Um pobre país triste

Portugal mudou significativamente nas últimas décadas, mas continuamos um dos países mais atrasados da UE com a qual nos queremos legitimamente comparar

Por João Maurício Brás

«Mais uma vitória destas e estamos arrumados»
Pirro

A maioria absoluta (23% dos portugueses) do PS, a repetir a de José Sócrates, que sabemos como acabou, é apenas mais um capítulo previsível da história do nosso atraso económico, cultural e do plano das mentalidades. Havia alternativa? Neste momento, não. 

O nosso sucesso como país é fictício, somos pobres e atrasados, o problema é estrutural. Nos últimos 50 anos governaram o país as oligarquias socialistas e sociais democratas. Nos últimos 100 anos só Salazar compreendeu melhor que os socialistas a psique deste país.

Portugal mudou significativamente nas últimas décadas, mas continuamos um dos países mais atrasados da Europa (UE) com a qual nos queremos legitimamente comparar. O nosso país é apenas um sucesso para consumo interno, os nossos tutores europeus olham-nos com desconfiança fundada, mas também com alguma indiferença devido à nossa irrelevância económica e política, apenas exigem o cumprimento de objetivos mínimos de normalidade, que não existiriam se não fosse a UE.

Vivemos do crédito, das esmolas e da vigilância adulta da UE. Temos ainda, em pleno século XXI, um Estado absolutista com as suas castas, continuamos a confundir deliberadamente as mudanças estruturais com a mera cosmética conjuntural e propaganda enganadora sobre reformas. Os países não mudam por decretos ou proclamações.

A propaganda mediática constrói uma ficção irreal sobre o país, paga com milhões. Num país pobre, quem pouco tem – a maioria dos portugueses –, tem medo de ficar ainda com menos e a máquina socialista e em tempos a social-democrata, percebe como atuar sobre esse medo e sobre a nossa falta de autonomia e atraso secular. Sim, somos atrasados, porque somos pobres e somos pobres porque somos atrasados. Com meios e astúcia, facilmente se controla uma população assim. 

Trabalhamos muito, produzimos pouco, ganhamos mal. Salvo algumas exceções, o setor privado vive dependente do Estado, Estado este, tal como as câmaras, que tudo controlam e de quem tudo depende. As funções do Estado necessárias num país de miséria estão totalmente destruídas. O SNS é uma ruína para além da propaganda (o mito do SNS na covid oculta uma mortandade brutal e o fecho da saúde para tudo o que não fosse a pandemia, além de que não há meios e os profissionais de saúde ganham mal), a Escola é um parque de entretenimento onde o sucesso é apenas estatístico, a justiça não tem meios nem muitas vezes verdadeira autonomia.

O trabalho dos jovens é cada vez mais precário e mal pago. Quem é bom e corajoso sai deste país esclerosado; aqui, ou se tem cartão do partido ou cunha ou espera-nos uma vida remediada e a crédito. A corrupção aumenta na política, na economia, na banca, o país do ‘esquema’ predomina. As nossas elites são medíocres, mas astutas e perpetuam-se promovendo a estagnação e a dependência do seu poder. Ser velho é estar condenado à miséria, ser jovem é realisticamente ir percebendo que não há esperança real. Vivemos num capitalismo de Estado controlado por oligarquias partidárias e económicas e num sistema praticamente feudal. O plano da cultura e da ciência é um atraso dramático e para além de algumas encenações, vive de capelinhas e da mão estendida ao Estado para poder sobreviver. 

Neste país, ficção triste, é fácil manipular a maior parte da população e praticar a crónica dependência e obediência.