Acabe-se com a família

Caminhamos, como também já o escrevi, para o pensamento único, em muitas matérias

Numa altura em que os números não mentem, nunca tinha havido tão poucos nascimentos em Portugal desde 1886 como no ano passado – menos de 80 mil – o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra decidiu organizar um debate com o sugestivo nome de ‘Reflexões não-monogâmicas e porquê a família deve acabar’, com a participação de Marília Moschkovich, socióloga, mestra e doutorada em educação pela Unicamp, Brasil, que se dedica à «pesquisa sobre não-monogamia, gênero e violência doméstica», além de ser poeta e militante do Partido Comunista Brasileiro, de acordo com o press release da Universidade de Coimbra.

O mesmo documento também apresenta a outra participante: «Amanda Palha é travesti, bissexual, mãe, feminista e anticapitalista. É educadora popular e especialista em estudos de gênero e da família, sendo considerada uma das mais importantes vozes do ativismo transvestigênere [sic] no Brasil atualmente. É autora do dossiê de capa da Margem Esquerda #33, sobre marxismo e lutas LGBT». 

Infelizmente não há notícias de como decorreu o debate, mas calculo que tenha sido muito inclusivo, em que os heterossexuais ou monogâmicos tenham tido muita aceitação. A nota da Universidade não dava margens para dúvidas: «O anfitrião reserva-se o direito de expulsão do/a participante que não respeite as normas da sala». Calculo que se tenham esquecido de acrescentar um x entre o/a, mas isso são contas de outro rosário. Já o escrevi várias vezes, mas que nunca fiquem dúvidas, é-me completamente indiferente se as pessoas são isto ou aquilo, se querem ser binárias ou não binárias. Repito, é-me indiferente. Trato e relaciono-me com todas as pessoas da mesma forma, embora não goste de extremismos e incomoda-me um pouco o exibicionismo, seja ele em forma de marialva ou de não-binário.

Mas agora imaginemos que a mesma universidade organizava um debate cujo lema seria monogamia e porque a família tradicional tem de ser preservada? O que diriam as/x/os histéricos do politicamente correto? Que isto era uma coisa completamente discriminatória, que a liberdade de género, com acento agudo, era uma violação dos direitos humanos. Se a isso juntasse-mos a organização do evento a alguém ligado ao Chega então não haveria dúvidas que estaríamos perante fascistas.

São estas discriminações que levam aos extremismos em vez de serem inclusivas. Que raio, agora ser heterossexual é uma aberração? Ter família – e nunca fui casado e nem tenho filhos – é assim tão mau? É óbvio que se este debate fosse organizado por uma associação LGBT não haveria qualquer problema. Cada um que discuta o que muito bem entende na sua casa. Mas uma universidade pública dedica-se a promover quem é contra o conceito de família?

Será que a Universidade de Coimbra também está imbuída do espírito marxista de que o conceito de família tinha sempre de estar ‘subjugado’ aos interesses do Estado, neste caso à causa não-binária? É por esta e por outras que a disciplina de Cidadania é tão controversa. Quem pode acreditar num Estado que patrocina debates destes, já para não falar das participantes do Partido Comunista Brasileiro, um baluarte da democracia?

Caminhamos, como também já o escrevi, para o pensamento único, em muitas matérias. O que dizer daqueles que querem reescrever a história de Harry Potter, em que o pai deste terá de ser asiático, negro ou hispânico? E a mãe terá de ser não-binária! O mundo no seu melhor. Ainda havemos de fazer manifestações contra estes totalitaristas que querem obrigar-nos a ver a vida pelos seus óculos ou bandeira. Tanto faz. Vivam e deixem viver, é só isto que se pede e que não se premeiem as pessoas pela sua cor, orientação sexual ou religião, mas sim pelo mérito.

vitor.rainho@sol.pt