Laura precisa de 1800 euros para dar um “último momento digno” à avó e pede a ajuda dos portugueses

A jovem espera conseguir dar um “último momento digno” a Maria de Lurdes Fonseca Carvalho, que perdeu a vida ontem aos 93 anos.

"Não tendo a certeza se a Segurança Social conseguiria vir cá rapidamente, optámos pela funerária. Disseram que poderíamos recorrer mais tarde à Santa Casa da Misericórdia para sabermos que tipo de ajuda poderíamos ter. Eles recolheram o corpo e disseram que podemos pagar até ao final do mês", começa por explicar Laura Carvalho Torres, de 23 anos, neta de Maria de Lurdes Fonseca Carvalho, de 93, que morreu ontem nos Olivais, em Lisboa, que não tem os 1800 euros necessários para pagar o funeral da avó. "No prédio de um amigo meu, um senhor morreu e a PSP esteve lá um dia e meio à espera da Segurança Social. Não queria passar pelo mesmo".

"Ela nunca teve nenhum problema de saúde grave, mas começou a ficar mal ao nível motor. Não conseguia descer as escadas do prédio sem cair e foi ficando mais em casa. Ela não veio levar as vacinas a casa porque não conseguimos agilizar o processo com o centro de saúde. Começou a entrar num processo de demência, dava quedas sucessivas, até que deu uma muito má", diz, referindo que, quando contactou os bombeiros da área de residência, lhe foi dito que "não valia a pena levá-la para as urgências porque não estava vacinada e correria um risco elevadíssimo". No entanto, o estado de saúde da idosa "piorou muito na última semana" e até mesmo os cuidados prestados por uma geriatra não impediram que o fim da vida de Maria de Lurdes se fosse aproximando a passos largos.

"Nos últimos dias, já não falava. Apenas emitia sons. Pensamos que morreu de madrugada porque a encontrámos morta de manhã. Estávamos a pensar se íamos levá-la para um lar ou hospital, mas nem tivemos tempo de agir porque já era demasiado tarde. Mais valia prestar-lhe os melhores cuidados possíveis em casa porque estava mesmo numa fase terminal", adianta a licenciada em História da Arte que recorda que a avó também ficou com um peso bastante reduzido por não se conseguir alimentar com a facilidade de outrora. "Estava muito magrinha e só comia tudo triturado: purés, sopas e pouco mais", refere, mencionando que foi no momento em que "estava sozinha com a PSP e o agente funerário e não sabia o que fazer", por nem ela ou a mãe terem o montante necessário, que se lembrou de criar uma campanha de angariação de fundos.

"Podia pedir a algumas pessoas, mas não havia ninguém imediatamente disponível para me dar o dinheiro todo. Por isso, lembrei-me da campanha porque não exijo nenhum valor e toda a gente pode ajudar. Mesmo pessoas muito próximas já deram 20, 30 euros e há quem tenha dado menos, mas tudo conta", reconhece a rapariga, avançando que aos 1800 euros acresce o custo de 300 euros – 150 pelos serviços prestados pela médica legista e outros 150 pela emissão da certidão de óbito -, porém, não pretende aumentar o montante definido inicialmente. "Da parte da Segurança Social fazem o reembolso, mas podem demorar três ou mais meses. Havendo essa possibilidade, devolvo o dinheiro angariado para que quem precise possa usá-lo", sublinha a lisboeta. "Não vamos fazer o velório porque seria 500 ou mais euros. Não temos ninguém de família que nos possa ajudar. O funeral vai ser na segunda-feira".

"Vivemos sempre nós, mas o meu avô faleceu em 2015. Tinha uma relação muito próxima com ela e é complicado. Gostaria de lhe prestar uma homenagem diferente, obviamente. Seria bom termos um serviço mais completo, mas isso não é viável agora", afirma, mostrando-se visivelmente afetada pela perda da avó natural de São João de Areias, em Santa Comba Dão, no distrito de Viseu. "Veio para cá com a minha idade acompanhada por uma tia. Ela trabalhou muitos anos a cuidar dos filhos da família Sassetti. E depois tornou-se doméstica", observa, indicando que uma das memórias mais presentes que tem é de quando ia com a avó lanchar à Pastelaria Suíça, no Rossio.

"Ela adorava cozinhar e deixou de o fazer depois da morte do meu avô. Este acontecimento teve um impacto gigante nela. Esteve a fazer uma reconstrução dentária e perdeu muito peso. Teve esse problema e o desgosto porque ele esteve em cuidados paliativos até ao fim", recorda, salientando que, felizmente, até agora, não recebeu qualquer crítica por parte de quem teve conhecimento da campanha que está a levar a cabo. "Eu diria, a quem está na mesma situação do que eu, que, antes de mais, não vale a pena contactar a linha de emergência social, o número 144, porque acaba por não servir de nada. E as ajudas chegam muito tarde. Da parte da Santa Casa da Misericórdia, aquilo que se pode esperar é que têm boa vontade, mas podem não conseguir agir rapidamente porque, por aquilo que sei, só têm um médico ou dois por zona".

"Então venho aqui pedir a vossa ajuda para pagar esta despesa. Cada cêntimo, euro conta e já nos alivia da despesa final. A Segurança Social não fará um reembolso parcial durante muitos meses. Por favor! Peço a vossa ajuda para dar este último momento digno à minha avó!", escreveu Laura na plataforma Go Fund Me. Se quiser ajudá-la, clique aqui. Até por volta das 19h deste sábado, a jovem havia conseguido 365 euros.