Gripe das aves. Contacto é o maior risco mas deve cozinhar bem carne e ovos

Em 20 anos houve 863 contágios em humanos no mundo, só um este ano, no Reino Unido. 

Desde o início de dezembro a Direção Geral de Veterinária e Alimentação sinalizou nove focos de gripe aviária na zona da grande Lisboa, região Oeste e Ribatejo, de produções caseiras a aves selvagens, como o caso de uma gaivota encontrada morta na praia do Baleal em janeiro, parte de um sistema de monitorização que passa por reportar casos de aves que morrem inesperadamente. A deteção de casos de infeção pelo vírus H5N1 tende a ocorrer com maior frequência no período de migração de aves, e tem merecido especial atenção das autoridades de segurança alimentar e de saúde a nível internacional este outono/inverno por estarem a circular subtipos do vírus H5N1 de “alta patogenicidade”, que se espalham rapidamente entre as aves com elevada letalidade e por haver o risco de transmissão para humanos, baixo, mas maior para quem trabalha diretamente com os animais.

Depois de o primeiro caso ter sido detetado em Portugal a 1 de dezembro, numa capoeira doméstica em Palmela, a DGAV ativou o plano de contingência, impondo cercas sanitárias de 4 e 10 km em cada local sinalizado, proibindo a saída de aves ou partes para venda mas também de ovos durante cerca de um mês. O primeiro caso a nível europeu foi reportado em setembro na República Checa e desde então somam-se focos de infeção em vários países europeus, num total de 2272 casos de infeção reportados até 1 de fevereiro na UE em aves de capoeira e aves selvagens. No caso das aves de capoeira, os países que reportaram mais focos foram Itália, França e Hungria e, no caso de aves selvagens, Alemanha, Países Baixos e Dinamarca, lê-se num levantamento publicado pela DGAV no início deste mês.
Não houve alertas à população, mas os que já existiam antes dos atuais surtos mantêm-se: o risco de transmissão para humanos é considerado baixo pela Organização Mundial de Saúde. Até aqui foi sinalizado apenas um caso de transmissão para humanos no Reino Unido, no início de janeiro, numa pessoa com contacto com aves, assintomática. 

Gravidade e precaução A preocupação com o H5N1 é que sendo baixo o risco de transmissão na população em geral, pode provocar doença ligeira ou muito grave e tem uma taxa de letalidade elevada: desde 2003, foram reportados à Organização Mundial de Saúde 863 casos de infeção em humanos, com uma taxa de letalidade superior a 50% – 455 mortes.

Aos consumidores, a forma como a informação é transmitida procura não criar alarmismo, dado que não existem evidências de que o vírus se transmita pela via alimentar, a maneira mais comum de a maioria das pessoas ter contacto com aves. O risco é sobretudo acrescido para quem trabalha ou cuida diretamente de animais vivos: como outros vírus, o H5N1 é expelido por gotículas de saliva, muco e fezes dos animais e o contágio pode dar-se quando as partículas que transportam o vírus entram em contacto com olhos, nariz, boca ou são inaladas. Os cuidados nas atividades de abate e corte dos animais devem por isso ser por isso redobrados, com as restrições sanitárias a limitarem essas atividades nos locais afetados.

70ºC eliminam o vírus A transmissão entre humanos é considerada muito rara e embora já tenha sido reportada, não acontece de forma sustentada como por exemplo a transmissão do SARS-COV-2, que se tornou o exemplo mais familiar no que se toca a vírus respiratórios.

Embora o contágio através da ingestão de alimentados não esteja documentado, a recomendação de organismos como a OMS, que a ASAE também tem publicada no seu site, é que se confecionem bem ovos e aves, com cuidados no manuseamento: “O vírus da gripe aviária do subtipo H5N1 é destruído a temperaturas superiores a 70ºC”, explica na sua página a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, deixando algumas dicas: a carne bem cozinhada muda de cor, quando corta por exemplo a zona da perna de uma ave inteira cozinhada não deve haver fragmentos avermelhados e se o molho de um assado estiver claro (sanguinolento ou rosado) é sinal de que não se atingiu a temperatura apropriada no seu interior. 

Os ovos também devem ser cozinhados até que as claras e as gemas estejam duras. Outra recomendação é que a carne de aves crua e ovos crus não estejam em contacto direto com os alimentos prontos-a-comer, como saladas, fruta ou refeições preparadas. Por fim, lavar as mãos depois de manipular carne de aves e ovos crus e não reutilizar pratos, talheres ou utensílios sem os lavar primeiro. 

No Reino Unido, por exempo, há também a informação ao público por parte da autoridade de saúde de que não se deve tocar em animais mortos ou trazer penas para casa. O i tentou perceber junto da ASAE se vai ser reforçada a informação ao público, mas não teve resposta.