António Costa seca esquerda com resultado histórico

Maioria absoluta foi alcançada e deixou rasto de destruição. Os parceiros da gerigonça tiveram perdas históricas. Líder do CDS bate com a porta e Rui Rio deverá seguir o exemplo.

António Costa pediu e os portugueses deram uma maioria absoluta ao Partido Socialista. “Esta será uma maioria de diálogo. Em democracia ninguém governa sozinho. Quando for indigitado pelo Presidente da República, promoverei reuniões com todas as forças políticas”, mas afasta um: o Chega, que nestas eleições foi outro dos vencedores da noite ao tornar-se a terceira força política nacional, claramente à frente do IL, BE e PCP.

Costa surpreendeu tudo e todos e prepara-se para bater um recorde na governação em Portugal. Cavaco Silva esteve à frente dos destinos do país durante 10 anos – entre 5 de novembro de 1985 a 27 de outubro de 1995 -, mas, se o líder socialista chegar até ao fim deste mandato, uma tarefa mais facilitada após ter maioria absoluta, ficará ainda mais, juntando estes próximos quatro anos e meio aos seis anos de gerigonça.

A juntar isto há que contar com as quedas de dois líderes na noite deste domingo (PSD e CDS). Os olhares estão agora atentos para o líder do PSD que, depois da derrota, deixou a porta aberta para a sua saída. “Se o PS tiver uma maioria absoluta, não vejo como posso ser útil nesse enquadramento”. Já do lado do CDS, a demissão foi apresentada no seu discurso de derrota. “Estes resultados não deixam margem para dúvidas de que deixei de reunir condições para liderar o CDS. Apresentei a minha demissão”.

Para o polílogo José Filipe Pinto, a “guerra” com os partidos de esquerda e o acenar da bazuca empurraram o PS para esta vitória. “Trata-se de uma evolução na continuidade, ou seja, o partido que está no Governo conseguir manter-se e ainda sair com a sua posição ainda reforçada. Mas foi a bazuca que desautorizou, em grande parte, as reclamações de âmbito sócio-económico do Bloco de Esquerda e do PCP. A expressão bazuca passou a fazer parte do quotidiano dos portugueses e nós, como qualquer população do mundo pensa muito com os bolsos e António Costa conseguiu estabilizar a situação económica do país, muito com a ajuda da União Europeia e, o líder socialista prometeu a reconstrução que virá aí e é certo que de Bruxelas virão muitos milhões, números que agradam à maioria dos portugueses”. 

Em relação à derrota da direita, José Filipe Pinto lembra que “não tem uma figura de unir”, acrescentando “que só havia uma figura possível para fazer isso que era de Pedro Passos Coelho que reunia toda a direita e toda a esquerda em ódio, mas apesar de não ter um resultado catastrófico vai ter repercussões. Na política tudo é transitório e a realidade que hoje se coloca não era a realidade que se colava antes do ato eleitoral”, indo ao encontro das declarações do ainda líder social-democrata.

Surpresa da noite O Chega ao eleger 11 deputados foi sem dúvida a grande surpresa da noite. André Ventura promete “andar atrás” de António Costa e de não facilitar a sua vida. Ao i, o polílogo garante que este resultado vai ao encontro do que se assiste ao resto da Europa. “Na senda daquilo que tem acontecido na Europa, o populismo identitário tem aumentado exponencialmente. Foi o que se passou em Itália, Alemanha, Espanha, entre outros. Portugal não poderia escapar a esta tendência”.

E lembra que, ao contrário do que acontece com o eleitorado da Iniciativa Liberal  que, foi outra das surpresas deste ato eleitoral, o Chega não é urbano. “É rural e que atrai dois tipos de eleitorado: um mais conservador, mais nacionalista, mais velho e, por outro lado, um eleitorado anti-sistema”. 

Derrota esmagadora para a esquerda Os partidos que apoiaram até aqui o PS nestes últimos seis anos foram esmagados nas urnas, perdendo mesmo alguns pesos pesados em termos de deputados (ver páginas 8/9) e de terem apontado baterias a António Costa, culpando-o de ter levado o país para eleições antecipadas é certo que tanto o PCP como o Bloco de Esquerda não foram poupados nas urnas. O partido liderado por Jerónimo de Sousa viu a sua representação cair para quase metade (passou de 10 para seis), enquanto o tombo do partido de Catarina Martins foi ainda maior.