a embates violentos e o motor elétrico tem uma proteção em fibra de carbono capaz de aguentar um impacto de 70 g. Dispõem de tração integral e caixa semiautomática de cinco velocidades. Há grande liberdade na aerodinâmica, o que explica o aspeto verdadeiramente agressivo dos carros. Vão igualmente estar equipados com uma câmara que regista imagens em todas as direções e permite ver a colocação dos espetadores, se as condições de segurança não forem as ideais a classificativa é cancelada. O custo estimado de cada Rally 1 é de 500.000 euros, ou seja, metade do que custavam os anteriores WRC.

Para a 50.ª edição do campeonato do Mundo de ralis, a Toyota vai alinhar com quatro carros para Elfyn Evans, Kalle Rovanperä e Esapekka Lapi. O campeão do mundo Sebastien Ogier vai estar no mundial em part-time, e marca presença em Monte Carlo. A Hyundai vai alinhar com quatro i20 N para Ott Tänak, Thierry Neuville, Oliver Solberg e Dani Sordo. A M-Sport apresenta quatro Ford Puma para Sebastian Loeb, nove vezes campeão do Mundo, Adrien Fourmaux, Craig Breen e Gus Greensmith. São estes os 12 magníficos que vão acelerar nas 13 provas que compõem o campeonato do Mundo deste ano, que tem passagem por Portugal entre 19 e 22 de maio.

Potentes e menos poluentes Os testes de preparação para a primeira prova do ano deram boas indicações sobre a tecnologia híbrida, com o boost elétrico os carros conseguem melhores performances e atingem velocidades impressionantes. Esta época será de aprendizagem, já que estão previstas evoluções nos próximos três anos.

Os pilotos estão na expectativa sobre o que valem os novos Rally 1. “Fiquei impressionado com o potencial do carro e isso deixa-me agradado. Todos nós queremos mais potência e estou confiante que a equipa vai evoluir o carro em rendimento e fiabilidade”, avançou o campeão do Mundo, Sebastien Ogier. O seu colega de equipa Elfyn Evans reconheceu: “É difícil saber qual a equipa que trabalhou melhor e quais os pilotos que se vão adaptar mais rapidamente à nova tecnologia, estamos numa total incerteza”.

Do lado da Hyundai, há igualmente muitas dúvidas: “Vai ser um ano muito excitante, provavelmente com altos e baixos para toda a gente, mas gosto deste tipo de aventuras. Com a era híbrida cada equipa vai ter de jogar entre as performances e a fiabilidade. O período de desenvolvimento foi curto e ninguém sabe onde se situa face à concorrência. O início de época vai ser de aprendizagem para todos, mas o nosso objetivo é o mesmo de sempre: ganhar”, referiu Thierry Neuville. 

Adrien Fourmaux coloca a questão na parte da pilotagem “quando os dois motores se associam há um ganho de potência muito interessante, e isso modifica um pouco a forma de conduzir, temos que saber travar para aproveitar o boost do motor, mas é um prazer conduzir este carro”, disse o piloto da Ford.

Fiabilidade As equipas partiram de uma folha em branco e trabalharam em contrarrelógio para desenhar e construir os novos Rally 1. Seguiu-se um intenso programa de testes que só terminou duas semanas antes do Monte Carlo ir para a estrada.

“A fiabilidade é um fator determinante para todas as equipas. Há novidades em vários domínios e uma grande incerteza sobre o que poderá acontecer. Vai ser uma época apaixonante”, considera Jari-Matti Latvala, o responsável da Toyota.
Julien Moncet, director da Hyundai, diz ser “um salto para o desconhecido para todas as equipas, mas estamos convencidos que fizemos um bom trabalho. Não conhecemos verdadeiramente as performances do carro face aos rivais, mas pensamos que a integração dos dois motores e de todos os componentes no chassis é perfeita.”

Malcolm Wilson, patrão da M-Sport Ford, estima que a fiabilidade é um fator crucial na primeira época dos Rally 1. “As mudanças introduzidas este ano representam um passo em frente no plano tecnológico. Estou particularmente entusiasmado com a nova temporada, pois temos uma equipa forte, capaz de obter fantásticas performances. As longas classificativas feitas a um ritmo infernal podem colocar alguns problemas aos novos carros. Quem melhor preparou a prova sairá vencedor”.