Castelo de Bode. Água baixou mais de 2,5 metros desde o início do ano

Cota da albufeira estava este sábado no nível mais baixo desde 2001. IPMA alerta que chuva não resolve seca. 

Por José Miguel Pires e Marta F. Reis

Barcos bem acima da margem. A imagem captada este sábado nas margens de Castelo de Bode mostra a descida do nível da água que se vive na albufeira que abastece Lisboa. Segundo os dados de monitorização do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), que o i consultou, desde o início de janeiro a cota da albueira baixou 2,82 metros, situando-se este sábado nos 106,14 metros. A água não recuava tanto desde 2001, revela o histórico do SNIRH, ano em que chegaria a baixar aos 105,78 metros. A chuva desde fim de semana pode ajudar a repor alguma água, nesta e noutras barragens, mas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera chegou o aviso de que não será suficiente para reverter a situação de seca que se vive no país. 

“A precipitação que se fez sentir não é ainda suficiente, e tem um impacto reduzido ou nulo. Na região Sul será praticamente nulo porque a precipitação é muito fraca e no litoral Norte, onde choveu mais, é onde terá com certeza algum impacto, mas não é o desejável, é reduzido”, explicou ao i o metereologista do IPMA Bruno Café, acrescentando que, para ver revertidos os efeitos negativos da seca, “precisávamos de semanas com precipitação”. “Não quer dizer que fosse preciso estar a chover toda a semana durante essas semanas, mas com precipitação a ocorrer durante alguns dias”, sublinha, explicando que não é esse o cenário pela frente. “Temos esta precipitação de hoje [ontem], amanhã [hoje] temos uns aguaceiros fracos e durante a semana poderá haver alguma precipitação fraca no litoral norte. De terça para quarta-feira até poderá atingir outros locais do interior norte e região centro, mas é precipitação fraca, portanto o impacto é pouco”, conclui ainda o meteorologista.

A 1 de fevereiro, o Governo determinou a suspensão de produção de eletricidade em cinco barragens em níveis de alerta de armazenamento: além de Castelo de Bode, Alto Lindoso/Touvedo, Alto Rabagão,  Vilar/Tabuaço, Cabril. Os dados do SNIRH mostram que no Alto Lindoso já houve alguma recuperação: a 18 de janeiro foi atingida a cota de 287,06m, mas desde então subiu para 290,30. Na albufeira do Alto Rabagão, há também uma ligeira recuperação, depois de a cota ter baixado para 850,21m a 21 de janeiro, este sábado estava nos 850,51. Na albufeira de Vilar/Tabuaço, há também uma ligeira recuperação desde que parou a produção hídrica, o que se verifica também no Cabril, que chegou a baixar a uma cota de 261,96m a 25 de janeiro e este sábado à noite estava em 262,63. 

Das cinco, a albufeira de Castelo de Bode é a única que ainda não recuperou. Desde que parou a produção hídrica, a descida da água abrandou, mas estava no sábado, antes da chuva deste domingo, a cerca de 58% da capacidade total. Na semana passada, como o Nascer do SOL noticiou, a EPAL alertou a Agência Portuguesa do Ambiente para a descida do nível da água acima do esperado face ao consumo, com uma descida da água em três dias equivalente ao consumo de dez. No local, o Nascer do SOL apurou que se mantém uma turbina a funcionar, o que a EDP justificou com tratar-se do caudal ecológico definido pela APA, garantindo que não está a ser usado para produzir eletricidade. Contactada, a APA não esclareceu que impacto tem o caudal ecológico nas reservas de água para consumo e se foi feito algum estudo sobre a segurança do armazenamento.  Segundo os dados do SNIRH tem sido turbinado um caudal médio diário na casa dos 16m3/s, metade do que aconteceu nos últimos dias de produção hídrica. Em janeiro, chegou a haver dias bastantes superiores, em que foram turbinados mais de 70m3/s.