Comédia à portuguesa

As trapalhadas e golpadas são tantas que torna-se difícil acompanhar o ritmo das mesmas

Este país é uma comédia, embora não dê grande vontade de rir. As trapalhadas e golpadas são tantas que torna-se difícil acompanhar o ritmo das mesmas, até para quem é leitor compulsivo de jornais e consome informação televisiva e radiofónica.

Comecemos pela história hilariante dos votos dos emigrantes do círculo da Europa. Depois da confusão ocorrida nas legislativas de 2019, os partidos só acordaram para o problema em janeiro deste ano, combinando uma golpada à lei. Pouco importa quem denunciou ou quem se arrependeu, o facto é que os constitucionalistas não tinham dúvidas: os boletins de voto só eram e são válidos com a fotocópia do CC ou do BI. Mas foi preciso o Tribunal Constitucional dizer o que era óbvio para se perceber que a eleição do círculo da Europa tinha de ser repetida, fazendo com que a tomada de posse do Governo se atrase, pelo menos, um mês e  meio. Digamos que o país pode esperar, já que, pelos vistos, o Orçamento do Estado e o PRR não são assim tão importantes. Uma vergonha ao nível de um país terceiro-mundista. Mas estamos em Portugal e ninguém leva a mal.

Num país onde boa parte vive com o salário mínimo, que é 300 euros inferior ao espanhol, temos a gasolina mais cara, ou perto disso, da Europa. Ontem foram muitos os que se depararam com o letreiro a anunciar os dois euros por litro. Mas o barril está quase a 100 dólares, queixam-se os amigos do Governo. Que se saiba já esteve perto dos 140 e o combustível não se aproximava de tal verba. O que se passa é que o Governo  cobra impostos à vara larga e não teme nenhuma contestação, até porque basta os camionistas anunciarem bloqueios para Pedro Nuno Santos entrar em ação e calar a rapaziada, com uns rebuçados na ementa. 

Nesta onda de forrobodó, passemos para as medidas covid. O Conselho Ministros decidiu na quinta-feira uma série de alterações às limitações em vigor, anunciando o fim da obrigatoriedade de apresentação do certifica ou de testes antigénio em discotecas, bares e restaurantes, entre outros, mas não comunicou a data de entrada em vigor das novas regras. Ok, é uma nova forma de comunicar que vamos voltar à normalidade, só não se sabe quando. Parece que ontem ao final do dia o Presidente da República promulgou o decreto do Governo mas até à hora de fecho não se sabia quando seria publicado em Diário da República e quando entraria em vigor. 

Continuando no país que podia ser governado pelos Monty Python, eis que o juiz Carlos Alexandre foi constituído arguido, acusado dos crimes de abuso de poder, falsificação de funcionário e denegação de justiça. Tudo porque José Sócrates tinha apresentado queixa contra a distribuição manual do processo Operação Marquês, algo que o Ministério Público tinha recusado.

Mas desta vez o Tribunal da Relação, através do desembargador Jorge Antunes, decidiu acusar o ‘superjuiz’ e a escrivã Teresa Santos, que ficaram com Termo de Identidade e Residência. Se isto não é hilariante não sei o que será. E já se imaginou se o juiz Ivo Rosa pudesse decidir este caso? 

Por fim, a paródia da semana. Parece que Bruno de Carvalho gosta de agarrar as namoradas pelo pescoço, algo que Clint Eastwood fazia como poucos, e foi acusado de violência doméstica, isto porque a suposta violência foi cometida durante o programa Big Brother Famosos. Fizeram-me chegar as imagens e olhando várias vezes não consigo perceber onde está a violência que justificou a queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Quererá esta comissão avaliar a intensidade do aperto, usando uma linguagem futebolística? Por acaso perguntaram à namorada se não gosta de ser apertada assim? Não há dúvidas que passámos da fase que ‘entre homem e mulher ninguém põe a colher’ para uma nova narrativa onde os novos inquisidores se querem meter na cama dos casais. Isto é: acabou-se com uma aberração para se passar a outra. 

vitor.rainho@nascerdosol.pt