Cartas e postais em vias de extinção

Nada de físico, portanto. Tudo começou há dias quando, ao folhear um jornal, me deparo com um artigo que falava, precisamente, das cartas e postais serem cada vez mais uma raridade. Os saudosos postais. Que ainda não há muitos anos serviam para comunicar.

Querida avó,                                                              

Todos ficam encantados quando olham para o nosso ‘Diário da avó e do neto’ e comentam: «Que raridade, escreverem cartas e postais».

Efetivamente, nos últimos anos, apenas recebo postais no Dia dos Namorados, no meu Aniversário, no Natal e nada mais a declarar. No entanto, tenho todos guardados e, pontualmente, gosto de os recordar.

Recentemente fui aos Correios. Uma jovem (da tua idade), falava, com muita graça, das saudades que sentia em receber cartas de namorados. Todas as que recebe, atualmente, são de contas para pagar, pois já “ninguém” escreve cartas.

Não sou capaz de deitar fora postais e cartas antigas. Fazem parte da minha história. Os jovens devem achar que somos do tempo dos dinossauros, mas efetivamente tenho bastante presente o tempo em que as cartas e os postais, para além do telefone, eram a única forma de comunicar à distância.

Alguém pede namoro por carta? Já não se enviam cartas, a dar os sentimentos, a quem perde um ente querido… São cada vez menos os que sabem o que era um telegrama ou um fax.

É verdade que o correio eletrónico veio facilitar-nos, muito, a vida. Mas quem guarda e-mails durante anos como fazíamos com as cartas?

Sei que tu costumas receber, e enviar, centenas de postais semanalmente. Sei que até tens um grupo de amigos, privilegiados, que recebem postais teus nos aniversários e natal.

Eu, a quem chamas “neto adotado”, ainda não faço parte desse grupo restrito que recebe postais teus escritos à mão. No entanto, mantenho a esperança que um dia isso venha a acontecer. No teu lugar, ia já comprar um lindo postal, da Ericeira, para enviares a este neto que tanto te ama.

Nem que seja para fazeres como o teu filho, que, aos 8 anos, de Coimbra, te enviou o famoso o postal onde constava: «Mãe, não tenho nada para dizer. Beijos». Mas, felizmente, tu tens sempre tanto para dizer!

Aguardo. Bjs

 

Querido neto,                                                             

Que belo tema decidiste abordar. Cartas e postais, algo que me é tão caro e me preenche grande parte do dia. Nestes últimos dias tenho-me sentido muito velha. Muito velha mesmo.

Podes ficar descansado, não tenho novas maleitas, não me doem as costas mais do que já doíam, não sinto mais dificuldade em acartar com a sacaria do supermercado, não oiço nem vejo pior do que até aqui, (como sabes, tenho uns óculos novos) e lembro-me do nome de todos os meus amigos.

Nada de físico, portanto. Tudo começou há dias quando, ao folhear um jornal, me deparo com um artigo que falava, precisamente, das cartas e postais serem cada vez mais uma raridade. Os saudosos postais. Que ainda não há muitos anos serviam para comunicar.

Ora eu pertenço àquela espécie em vias de extinção (ou se calhar já extinta, eu é que não dei por nada) que ainda dá um trabalhão dos diabos aos correios, onde toda a gente me trata como se fosse da família…

Mando e recebo, normalmente, uma média de cinco postais por dia. Mas há dias em que a safra até dá gosto ver…

Mando postais para todos os amigos quando estou fora, quando estou de férias, quando eles fazem anos (de idade, de casados, de namorados, de pais, de avós, etc, etc…), no dia do/a santo/a do seu nome, no Natal, na Páscoa, e, sobretudo, quando me apetece. E ai dos meus amigos e familiares que não façam o mesmo comigo.

E lá vou habituando a geração dos netos a fazer o mesmo. Claro que o e-mail foi uma grande invenção, como é que podíamos viver sem ele, sem a sua rapidez em mandar mensagens, ou informações, ou avisos, ou perguntas de que necessitamos respostas imediatas.

Mas não consegue criar estes laços que só o contacto físico com o papel consegue. São os amigos que estão mais perto de nós. Somos nós que estamos mais perto deles. Em breve irás receber um postal desta avó que tanto te ama.

Bjs