O retrato disto tudo

O que PS, PSD e os outros combatem é a subida imparável do Chega. Mas não a combatem democraticamente, com argumentos.

Mário Soares tinha um ideal, um projeto, objetivos políticos. Sabia o que significava ‘socialismo’ em liberdade, social-democracia, fascismo, comunismo,  etc. Assumia compromissos, fez alianças. Mas nunca  ofereceu poder aos inimigos da liberdade, que vencera. E nunca quis o poder pelo poder. As linhas vermelhas dele – que também são as minhas (liberdade, igualdade de direitos,  justiça social, como melhor for conseguida) – demarcavam ideias, não interditavam pessoas. Até debatia com o maior inimigo da liberdade: A. Cunhal.

 

O mundo mudou. A realidade política já não cabe nas categorias da ‘ciência’ política, nas ideologias em uso. Daí surgir uma nova categoria: ‘populismo’. Que assume várias formas, de direita e de esquerda.* 

Os  termos ideologia e ideário, os conceitos, significam hoje zero. Eterno – mas em crescendo pela perda de valores, de racionalidade civilizadora – é o instinto grupal de defesa, o impulso reptiliano de  extermínio do ‘outro’. Tribalismo, seita, clubismo. O que virá aí?

Qual é a ideologia do PS? E do PSD, que nem disfarça a deriva? E dos outros? Os partidos, hoje, são centros de interesses – nem sempre confessáveis -, agências de emprego dos sócios.  O que são os ‘verdes’, vários? E o PAN,  associação mais ou menos esotérica ou pura e simplesmente ridícula? E o Livre?  Excreção do sistema.

E o  que significa ‘liberal’ para a IL? O que a IL parece ter é apenas uma ideia vaga, projecto difuso, numa área em que ostenta perceber mais do que os outros. Perceberá?

 

Ou seja, os partidos nem têm projectos, programas regeneradores, pensados por gente sabedora, experiente, que inspire confiança na capacidade para os concretizar. São, afinal, o resultado do que todos nós temos feito ou deixado de fazer. Repare-se: o candidato a líder do CDS vai apresentar um  projeto para salvar o partido.  Mas o que devia apresentar era um projeto para salvar o país!

A  linha vermelha antidemocrática para enclausurar André Ventura não é por causa da ideologia Qual é a sua ideologia? Não tem – o que é, aliás, uma grande vantagem para ele.

A ‘ideologia’ de Ventura é  prometer enfrentar o que os partidos fizeram, ou não fizeram e deviam ter feito. Exemplos? Não caberiam neste espaço – da  corrupção à devastação da escola, à deturpação da História de Portugal e inferiorização  dos portugueses, ao incentivo da dependência do Estado, ao sufoco fiscal (isto acentuado com a ‘geringonça’, a agenda do BE).

 

O que realmente PS, PSD e os outros combatem  é a subida imparável  do Chega.  Mas   não a combatem democraticamente, com argumentos, como na democracia se deve combater. A democracia e as liberdades são  para todos. Mesmo para os não democratas. É nas eleições que qualquer partido deve ser vencido, não com os métodos do Estado Novo. Claro que seria mais cómodo se pudessem manter  tudo na mesma e vencer o Chega ‘na secretaria’! Mas o Chega, como me dizia um preocupado amigo socialista,  é a voz do povo. 

O Chega e a IL  fizeram avançar a democracia, agitaram  o choco e o aconchego da mediocridade partidária e institucional que mantém o país na ignorância, pobreza e dependência.  É um facto. É o que tenho chamado ‘efeito Chega’.  Talvez traga à democracia a oportunidade de renascer, se no PS, no PSD, nos partidos for varrido o lixo que acumularam dentro deles. E  se o país acordar.