Líderes dão o litro nos últimos debates na TV

Os últimos debates televisivos foram palco de propostas, acusações e críticas. Inês Sousa Real, do PAN, destacou-se pelas críticas ao PSD e, novamente, pela abertura ao diálogo. Rio, por sua vez, acusou a ‘política feita para abrir o telejornal’. O líder do PSD – bem como André Ventura, do Chega – não compareceu ao debate…

Por Joana Mourão Carvalho e José Miguel Pires

Inês Sousa Real / André Ventura: ‘Em matéria económica ninguém percebe o que o PAN defende’

Impostos, ambiente e coligações, a começar por estas últimas, foram os temas centrais do frente-a-frente entre Inês Sousa Real, líder do PAN, e André Ventura, do Chega, num dos últimos debates televisivos para as legislativas de 30 de janeiro.

Sousa Real começou por defender a abertura a coligações que tem mantido ao longo de toda a campanha, garantindo que o PAN «tem sido essencial à democracia» e relembrando que o partido não «atirou a toalha ao chão» relativamente ao Orçamento do Estado para 2022.

Sobre economia, André Ventura mostrou-se cético das capacidades do PAN, defendendo que este partido deverá ser responsabilizado pela «maior carga fiscal, a quinta eletricidade mais cara da Europa» e «uma das gasolinas mais caras da Europa», já que, acusou o líder do Chega, o PAN «viabilizou todos os orçamentos socialistas desde António Costa». Mais, Ventura acusou o partido de Inês Sousa Real de lhe ‘dar jeito’ servir de ‘muleta’. Falou-se ainda do frio nas casas, da pobreza, da acusada falta de propostas no programa do Chega e de taxas e taxinhas.

Frases 

Inês Sousa Real

– No nosso país é possível matar animais à paulada, algo que não devia ser possível no século XXI

– [O programa do Chega] Tem zero propostas sobre as alterações climáticas

André Ventura

– Não há milagres, podemos ter uma conversa muito bonita sobre alterações climáticas, mas se isso equivaler a destruir famílias e o seu rendimento não vale a pena

António Costa / J. C. Figueiredo: ‘Não compensa trabalhar para subir na vida, em Portugal’

Liberais e socialistas não colam mas no debate entre António Costa e João Cotrim Figueiredo talvez não tenha sido tão evidente quanto nas reais diferenças entre o que propõem uns e outros, por exemplo, para as Finanças ou para a Segurança Social. O líder da IL surgiu munido de mais slides do que se esperava para mostrar que, em Portugal, «não compensa trabalhar para se subir na vida». Os slides até deram azo a uma piada do líder do PS: «Ainda bem que não são taxados».

A boa disposição, aliás, reinou reinou num debate com muitos detalhes técnicos, onde, na fiscalidade, se confrontaram a proposta liberal de flat tax e o desejo socialista de redução do imposto e aumento das deduções. Costa classificou a proposta liberal como sendo «uma aventura». Mas a verdadeira aventura chegou quando se falou da Segurança Social. Costa acusou a proposta de reforma liberal deste setor de o «minar» e Cotrim Figueiredo respondeu, relembrando o primeiro-ministro que uma fração do dinheiro descontado já está na bolsa, através do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS).

Frases

António Costa

– Pela primeira vez desde 2017 temos tido saldos migratórios positivos, temos melhorado o rendimento

– Este sistema que a IL propõe e que Rio disse que aceitava é um sistema que mina a estabilidade da Segurança Social

J. C. Figueiredo

– Os descontos para a Segurança Social são  autênticos impostos. As pessoas são obrigadas a descontar e não podem ir buscar esse dinheiro em qualquer altura

– As políticas liberais vão produzir resultados diferentes

C. Martins /F. R. dos Santos: ‘Há uma certa direita que acredita no Pai Natal’

Do Bloco de Esquerda ao CDS-PP vai uma longa distância ideológica e o debate entre Catarina Martins, coordenadora bloquista, e Francisco Rodrigues dos Santos, líder centrista, foi um mero exemplo disso mesmo. Das ‘desprivatizações’ às ‘tentativas de homicídio’ da economia, a economia foi um dos temas centrais, com ‘Chicão’ a acusar Catarina Martins de querer «regressar ao período do PREC» com as tais desprivatizações que propõe, nomeadamente da ANA, CTT, EDP, GALP e REN. Catarina Martins não seguiu a conversa do PREC, mas assumiu um «assalto ao Bloco Central».

Da economia à religião, Francisco Rodrigues dos Santos não esqueceu as referências que Catarina Martins fez ao Papa e acusou a líder bloquista de estar, sim, em linha com o ‘seu’ papa… o ‘papa Francisco Louçã’.

Uma vez aberta a porta a este tipo de acusações, Catarina Martins respondeu, dizendo que «há uma certa direita que acredita no Pai Natal», augurando ‘desastre’ no investimento de capital estrangeiro.E até houve tempo para a líder bloquista comparar Rodrigues dos Santos a André Ventura.

