França. O “comboio da liberdade” segue rumo a Bruxelas

Os protestos dos camionistas canadianos viraram inspiração para o movimento antivacinas, deixando a França e Bélgica em alerta. 

Camionistas vindos de toda a França, furiosos com os certificados de vacinação contra a covid-19, organizando-se à semelhança do “comboio da liberdade” no Canadá, dirigem-se a Bruxelas, após desafiarem a proibição do protesto pelas autoridades francesas. O facto de o protesto ter sido recebido com gás lacrimogéneo em Paris, este sábado, não os desencorajou.

“Vamos a Bruxelas e tentar bloqueá-los, para lutar contra esta política de controlo permanente”, prometeu Jean-Pierre Schmit, um desempregado de 58 anos, oriundo de Toulose, falando à France Press.

Como costume, em França – um país em constante ebulição social, governado pelo Presidente Emmanuel Macron, que sofre de uma baixa popularidade crónica, tendo uma taxa de desaprovação de 60%, segundo uma sondagem recente do Ifop – os protestos são sempre complexos. Além da crítica à exigência de certificado de vacinação à entrada de cafés, restaurantes e outros espaços públicos, muitos manifestantes acabaram por se juntar aos camionistas em protesto contra a subida no preço da energia, combustíveis e do custo de vida, à imagem do que se viu durante os meses de protestos dos coletes amarelos, uma veste utilizada por muitos dos manifestantes. 

Foi uma dinâmica bem notória durante os confrontos em Paris. Entre os detidos nesses protestos estava o lusodescenten Jérôme Rodrigues, um dos líderes do movimento dos coletes amarelos, que na altura perdeu um dos olhos devido a um tiro das infames LBD 40, que disparam bolas de borracha, do tamanho de uma bola de golfe.

“Na minha escola ensinaram-me a liberdade, a fraternidade e a igualdade, mas já não há”, queixou-se pouco depois do incidente Jérôme, a um jornalista do i. “Há um problema real de democracia no país”, rematou o manifestante, que desde então não desarmou. 

Este sábado, o resultado foi a paralisação do tráfego automóvel em Paris, enquanto 7,200 polícias e gendarmes – a polícia paramilitar, uma espécie de GNR francesa – eram colocados no terreno, segundo a agência Reuters, tentando quebrar o bloqueio. Enquanto isso, manifestantes ocupavam avançam para a capital através de cinco vias, conseguindo chegar à avenida dos Champs-Élysées. As autoridades francesas anunciaram terem impedio centenas de camiões de chegar ao  seuponto de encontro, realizando 97 detenções. Mas ainda assim o movimento conseguiu reorganizar e seguir para Bruxelas. 

Pelo menos 32 mil pessoas participaram nas mobilizações, segundo as autoridades francesas. E Macron fez questão de sublinhar que compreendia o descontentamento, enquanto manifestantes seguiam para o país vizinho, salientando a fadiga deixada por mais de dois anos de pandemia. “Esta fadiga também leva a raiva, eu compreendo”, frisou o Presidente, ao jornal Ouest-France. “Mas eu peço a maior calma”, apelou.