A ‘realidade alternativa’ da televisão russa sobre a guerra na Ucrânia

Os meios de comunicação russos estão a transmitir versões ‘alternativas’ da guerra, diz a BBC.

Um pouco por todo o mundo, os ecrãs das televisões transmitem, em diferentes línguas, com diferentes enfoques e com diferentes imagens, a mesma guerra: a invasão russa da Ucrânia. Ainda assim, na própria Rússia, os relatos diferem daqueles que chegam aos canais televisivos dos países Ocidentais, e a BBC não deixou de fora este detalhe. A cadeia televisiva britânica dedicou-se a estudar a forma como os russos estão a relatar o conflito com a Ucrânia, e captou grandes diferenças. Na terça-feira, às 17h (hora de Lisboa), a BBC World TV arrancava o seu boletim informativo com o relato de um ataque russo a uma torre de televisão em Kiev. Os russos, por sua vez, em simultâneo, ocupavam o tempo de antena com anúncios sobre ataques ucranianos nas suas próprias cidades. É esta a principal comparação que os britânicos utilizam para ilustrar as diferenças na forma como os dois ‘lados’ da guerra estão a relatar o conflito. Nesse mesmo boletim informativo orientado pelos meios de comunicação russos, é sugerido que as informações sobre a destruição de elementos militares russos são falsas, desenhadas para “enganar espetadores sem experiência”
“Imagens continuam a circular na internet que não podem ser descritas como algo que não falso”, continua o apresentador russo, citado pela BBC, exibindo fotografias que descreve como “manipulações virtuais pouco sofisticadas”.

Mais tarde, os ingleses sintonizaram a NTV, canal de televisão russo que é propriedade de uma subsidiária da Gazprom, a empresa estatal russa do setor energético. Nesse meio de comunicação, a programação incidia principalmente sobre os acontecimento na região de Donbass, deixando de fora dos relatos a caravana militar russa que se dirigia em direção a Kiev.

Nacionalistas Por entre os diferentes meios de comunicação russos, um elemento sobressai: quando se fala dos perigos que as populações ucranianas enfrentam, estes meios não apontam o dedo às tropas russas, mas sim a “nacionalistas ucranianos”, que, acusam os jornalistas do canal Rossiya 1, “utilizam civis como escudos humanos, colocando propositadamente sistemas de embate em áreas residenciais e aumentando os bombardeamentos de cidades na região de Donbass”.

Uma palavra está ausente dos relatos por parte dos meios de comunicação russos: guerra. Este é o termo proibido nestas peças jornalísticas. Em substituição, os russos referem-se a operações militares de desmilitarização, apontadas a estruturas militares na Ucrânia. Isso ou “missões especiais [militares] para defender as repúblicas populares [de Lugansk e Donetsk]”. Mais, nos seus relatos, os jornalistas russos fazem frequentemente comparações entre estas ‘missões’ na Ucrânia e as ações da União Soviética contra a Alemanha nazi.