UE já recebeu tantos refugiados em 12 dias como nos anos de 2015 e 2016 juntos

Segundo a comissária dos Assuntos Internos das Nações Unidas, quase metade do total de 2 milhões de refugiados poderão ser crianças, sendo que muitas delas estão desacompanhadas. 

UE já recebeu tantos refugiados em 12 dias como nos anos de 2015 e 2016 juntos

A União Europeia (UE) acolheu nos últimos 12 dias, desde o primeiro dia de invasão russa à Ucrânia, cerca de dois milhões de refugiados, tantos quanto no conjunto dos anos de 2015 e 2016, informou, esta terça-feira, a comissária dos Assuntos Internos, Ylva Johansson.

Num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, acerca da deterioração da situação dos refugiados como consequência da agressão russa contra a Ucrânia, e imediatamente antes de apresentar um pacote de propostas hoje adotado pela Comissão em matéria de acolhimento de refugiados, Ylva Johansson adiantou que, desde o início da invasão russa, já entraram no espaço comunitário "o mesmo número de refugiados que a UE recebeu no cômputo de 2015 e 2016", período marcado por uma crise migratória.

A comissária especificou ainda que "mais de um milhão de refugiados entraram na Polónia, quase meio milhão na Roménia, 170 mil na Hungria e 130 mil na Eslováquia", sendo que "muitos dos que chegam vão rapidamente ter com familiares e amigos residentes em Estados-membros com maiores comunidades ucranianas".

Johansson disse ainda que, na semana passada, apenas "uma fração" – 80 mil – dos que chegaram, pediram asilo, uma vez que muitos deles têm familiares e amigos na UE. Contudo, alertou que a "situação pode mudar rapidamente, à medida que mais e mais pessoas fogem" da guerra.

"Os Estados-membros fizeram e estão a fazer um trabalho notável, a estabelecer e a implementar planos de contingência, a abrir novos pontos fronteiriços de travessia, e as autoridades locais estão a asseguram a receção dos refugiados e a prestar-lhes assistência médica, trabalhando lado a lado com voluntários e ONG" (organizações não-governamentais), realçou.

No entanto, alertou ainda, é preciso mais para proteger sobretudo as crianças, que poderão representar já nesta fase metade dos refugiados.

Admitindo que não se sabe ao certo quantas crianças já se refugiaram na UE, a comissária estimou que perto de metade dos 2 milhões de refugiados sejam crianças, sendo que muitas delas estão desacompanhadas, tornando-se assim muito vulneráveis e com um alto risco de serem vítimas de redes criminosas, designadamente para tráfico de seres humanos.

"É nosso dever proteger estas crianças. Temos de fazer ainda mais. Elas precisam do nosso apoio porque isto não vai acabar em breve. [Vladimir] Putin está a conduzir guerra sem contenção, sem remorsos, sem piedade. O pior está para vir. Milhões mais vão fugir e nós temos de os receber. É um grande teste, mas poderemos superá-lo se mantivermos a mesma solidariedade a que temos assistido até agora", concluiu.

Em entrevista à agencia Lusa, o diretor-geral da Organização Internacional das Migrações (OMI), António Vitorino, disse que "estes primeiros 12 dias ultrapassaram as perspetivas mais pessimistas" que existiam. 

O responsável das Nações Unidas adiantou ainda que o fluxo de refugiados, segundo a ONU, que já contabiliza mais de dois milhões de pessoas, "é a mais significativa vaga de refugiados, superior àquela que se verificou em 2015 com a chegada dos sírios, através da Grécia, aos países da Europa Central e superior, decerto àquela que se verificou no final dos anos 90 do século passado, com a guerra nos Balcãs e a desagregação da ex-Jugoslávia".

Também hoje, a ministra da Justiça e da Administração Interna, Francisca Van Dunem, garantiu que Portugal poderá receber dezenas de milhares de refugiados ucranianos com segurança e "sem risco de turbulência".

"Temos uma comunidade ucraniana grande em Portugal, que está perfeitamente instalada, integrada e estabilizada, muitas das pessoas que vêm para Portugal têm familiares ou amigos que já cá estão e que lhes darão apoio na primeira fase", afirmou Francisca Van Dunem.

Questionada sobre o número máximo que Portugal pode acolher, a ministra disse não ter ainda um número, frisando que o país está a trabalhar com a UE na repartição de quotas por países.