Com o Chega, não!

Espero que o PSD tenha a inteligência prática de perceber aquilo que está em causa e que apresente candidatos à liderança do PSD que digam claramente: com o Chega, não!

O PSD, o CDS ou o PCP sempre tiveram pessoas racistas, xenófobas e radicais a votar nos seus partidos, apesar de nunca terem tido estatutos, programas ou dirigentes com medidas racistas, xenófobas e radicais. Essas pessoas votavam nos partidos existentes, guardando essas suas posições para os jantares de Natal, viagens de táxi e conversas de café. 

Eram racistas e radicais mas votavam em partidos que falavam do Estado, do SNS, de educação, de impostos. Até ao momento que o sistema partidário português se fracionou, exatamente como tinha sucedido no resto da Europa com dez anos de avanço. Era fatal que chegasse a Portugal – ia chegar, só não se sabia quando. 

O Chega apareceu de mansinho num sistema partidário fossilizado como o nosso, com tremenda dificuldade de implantação de novos partidos. Obviamente, os partidos do sistema não levaram o Chega muito a sério, acharam que seria só mais um novo partido que rapidamente desapareceria e voltaríamos à pasmaceira do costume. 

O PSD e o CDS fizeram-no por duas razões: em primeiro lugar porque lhes era difícil reconhecer e assumir que havia eleitores racistas e radicais porque tal significaria assumir que, afinal, não éramos assim um povo tão simpático e sereno como gostamos de apregoar.

Em segundo lugar, por uma lógica partidária e de sistema: existindo e crescendo, vinha a consequência: como se deve relacionar uma direita democrática e moderada com partidos que se reivindicam de extrema-direita.

A tentação é achar que o fenómeno é passageiro e ‘vai passar’ ou que líderes autoritários nos partidos de centro-direita vão acabar com o Chega. Infelizmente, nem o fenómeno é passageiro (porque está de pedra e cal em toda a Europa), nem é ultrapassado por qualquer tipo de liderança no PSD ou CDS justamente porque como referi no início do artigo, esses partidos não têm líderes racistas e radicais, nem são partidos de protesto.

PSD e CDS (atualmente reduzido a um partido autárquico) são partidos do sistema, oferecem soluções difíceis para problemas ainda mais difíceis. O Chega é um partido radical antissistema, de protesto.

Passadas as eleições presidenciais, autárquicas, e legislativas, ou seja, depois de três atos eleitorais num ano, com resultados eleitorais crescentes, já ninguém duvida do que é o Chega e ao que vem. Não podem o PSD e o CDS continuar a clamar que é passageiro. Não é.

Isto dito, resta saber como se vão relacionar com o Chega. Vão ser benevolentes e admitir que possam ser um parceiro de governação? Vão ignorá-los? Vão combatê-los?

Esse tema que se fez central nestas legislativas que o PS venceu com maioria absoluta, vai ser o tema central nos próximos tempos na política portuguesa e irá ser determinante na próxima disputa pela liderança do PSD, seja ela quando for.

Depois do que sucedeu nesta campanha e do aproveitamento político que António Costa fez em beneficio próprio para atingir a maioria absoluta, espero que o PSD tenha a inteligência prática de perceber aquilo que está em causa e que apresente candidatos à liderança do PSD que digam claramente: com o Chega, não!