O PCP, o BE e os jornalistas cúmplices

O PCP quanto o BE sabem que esta imputação da responsabilidade da guerra à NATO é uma fantasia descabelada semelhante à de Putin quando chamou nazis e drogados aos ucranianos 

A principal diferença entre o PCP e o BE é a seguinte: os estalinistas são sinceros enquanto os trotskistas são hipócritas. E para quem tenha dúvidas que ambos defendem os mesmo valores antidemocráticos, recorde-se o voto contrário dos dois partidos quando a União Europeia equiparou o Nazismo ao Comunismo. Da Direita à Esquerda, todos os partidos democráticos europeus votaram a favor; todos os partidos comunistas votaram contra. O resto é espuma para enganar tolos.

Face à invasão russa da Ucrânia, o PCP foi coerente com o seu apoio ao antigo agente do KGB que pretende ressuscitar a União Soviética. Como tal, recusa-se a condenar o crime de Putin e atira a culpa ao imperialismo da NATO. A posição do PCP não mudou um milímetro desde que foi criado o Pacto de Varsóvia. Estão do lado das ditaduras e contra o Ocidente democrático.

O BE também foi coerente com o seu habitual discurso dúbio e hipócrita. Tendo percebido que a opinião pública condena a invasão russa, o BE também condena, mas… E o problema é esse mas: a culpa de estarem a morrer homens, mulheres e crianças ucranianas não é só da Rússia. Não senhor, a culpa é também da NATO, essa organização imperialista que só deseja a guerra. Não existisse a NATO, e a Rússia, em vez de invadir a Ucrânia, estaria a prestar-lhe auxílio humanitário.

Ora tanto o PCP quanto o BE sabem que esta imputação da responsabilidade da guerra à NATO é uma fantasia descabelada semelhante à de Putin quando chamou nazis e drogados aos ucranianos. A NATO é uma organização de países democráticos criada justamente para os defender do expansionismo russo. É graças à NATO que a Europa vive em liberdade – democracia burguesa para o PCP e o BE – até hoje. Equiparar a NATO à ditadura de Putin é um ato grotesco de má-fé.

Não admira também que face ao genocídio de Holodomor – quando a União Soviética retirou os cereais à Ucrânia deixando morrer à fome milhões de pessoas – o PCP negue que tal tenha acontecido e Francisco Louçã se permita fazer piadas na SIC-Notícias sobre esse crime contra a humanidade. Sim, é verdade que os comunistas nunca comeram criancinhas, mas forçaram as suas vítimas a fazê-lo – pelo menos na Ucrânia e na Coreia do Norte.

Entram agora em cena os jornalistas amigos destes partidos antidemocráticos que apoiam ditaduras como a Coreia do Norte, Cuba e a Venezuela. Esses mesmos jornalistas e comentadores que passam o tempo a falar de direitos humanos, liberdade, valores civilizacionais e linhas vermelhas – a piada do século. Do alto da sua superioridade moral, apontam o dedo aos inimigos da democracia como Trump, Bolsonaro e Ventura e decretam que quem os apoiar é um miserável fascista. Os seus princípios éticos, porém, eclipsam-se perante os crimes dos regimes comunistas: mais de um milhão de pessoas mortas à fome e canibalismo na Coreia do Norte enquanto o regime investe em armas nucleares; presos políticos, tortura, perseguição ao homossexuais, discriminação das mulheres, jornalistas censurados em Cuba e na Venezuela – e ei-los (as) a assobiar para o lado.

Porque é exatamente isso que acontece quando fazem de conta que o PCP é um partido democrático ou quando levam aos ombros o BE como grande defensor do humanismo. Gostaria de os ver, sim, a atirarem-se a estes apoiantes de ditaduras que espezinham os seus povos com a mesma ferocidade com que se têm atirado ao CHEGA. Gostaria de os ver perguntar aos dirigentes do PCP e do BE como podem dizer-se democráticos quando apoiam a ditadura cubana. Gostaria de ver editoriais inflamados a denunciar que os amigos das tiranias ou a tolerância com o terrorismo não têm lugar nas sociedades democráticas. 

Mas, da parte do jornalismo progressista, moderninho e caviar, não vi nada disso. Pelo contrário, só vi cumplicidade: o Muro de Berlim caíra com a ‘geringonça’ e agora, olarila, eram todos democráticos. Muito giro, até Putin lhes estragar a festa.

Irão finalmente traçar linhas vermelhas do lado esquerdo?

Ou seria preciso que fossem os portugueses a sofrerem os horrores que agora os ucranianos estão a sofrer para que os jornalistas cúmplices dos partidos antidemocráticos se dessem conta da sua duplicidade moral e falta de vergonha?