Ucranianos salvam a UE

Esta guerra de Putin serviu também para vermos a nível nacional a democraticidade do PCP e de como há tanta gente que é cúmplice desse saudosismo do império soviético. Os comunistas desmascaram-se sempre que está em causa esse passado glorioso, que ainda existe na cabeça dos dirigentes do PCP, sonhando com o regresso da Guerra…

Não é segredo para ninguém que a Europa se debate com o gravíssimo problema da falta de mão-de-obra, e agora surgem pedidos de asilo por parte de milhões de mulheres ucranianas. O que, convenhamos, e sem hipocrisias, vai facilitar a vida a esses países que as vão acolher. É expectável que muitos homens se juntem no futuro às mulheres que abandonaram a Ucrânia, trazendo consigo os filhos e os idosos. Como os ucranianos são um povo culto e instruído, na sua maioria, é natural que não venham a ter grandes dificuldades de adaptação, até porque, à semelhança do que se passou com a primeira leva de migrantes ucranianos para Portugal, na década de 90 e 2000, rapidamente aprenderam o idioma.

Nas escolas algarvias, por exemplo, há uns anos, no quadro de honra, os principais apelidos eram ucranianos. Chegaram a ser a segunda comunidade imigrante em Portugal e só começaram a voltar ao seu país quando Portugal entrou praticamente em bancarrota, devido aos devaneios de José Sócrates e companhia.

Agora vão voltar e não vão ter dificuldades em arranjar trabalho, tal é a falta de mão-de-obra em muitos setores.

Mas a propósito de trabalho e do drama causado pela invasão bárbara russa à Ucrânia, eis que em Lisboa se dá um caso emblemático, que ilustra bem o histerismo das redes sociais. Em Alcântara existe um restaurante russo aberto há 25 anos que foi tendo quase sempre um público fiel. Depois da pandemia aparece a guerra e a animosidade aos russos, tendo o restaurante sido obrigado a retirar todas as referências à pátria de Putin para não afastar clientes. O mais insólito da história é que não há trabalhadores russos no restaurante: apenas portugueses, também proprietários do negócio, e ucranianos! Que correm agora todos o risco de ir para o desemprego.

Já há uma semana que tinha sentido uma certa tensão entre ucranianos e restantes comunidades do leste, com especial incidência nos russos, na Feira do Relógio, onde semanalmente compro os legumes e fruta. E é contra esta animosidade que se deve lutar, pois que culpa têm os russos de serem governados por um ditador, antigo membro destacado da KGB, a polícia secreta, que matava ou deportava para a Sibéria os seus opositores? E será que os russos que fugiram à ditadura merecem ser tratados quase como criminosos? Não me parece.

Esta guerra de Putin serviu também para vermos a nível nacional a democraticidade do PCP e de como há tanta gente que é cúmplice desse saudosismo do império soviético. Os comunistas desmascaram-se sempre que está em causa esse passado glorioso, que ainda existe na cabeça dos dirigentes do PCP, sonhando com o regresso da Guerra Fria e com um oponente forte ao capitalismo americano e ocidental. Convivem bem em democracia, mas ambicionam o fim da propriedade privada, com a saída de Portugal da NATO e da União Europeia. É isto verdadeiramente o que desejam. Um Estado totalitário, onde uns decidem o que os outros podem fazer, ou em casos contrário haverá sempre colónias de reeducação.

Quem também não ficou nada bem neste filme foi o BE, que ganhou, seguramente, o prémio de A Melhor Pirueta, desde o 25 de Abril de 1974. Chegou mesmo a ser confrangedor ler o que diziam num dia e o que faziam noutro. Percebe-se que a ala mais trotskista também sonha com alguns dos ideais do PCP, como o fim da propriedade privada, a saída da NATO e por aí fora. Sempre contra o capitalismo e os seus apoiantes.

 

P. S. O que a Comunidade Europeia decidiu a propósito dos canais russos é totalmente inaceitável. Estes senhores ao censurarem os canais russos portaram-se ainda pior do que Putin nesta matéria da comunicação social. Quando a Europa copia o modelo de ditadores algo está mal no reino do velho continente. Mas, afinal, as pessoas só podem ver o que os apaniguados de Ursula von der Leyen decidem? Lamentável.

vitor.rainho@sol.pt