A falsa partida do ano novo

O 22 de fevereiro de 2022 – que assim com o mês por extenso perde desde logo parte da sua graça – podia ter sido só uma data curiosa, mas a chuva de teorias, supostos significados e as futuras mudanças intrínsecas associadas ao fenómeno quase permitiram questionar se o novo ano só começava afinal a…

Deixando de fora das estatísticas as datas históricas, provavelmente nunca se tinha dado tanto ênfase a um dia como aconteceu na última terça-feira. O dia da semana da data palíndromo não passa de um apontamento que não tem qualquer relevância para o tópico mais falado, o próprio dia 22/2/22. Bem, as terças-feiras, no geral, são talvez o parente mais pobre da semana. Segunda-feira é o arranque e, por isso, o dia menos acarinhado, exceção feita para quem o vê como a possibilidade de um novo capítulo, uma ilusão de meros segundos, normalmente a lembrar o mágico amador que não percebe que foi o único que não percebeu o truque por todos percebido. E terça é, assim, apenas e só isso mesmo, mais um dia, aliás o dia antes de chegarmos a meio da semana, entregando de bandeja o protagonismo à quarta-feira. A seguir, já se sabe, entramos numa espécie de sprint final, com a quinta-feira a trazer bons ares – e a sexta-feira a confirmar isso mesmo. Depois é premir o botão da repetição, numa rotina quase sempre constante, interrompida por vezes por palíndromos, ambigramas ou carnavais. 

Só para contrariar, são logo duas terças-feiras consecutivas em destaque. 

Sem grandes perspetivas para brincar ao carnaval, é melhor voltar atrás do que andar já para a frente. 

O 22 de fevereiro de 2022 – que assim com o mês por extenso perde desde logo parte da sua graça – podia ter sido só uma data curiosa, mas a chuva de teorias, supostos significados e as futuras mudanças intrínsecas associadas ao fenómeno quase permitiram questionar se o novo ano só começava afinal a partir deste momento. Não deixa de ser uma boa razão para dar finalmente início às promessas feitas, com a vantagem de que houve um período de reflexão razoável para priorizá-las. 

E se se preveem tão bons ventos e tanto sucesso como defendem, não há como não querer embarcar no espírito, apesar do ceticismo. Até porque ainda em contagem decrescente para a celebração do desejado ‘Dia da Libertação’, depois de dois anos surreais, achámos que o cenário de guerra não podia piorar. 

E está, como sabemos, à vista de todos.