Bloco de Esquerda entra em implosão após maus resultados

O Bloco de Esquerda perdeu 14 deputados nas eleições de domingo. Há quem peça a demissão de Catarina Martins, mas a coordenadora bloquista não vai, garante, sair até ao fim do mandato.

Está o caldo entornado nas estruturas internas do Bloco de Esquerda. Mas Catarina Martins, coordenadora do partido, afastou a possibilidade de se demitir da direção. Em causa estavam as declarações de José Luís Arnaut que, na segunda-feira, à CNN, disse que sem “as meninas do Bloco a chatear e sem o PCP a exigir”, o PS já não tem “desculpas para os atrasos de Portugal continuar a baixar”.

Em resposta, a líder bloquista retaliou, depois de ter estado reunida com Marcelo Rebelo de Sousa. “Lamento imenso desiludir, o Bloco de Esquerda não decide a sua direção de acordo com os resultados eleitorais. Quem decide são os seus militantes e eu cá estarei para cumprir o meu mandato por inteiro”, disparou aos jornalistas.

Recorde-se que o Bloco de Esquerda elegeu cinco lugares na Assembleia da República, após as eleições legislativas de 2022, menos 14 do que em 2019, e o mau resultado está a deixar à mostra as feridas internas do partido. Pedro Soares, antigo deputado bloquista, disse à RTP, que o Bloco de Esquerda precisa de procurar “outros caminhos”.

Declarações que vão de acordo com a informação avançada pelo i na edição de segunda-feira, que dava conta que  o ex-deputado não iria facilitar a vida interna do partido, até porque na última convenção bloquista teceu duras críticas sobre a participação do Bloco na geringonça, ao defender que tinha faltado “espírito crítico” e que “a meio era necessário ter sido colocado um novo desafio ao Partido Socialista”, algo que defendeu não ter acontecido. A crítica foi repetida ontem, realçando o aparecimento de moções críticas na última convenção do partido “com uma atitude crítica ao percurso do Bloco nos últimos tempos”.

“É necessário ouvir essas sensibilidades e que a mudança de rumo seja o contributo plural de todos.”, pediu Soares.

Sousa Santos pede demissão de Catarina Martins Quem também se mostrou crítico da liderança de Catarina Martins no Bloco de Esquerda foi Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e professor universitário. Num artigo de opinião publicado no Público, Sousa Santos argumenta que os resultados do partido nestas eleições legislativas “mostram que a esquerda à esquerda do PS perdeu a oportunidade histórica que granjeou depois de 2015”, deixando uma mensagem curta, mas clara, a Catarina Martins: “Obviamente, demita-se!”.