Frases

Catarina Martins

– Há uma certa direita que acredita no Pai Natal, que vem capital de fora do país para cumprir o interesse público português

– O pior que podia acontecer era colocar três mil milhões de euros na TAP e depois entregá-la a interesses estrangeiros

F. Rodrigues dos Santos

– O Bloco de Esquerda faz campanha com crianças de 10 anos com t-shirts com canábis

– A Catarina diz que está em linha com o Papa Francisco, mas é com o papa Francisco Louçã

Rui Rio /Inês Sousa Real: ‘A política não tem de ser feita para abrir o telejornal’ 

Inês Sousa Real, líder do PAN, aproveitou a porta aberta por António Costa uns dias antes para listar as suas exigências e as suas linhas vermelhas para participar na formação de um Governo e no debate frente ao líder do PSD voltou a tentar ‘vender o seu peixe’.

O partido ambientalista diz estar disposto a negociar com todos aqueles que estejam dispostos a negociar com ele próprio, desde que se aproxime de «uma agenda do século XXI, uma agenda progressista e ambientalista, que se preocupa também com os direitos humanos».

Rio foi ‘na cantiga’, saudando «a abertura à negociação do PAN», mas prontamente começaram os desentendimentos entre os dois líderes partidários.

Sobre o fim dos debates quinzenais no Parlamento, por exemplo, a porta-voz do PAN fez questão de realçar a sua oposição e Rio não poupou na resposta: «A política tem que ter credibilidade, não tem de ser feita com espetáculo para abrir o telejornal.»

A eucaliptização das florestas e a descida já do IRC em detrimento do IRS foram mais dois temas marcantes de um debate morno.

Frases

Rui Rio

– A política tem que ter credibilidade, não tem de ser feita com espetáculo para abrir o telejornal 

– Se fizéssemos o que o PAN diz agravava mais o défice, a dívida pública

Inês Sousa Real

– Há algumas linhas vermelhas que temos, há avanços que temos também que conseguir em matéria de progresso civilizacional

– Rui Rio pretende retroceder em matéria de proteção animal

Debate a nove: ‘A história explica [o atraso económico de Portugal nas últimas duas décadas]’ e os dois blocos

O último debate televisivo destas legislativas, que juntou os nove líderes dos partidos com assento parlamentar, não serviu para grande discussão de propostas, como já era de esperar. E, das duas horas de debate, o que resultou foi António Costa a levar «pancada de todos», como o próprio se queixou.

Ao tirar proveito de uma tática de vitimização, o candidato socialista voltou a atirar culpas à «falta de vontade política» da Esquerda pelo chumbo do OE2022, retomou a narrativa dos «perigos da Direita» e protagonizou o momento alto da noite quando se esquivou a responder sobre as razões do atraso económico em Portugal nas últimas duas décadas. «A história explica», resumiu.

A parca resposta mereceu o consenso da oposição, com Ventura (Chega)  e Rodrigues dos Santos (CDS) a atribuirem «a carga fiscal mais alta da história» e «os desvarios nas contas públicas» aos anos de governação socialista. Num discurso quase ensaiado, Costa muniu-se de números — tanto na Economia como na Saúde —, fazendo juras de «estabilidade» e acenando com um Orçamento de Estado já chumbado como guião para o futuro ao eleitorado que mais receia uma mudança, sempre em busca da tal «maioria absoluta» que tanto anseia.

Rui Rio (PSD), mais modesto, disse querer «ganhar com uma maioria relativa», abrindo espaço para «negociar a governabilidade», ainda que os seus eventuais parceiros não se tenham poupado nos ataques.

Nesta ala, Cotrim Figueiredo sobressaiu, marcando pontos nas críticas à situação da TAP e conseguindo trazer ao debate soluções do IL, em matéria de Fiscalidade, Sáude e Educação.

Já Rui Tavares (Livre) voltou a defender «uma ecogeringonça», apontando como prioridade «procurar viabilizar um Orçamento».

Desafiada a assumir posição, a porta-voz do PAN garantiu apenas viabilizar um Governo sem «retrocessos civilizacionais».

Catarina Martins (BE) exigiu «um contrato de governo que resolva as questões fundamentais».

Pela CDU, João Oliveira reiterou disponibilidade «para convergir com todos aqueles que queiram convergir».

A ideia que fica é que a bipolarização não é entre dois partidos, mas entre dois blocos políticos — uma geringonça reeditada à Esquerda e uma alternativa à Direita.

Frases

António Costa – Não havendo uma maioria estável vamos andar de crise em crise

Catarina Martins – Aqui não há uma escolha de primeiro-ministro, aqui vota-se para um Parlamento e a maioria determinará o que existe

Rui Rio – Não quero fazer uma revolução, não quero partir tudo, quero fazer uma mudança

J. C. Figueiredo – [Sem reversão da TAP], não teríamos necessidade de ter cada família portuguesa a pagar 1.200 euros

André Ventura – Ouvir António Costa é como sentarmo-nos no sofá e vermos o filme da nossa vida

Rui Tavares – No Reino Unido, só os mais extremistas é que querem trocar [o serviço público] por um sistema misto 

F. R. dos Santos – O que o CDS defende é a via-verde da Saúde

João Oliveira – Não há liberdade de escolha se não há resposta no SNS

Inês Sousa Real – O PAN constrói pontes, em vez de muros