Sol, frio mas pouca chuva. Seca agrava-se em janeiro

Aviso amarelo devido ao frio prolonga-se até esta segunda-feira, sem previsão de chuva. Dezembro já tinha sido muito seco. Filipe Duarte Santos diz que é avisado reconhecer que o país deve adaptar-se a secas mais frequentes e prolongadas, fazendo um uso mais eficiente da água.

No final de dezembro, quase todo o território nacional estava em situação de seca e o quadro deverá agravar-se este mês. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera emitiu avisos amarelos para o tempo frio até esta segunda-feira, com as temperaturas baixas a fazerem-se sentir em particular em Trás-os-Montes e Beira Interior e também no Algarve. Mas não há previsão de chuva para os próximos 10 dias e a indicação é de que fevereiro pode começar com uma subida dos termómetros mas também sem chuva.

De acordo com as análises do IPMA, dezembro tinha sido já um mês “muito quente e seco”, terminando com 94 % do território em situação de seca meteorológica, embora com um aumento em todo o território das percentagens de água no solo, em particular nas regiões do Norte e Centro, como consequência dos valores de precipitação que ocorreram durante o último mês de 2021. Na região Sul também se verificou uma recuperação dos valores de percentagem de água no solo, no entanto nos distritos de Setúbal, Beja e Faro ainda se mantinham valores inferiores a 20%, assinalava o IPMA. Janeiro, com pouca chuva até aqui, tenderá a agravar o cenário.

“Chove menos em Portugal”

Filipe Duarte Santos, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa especialista em alterações climáticas, sublinha ao i que ainda poderá vir a chover durante o inverno, mas há uma evidência nos últimos anos: os valores de precipitação anual acumulada têm vindo a diminuir em Portugal. Algo patente num estudo recentemente apresentado pela Agência Portuguesa do Ambiente, que concluiu que nas últimas décadas a precipitação em Portugal e Espanha diminui cerca de 15%, prevendo-se que diminua entre 10% a 25% até ao final do século. A disponibilidade de água baixou 20% nos últimos 20 anos. “Chove menos em Portugal, o que tem sido uma tendência que se tem verificado em todas as regiões com clima mediterrânico e associada às alterações climáticas e ao aumento global da temperatura, o leva a podermos ter períodos de seca mais frequentes e prolongados”, diz o especialista, salientando que perante estes indicadores, o país precisa de adaptar-se e que é “avisado”, mesmo perante a atual situação, investir soluções para um uso de água mais eficiente sem esperar por momentos de maior dificuldade no abastecimento. “Mesmo na situação atual, para quem vive nas cidades, ter dias de sol é bom, mas um agricultor não o experiencia da mesma maneira”, diz.

Soluções? Filipe Duarte Santos aponta a necessidade de poupar água nos consumos domésticos mas também avançar-se no reaproveitamento de águas residuais tratadas, quer para regadio, dando o exemplo do trabalho de Espanha nessa área, quer para limpeza urbana. Outra possibilidade é o recurso à dessalinização, que em Portugal tem uma única experiência no Porto Santo, aponta. A Central Dessalinizadora do Porto Santo, gerida pela Águas e Resíduos da Madeira, construída nos anos 70 e alvo de ampliações, é a única origem de água potável utilizada para abastecimento público na ilha.

O estudo promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente de avaliação das disponibilidades hídricas está em consulta pública até ao fim de junho. Filipe Duarte Santos adianta que a Academia de Ciências vai também promover um ciclo de debates sobre como enfrentar a menor disponibilidade de água em Portugal, com uma primeira sessão marcada para 14 de março.