Fórum para a Competitividade alerta para um “aumento da incerteza, subida da inflação e abrandamento do PIB”

Fórum para a Competitividade reconhece que as metas de crescimento vão ter de ser revistas. Também Bruxelas aconselhou Portugal a “cautela na despesa pública”, num dia em que o barril de petróleo ultrapassou os 100 dólares. 

“A invasão da Ucrânia pela Rússia veio gerar uma enorme perturbação mundial, e as suas consequências económicas mais evidentes deverão ser um elevado aumento da incerteza, subida da inflação e abrandamento do PIB [Produto Interno Bruto]. A maior dúvida é sobre a resposta dos bancos centrais, colocados perante um difícil dilema”. O alerta é dado pelo Fórum para a Competitividade. 

De acordo com a entidade liderada por Pedro Ferraz da Costa, um dos impactos previsíveis desta guerra é que a União Europeia se empenhe em aumentar a sua auto-suficiência energética, além de aumentar a diversificação de fontes de energia bem como a sua origem geográfica, para reduzir a dependência da Rússia. E defende que “Portugal tem condições de beneficiar desta evolução, quer na produção de energia de base renovável para exportação, quer como porta de entrada de gás liquefeito por Sines”.

Embora considere que esta guerra veio desatualizar a informação económica, admite que é importante conhecer o estado das economias antes, uma vez, que é sobre esta base que se aplicam as alterações. E lembra que, no início de fevereiro, a Comissão Europeia apresentou as suas previsões de Inverno, em que reviu em baixa ligeira o crescimento para 2022 (de 4,3% para 4%), com alteração simétrica para 2023 (de 2,4% para 2,7%), ou seja, antecipando algum atraso na retoma. Já em Portugal, em fevereiro, a inflação acelerou de 3,3% para 4,2%, enquanto a inflação subjacente passou de 2,4% para 3,2%.

Face a esse cenário, o comissário europeu da Economia aconselha Portugal a ter “cautela na despesa pública” e a apoiar os investimentos públicos, em altura de pressão económica devido às tensões geopolíticas causadas pela guerra na Ucrânia. “Penso que ter cautela na despesa pública e apoiar fortemente o investimento estratégico é o caminho a seguir e Portugal tem sido, nos últimos tempos, um bom exemplo deste ponto de vista”, disse Paolo Gentiloni à Lusa, chamando ainda a tenção para a “necessidade de concentrar os orçamentos em não aumentar as despesas correntes, mas sim apoiar os investimentos públicos, e isto parece-me particularmente importante para os países com uma dívida relativamente elevada”.

BCE alerta para pressões inflacionistas O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) advertiu hoje que a invasão da Ucrânia significará mais pressão sobre a inflação na Europa e menos crescimento económico para a região, que começava a recuperar dinamismo após a crise da pandemia.

Luis de Guindos disse ainda que a crise entre a Rússia e a Ucrânia mal está a ter qualquer impacto nos mercados financeiros ou a gerar tensões de liquidez, em parte porque a dimensão da economia russa é pequena, semelhante à da Espanha.

No entanto lembra que os bancos europeus, e os do resto do mundo, têm uma exposição muito limitada à Rússia. 
Esta garantia surge no mesmo dia em que a União Europeia concretizou a exclusão de sete bancos russos do sistema SWIFT – serviço que permite que as instituições financeiras troquem de forma rápida e eficiente as mensagens eletrónicas necessárias para levar a cabo transferências bancárias ou ordens de pagamento. 

A medida, a entrar em vigor a 12 de março, vai abranger os bancos VTB (o segundo maior banco russo), bem como o Banco Otkritie, o Novikombank (finanças industriais), o Promsvyazbank, o Rossiya Bank, o Sovcombank e o VEB (banco de desenvolvimento do regime), de acordo com a lista publicada. Ainda assim, cerca de um quarto do volume do sistema bancário russo é afetado por esta exclusão. Mas a Comissão está preparada para acrescentar outros bancos russos a curto prazo.

Para já, duas grandes instituições bancárias russas não são abrangidas por esta exclusão: o maior banco da Rússia, o Sberbank, e o Gazprombank, o braço financeiro do gigante dos hidrocarbonetos, através do qual é canalizada a maior parte dos pagamentos para as entregas de gás e petróleo russo à Europa e, como tal, alguns Estados-membros seriam muito afetados. 

Petróleo penalizado O preço do petróleo, entretanto, não pára de aumentar. Esta quarta-feira, o barril de Brent – que serve de referência para a venda internacional de crude – foi negociado nos mercados asiáticos acima dos 110 dólares por barril. 

O preço chegou aos 111,09 dólares na Ásia, o que representa uma subida na ordem dos 5,8%, para um valor que é o mais alto em sete anos. O valor de referência americano, West Texas Intermediate, subiu até 5,7% para 109,30 dólares. Números que já levaram os EUA e aliados a chegarem a um acordo para libertar 60 milhões de barris de petróleo de reservas estratégicas, na expectativa de pressionar os preços.

É preciso recuar a 2008 para encontrar valores ainda acima deste patamar. Uma situação que já tinha sido alertada pelas analistas contactados pelo nosso jornal ao garantirem que a formação dos preços dos combustíveis em Portugal “é semanal e é baseada nos cálculos que têm em conta a cotação do barril de petróleo nos mercados internacionais”. 
Também a Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO) já reconheceu que “tudo o que é instabilidade vai ter impacto na cotação do petróleo e como consequência no preço dos combustíveis”, afirmou António Comprido. 
Um comportamento contrário foi o do Presidente norte-americano ao garantir que os EUA irão libertar 30 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas, numa medida de curto prazo para reduzir o preço dos combustíveis e controlar a subida da inflação.

Face ao conflito, as petrolíferas têm vindo a anunciar a saída do território russo. Primeiro foi a britânica BP – que anunciou sair do capital da russa Rosneft, onde detinha uma participação de 19,75%, depois foi a norueguesa Equinor e da Shell que seguiu os mesmos passos – agora é a Galp a revelar que vai suspender a compra de produtos petrolíferos da Rússia que é o maior fornecedor mundial de gasóleo. A empresa admite que a medida vai ter impacto financeiro nas operações da única refinaria que a Galp opera, Sines, mas Paula Amorim diz que não vai financiar a guerra. 

Já o presidente executivo Andy Brown refere: “A invasão maciça da Ucrânia pela Rússia é um duro gole para o mundo livre. A nossa solidariedade vai para o povo ucraniano que está a sofrer esta agressão. Estamos a analisar formas de apoio da Galp aos esforços humanitários coletivos”.

China fica de fora Mas enquanto a maioria dos países se junta, a China não vai participar nas sanções e vai continuar as trocas a “nível económico, financeiro e comercial”, com “todas as partes”. A garantia foi dada pelo presidente da Comissão Reguladora de Bancos e Seguros (CBIRC) e o “número dois” do Banco Central chinês, Guo Shuqing. 
O responsável acrescentou que o país vai continuar a desempenhar um papel “construtivo” ao pressionar por uma resolução do conflito na Ucrânia, após a invasão russa, um termo que as autoridades chinesas evitam usar, e aponta o dedo às sanções que têm vindo a ser levadas a cabo. Um cenário que já tinha sido admitido pelos analistas contactados pelo i, lembrando que a Rússia continua a fechar acordos com a China com o objetivo de conseguir mitigar parte das consequências que resultaram das recentes sanções severas por parte dos líderes ocidentais.